Segunda-feira, 12 de maio de 2025
Por Redação O Sul | 17 de junho de 2017
Uma criança que não recebeu socorro durante uma grave crise convulsiva e acabou morrendo. Um idoso que teve o estado de saúde agravado após ser transportado numa ambulância sem receber o oxigênio que precisava. Uma mulher que, ao tentar fazer uma tomografia computadorizada, foi agredida dentro de um hospital. Uma senhora que, com um fêmur fraturado, ouviu palavrões e teve de aguardar a médica fumar um cigarro antes de ser colocada numa maca. Os quatro casos tiveram, em comum, o envolvimento da clínica geral e anestesista Haydee Marques da Silva, de 59 anos, profissional que se recusou a atender o pequeno Breno Rodrigues Duarte da Silva, de 1 anos e 6 meses, na manhã do dia 7. Quando chegou de ambulância ao condomínio onde o menino morava, no Recreio, ela se recusou a sair do veículo. Breno, que tinha uma doença neurológica, morreu uma hora e meia depois, esperando socorro.
O último episódio trouxe à tona um histórico de irregularidades no currículo da médica. Após a divulgação do caso, pelo menos duas pessoas procuraram a polícia, ontem, para denunciar a médica. Haydee já tinha uma anotação criminal por agressão a uma paciente, em 2010, no Hospital Memorial Engenho de Dentro. Questionado, o Conselho Regional de Medicina (Cremerj) informou apenas que já houve uma sindicância contra a profissional e que foi imposta a ela uma sanção técnica. O Cremerj não quis fornecer estatísticas sobre a quantidade de médicos que cometeram irregularidades com pacientes nos últimos anos e as eventuais sanções que sofreram.
A auxiliar administrativa Vanessa Ribeiro Martins, de 33 anos, chegou na sexta-feira à 16ª DP (Barra da Tijuca) em busca de justiça para um caso ocorrido em julho de 2016. O pai dela, Leonel Martins, de 62, morador de Campo Grande, era paciente de esclerose lateral amiotrófica e respirava com ajuda de aparelhos. Ele precisou ser levado de ambulância até um hospital para um exame de ultrassonografia. Na ocasião, o atendimento também foi feito por uma ambulância da empresa Cuidar Emergências Médicas, cuja equipe contava com Haydee.
“Quando ela tirou meu pai da cama para colocá-lo numa maca, perguntei “cadê o oxigênio?”. Ela falou que não precisava porque era rapidinho, o trajeto seria curto. Levaram meu pai apenas com o respirador. Quando chegou ao portão de casa, ele já estava sem ar. Ficou 12 minutos sem oxigênio no cérebro”, conta Vanessa.
Por causa da falta de oxigênio, Leonel teve lesões cerebrais, precisou ser internado e morreu um mês depois.
Outro caso que veio à tona revela uma situação vivida em fevereiro deste ano por uma moradora do Leblon. Após sofrer uma queda e fraturar um fêmur, uma idosa acionou o serviço de emergência do Hospital Silvestre. Momentos depois, chegou a ambulância. Na ocasião, a anestesista fez o atendimento sem o tradicional jaleco, usando um vestido comum. Dirigiu-se de modo grosseiro a uma cuidadora e à neta da idosa, ordenando que ajudassem o motorista da ambulância a colocar a paciente na maca. Ao ouvir da cuidadora que a médica recebia para isso, Haydee teria retrucado: “Imagine se eu fosse retirar todos os pacientes da maca, minha coluna não iria aguentar”. Quando a neta tentou argumentar, a anestesista teria respondido com um palavrão, e, só depois de se afastar para fumar um cigarro, deu continuidade ao atendimento da paciente.
O caso que parou na Justiça em 2010 foi registrado na 26ª DP (Todos os Santos). A anestesista foi abordada por uma paciente que queria fazer uma tomografia computadorizada na cabeça, no Hospital Memorial Engenho de Dentro. O pedido foi negado pela profissional, dando sequência a discussões e agressões físicas.
“A paciente se exaltou e a médica, indignada, começou a agredi-la, chegando a arranhar a vítima. O caso foi encaminhado ao Ministério Público, e foi oferecido a ela uma transação penal, ou seja, uma pena alternativa. No entanto, ela não cumpriu as medidas impostas pela lei. O processo acabou prescrevendo pelo tempo decorrido”, lembra Isabelle Conti, delegada assistente da 16ª DP, que conduz a investigação sobre a morte de Breno. (Pedro Zuazo/AG)