Domingo, 09 de novembro de 2025
Por Redação O Sul | 17 de fevereiro de 2024
A manifestação em apoio ao ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), convocada por ele próprio para o próximo dia 25 na avenida Paulista, em São Paulo, deverá reunir parlamentares aliados do ex-chefe do Executivo. Entre eles, o líder da bancada ruralista, deputado federal Pedro Lupion (PP-PR), e ex-ministros como Ricardo Salles (PL-SP) e Ciro Nogueira (PP-PI).
Dois objetivos norteiam a estratégia de convocar um ato unificado em sua defesa. Um deles é mostrar aos adversários e, em especial, aos ministros do Supremo Tribunal Federal (STF), que tem apoio suficiente para tornar sua prisão um fator de desestabilização no País. O outro é testar seus aliados às vésperas do período de definições da disputa eleitoral de 2026, pressionando-os publicamente a anunciar apoio. A estratégia é arriscada e, exatamente por isso, não teria sido utilizada se o ex-presidente não começasse a sentir o cheiro de prisão.
A apreensão de seu passaporte durante a última fase da operação é o sinal mais claro de que o cerco está se fechando e que, sim, o STF trabalha com a hipótese de prendê-lo e quer evitar uma eventual fuga. Ainda que o pensamento majoritário na Corte seja de que nenhuma decisão de prisão se dê antes de uma condenação com trânsito em julgado, o movimento autorizado por Alexandre de Moraes de apreender seu passaporte acende um alerta de que essa opção não está plenamente descartada.
É exatamente por isso que Bolsonaro quer fazer essa demonstração de força. A presença de muitos apoiadores nas ruas e de diversos políticos em seu palanque mandaria o recado de que uma condenação e prisão agora seria muito diferente da declaração de inelegibilidade aplicada pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) duas vezes no ano passado. Nas duas ocasiões em que a Corte se reuniu para tirar Bolsonaro das eleições de 2026, não houve qualquer ato público de apoio ao ex-presidente ou de contestação da decisão. O silêncio dos apoiadores deu ao Judiciário o indicativo de que não haveria qualquer tipo de convulsão social caso houvesse avanço sobre o ex-presidente.
Afastar risco de prisão
No raciocínio de Bolsonaro, portanto, mostrar força agora serviria para afastar a prisão. Mas é uma estratégia arriscada, entre outras coisas, pelo risco de não conseguir controlar o ato. Supondo que sua realização descambe em pressão explícita contra o Judiciário, inclusive nos discursos, ou em algum tipo de recado a ser repassado a testemunhas, poderiam ser configuradas hipóteses de prisão preventiva por embaraçar as investigações.
O pedido para que os manifestantes não levem faixas “contra quem quer que seja” tenta se blindar disso. Mas se a multidão enfurecida começar a pedir golpe ou ameaçar o STF, haverá uma linha tênue para a responsabilização do responsável por convocá-la. Além disso, Bolsonaro está proibido de se comunicar com outros investigados. Assim, se o discurso também tiver recados embutidos aos demais alvos da PF, gera uma ameaça jurídica a ele.
Teste com os aliados
Há ainda outro interesse no núcleo que cerca o ex-presidente na realização dos atos. Ele quer emparedar aliados, obrigando-os a colocarem-se publicamente ao seu lado na disputa que trava com o Judiciário. A Bolsonaro não basta apenas uma aliança eleitoral, que para um político inelegível interessa muito mais a quem receberá seu apoio do que a ele. Ele quer que todos aqueles com quem se vincula politicamente sejam seus sócios também nessa empreitada contra uma condenação no STF. A realização do ato em São Paulo, e não em Brasília, onde Bolsonaro reside, nem no Rio, seu reduto eleitoral, serve para constranger ainda mais duas figuras em especial: o governador Tarcísio de Freitas e o prefeito Ricardo Nunes.
Seu ex-ministro já confirmou que irá. Sobre Nunes, a pressão é ainda maior, já que pode levar a consequências mais imediatas. Bolsonaro quer essa demonstração pública de apoio justamente no momento antes do período de definição das candidaturas e alianças partidárias. Há aí uma ameaça implícita de novamente abandonar a pré-campanha do prefeito para insistir em um nome à direita que poderia machucar a votação do prefeito em um primeiro turno. Para Nunes, porém, ir a um evento em que Bolsonaro defende-se de tentar dar um golpe de Estado e diante de uma multidão que deve mostrar-se hostil ao STF, é uma imagem que não combina com o discurso de quem almeja apresentar-se ao eleitorado como um moderado de centro e com uma frente ampla de apoio.