Terça-feira, 25 de novembro de 2025
Por Redação O Sul | 1 de setembro de 2017
Um grupo de médicos do Hospital Erasto Gaertner, de Curitiba, desenvolveu uma técnica de cirurgia que pode aumentar a fertilidade de mulheres vítimas de câncer na região uterina. Em condições normais, sem o procedimento, as mulheres ficavam estéreis, depois de passarem pelo tratamento de radioterapia. Agora, elas podem planejar uma gravidez, após vencerem a doença.
A equipe é chefiada pelo médico Reitan Ribeiro. O procedimento consiste em trocar o lugar do útero, enquanto as pacientes são submetidas à radioterapia. O órgão, junto com os ovários, é transferido para o abdômen. Nesse período, a menstruação é feita pelo umbigo.
Depois de finalizado o tratamento contra o câncer, as pacientes são submetidas a um novo procedimento, que recoloca o útero e o ovário no lugar, possibilitando a gravidez.
“Era impossível preservar a função do útero e do ovário dessas pacientes. Então, a gente tem alguns procedimentos que a gente faz em oncologia para tentar preservar a fertilidade e a função dos ovários. A ideia foi juntar esses procedimentos e criar uma cirurgia nova”, explica Ribeiro.
A primeira paciente a ser submetida à técnica foi Francielle Boarão, que tinha 26 anos quando fez a cirurgia, em 2015. Ela conta que os médicos lhe prometeram 60% de chances de ser mãe, após o término do procedimento. Depois de dois anos, já com os órgãos recolocados no lugar certo, ela já pode se preparar para engravidar.
A segunda paciente foi Elaine de Almeida Parisotto, que mora nos Estados Unidos. Ela estava de férias em Curitiba, quando decidiu fazer alguns exames de rotina e descobriu ser vítima de câncer. Ela diz que foi um privilégio estar diante da única equipe do mundo que realizava o procedimento. “Eu estou muito confiante e me sinto muito abençoada por tudo que está acontecendo”, diz.
Com a repercussão da técnica, especialistas de várias partes do mundo têm ido ao hospital para aprenderem o procedimento. RIbeiro diz que isso lhe motiva a sonhar. “[Sonho] em ver uma delas grávida e ver muita gente fazendo pelo mundo afora a cirurgia. Esse é o grande sonho”, afirma.
Quem quiser se submeter ao procedimento pode procurar o Hospital Erasto Gaertner em Curitiba. As pacientes serão avaliadas para que se possa identificar se estão aptas à cirurgia.
Infertilidade masculina ainda é tabu
Quando o casal decide ter um filho, o mais comum é que a mulher vá ao ginecologista para receber orientações sobre a pausa nos métodos contraceptivos e dicas sobre os hábitos que podem ajudar na fertilização. Giuliano Bedoschi, especialista em reprodução humana, confirma que a participação do homem no processo de preparação para a gravidez costuma ser menor, mesmo quando o casal percebe dificuldade de engravidar. “A mulher para de beber durante a gravidez, mas tem marido que vai acompanhar o ultrassom e fica fumando lá fora”, lamenta o médico. “Infelizmente ainda é bastante comum atender pacientes sozinhas”.
O assunto é tabu entre muitos homens, apesar de eles serem os responsáveis em 30% a 40% dos casais que têm dificuldade para engravidar. Besochi informa que a infertilidade feminina é responsável por outros 30% a 40% dos casos de casais que procuram ajuda especializada e, nos restantes, os dois apresentam questões que impedem a gravidez. Ir ao médico junto com a mulher ou mesmo marcar uma consulta sozinho com um urologista pode ajudar a melhorar esse quadro, explica o especialista.
“Entre os fatores que podemos listar como causadores da infertilidade, principalmente nos últimos anos, estão o estresse, a poluição e os vilões de sempre: a obesidade, o álcool e o tabagismo.” Bedoschi explica que, em alguns casos, é preciso apenas três meses para que a mudança desses hábitos tenha efeito na taxa de fertilidade.
Mesmo assim, vale ressaltar que manter um estilo de vida saudável durante toda a vida tem efeitos mais garantidos. Um estudo publicado em julho deste ano na Human Reproduction Update, revista da Sociedade Europeia de Reprodução Humana e Embriologia, aponta que a concentração de espermatozoides caiu de 50% a 60% em um intervalo de menos de 40 anos (entre 1973 e 2011) nos homens da América do Norte, Europa, Austrália e Nova Zelândia, onde o estudo foi conduzido. Obesidade, sedentarismo, tabagismo e consumo de álcool estão entre as possíveis causas da mudança.
Além do estilo de vida, outras questões que costumam interferir na infertilidade dos homens são infecções, como clamídia e gonorreia, traumas físicos nos testículos ou regiões muito próximas, ejaculação retrógrada – quando o sêmen é lançado para a bexiga –, azoospermia – ausência de espermatozóide no sêmen – e a varicocele. (AG/AE)