Sexta-feira, 13 de junho de 2025
Por Redação O Sul | 23 de janeiro de 2024
Em 2024, a morte de Marielle completa 6 anos.
Foto: Renan Olaz/Câmara Municipal do RioO acordo de delação premiada do ex-policial militar Ronnie Lessa, acusado de ser o autor dos disparos fatais contra a vereadora do Rio de Janeiro Marielle Franco (PSOL), não ocorreu do dia para a noite. Desde que a Polícia Federal (PF) assumiu o caso, em fevereiro do ano passado, os termos para que Lessa aceitasse revelar o mandante do crime já estavam em andamento.
No fim de 2023, o ex-PM decidiu assinar o acordo de colaboração premiada. Como a delação está no Superior Tribunal de Justiça (STJ), isso indica que quem mandou executar a parlamentar tem foro por prerrogativa de função.
Faltando menos de dois meses para o crime completar seis anos, no dia 14 de março, a delação de Lessa, pode fazer com que o caso, enfim, seja concluído.
Para que isso ocorra, as informações prestadas pelo ex-PM devem ser confirmadas pelos agentes federais do Grupo Especial de Investigações Sensíveis (Gise), grupo especializado na elucidação de casos complexos como a execução de Marielle e do motorista Anderson Gomes, ocorrido no Rio de Janeiro. Os investigadores têm que comprovar que as informações passadas pelo delator são verdadeiras.
Antes de Lessa, a Polícia Federal já havia obtido a delação de outro ex-PM, Élcio de Queiroz, que admitiu ter dirigir o carro utilizado na emboscada à vereadora.
Em seu acordo, Queiroz chegou a citar o nome do conselheiro do Tribunal de Contas do Estado (TCE) Domingos Brazão como tendo envolvimento na morte de Marielle. Como ele tem foro privilegiado, há uma possibilidade de Lessa ter mencionado o nome de Brazão. A delação está na mesa do ministro Raul Araújo, do STJ.
Brazão já havia sido investigado, antes da delação, pela Delegacia de Homicídios da Capital (DHC), pelo Grupo de Atuação Especial no Combate ao Crime Organizado (Gaeco) do Ministério Público do Rio e pela própria Polícia Federal, mas nada havia sido efetivamente provado contra ele.
A PF, nesse caso, tentou descobrir se a Polícia Civil do Rio foi diligente na apuração da primeira parte do caso Marielle, ação batizada de “investigação da investigação”. Em 2019, um relatório de 600 páginas foi produzido pelo delegado Leandro Almada, atualmente, superintendente da Polícia Federal do Rio.
Almada comprovou que houve uma farsa montada para incriminar o miliciano Orlando Oliveira de Araújo, o Orlando da Curicica, como executor, e o então vereador Marcello Siciliano (PHS), que chegaram a ser investigados pela execução da parlamentar.
O relatório apontou que o então policial militar Rodrigo Jorge Ferreira, o Ferreirinha, se apresentou como testemunha para criar uma versão falsa contra Curicica, que foi seu ex-chefe.
O objetivo era ficar com o território do miliciano. Coube a três delegados da Polícia Federal, que sequer estavam investigando o crime, apresentar Ferreirinha aos delegados da Polícia Civil. A farsa foi desmantelada. Ferreirinha respondeu por crime de obstrução à Justiça.