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Por Redação O Sul | 11 de agosto de 2018
Seguir aquela recomendação básica de se exercitar por pelo menos meia hora por dia durante cinco dias na semana poderia prevenir pelo menos 2.250 casos de câncer de mama e de cólon no País. Se a atividade física fosse feita no nível que provavelmente o ser humano tinha quando vivia em sociedades caçadoras e coletoras, com cerca de 5 horas de exercícios diários, o potencial de prevenção poderia ser de até 10 mil casos.
As contas, feitas por um grupo de pesquisadores das universidades de São Paulo (USP), Federal de Pelotas, de Cambridge (Reino Unido), de Queensland (Austrália) e Harvard, foram publicadas neste mês na revista científica Cancer Epidemiology.
A ideia foi cruzar o conhecimento consistente que já existia de outros estudos científicos – que mostram os benefícios da atividade física na proteção contra esses dois tipos de cânceres –, com a incidência dessas doenças no Brasil e com a taxa de exercícios praticados pelos brasileiros. O dado sobre a atividade física vem da PNS (Pesquisa Nacional de Saúde) divulgada pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) em 2013. Segundo o trabalho, cerca de metade da população (47,6%) não atinge nem sequer os 150 minutos semanais de exercícios recomendados pela OMS (Organização Mundial de Saúde). Entre as mulheres, a situação é pior (50,7%) que entre os homens (44,2%).
Os dados de câncer foram extraídos da OMS e do Inca (Instituto Nacional do Câncer). O câncer de mama é o mais comum entre mulheres no Brasil e no mundo. Por aqui, responde por 28% dos casos novos a cada ano. Para 2018, é estimado o surgimento de 60 mil registros. Para o câncer de cólon, a estimativa é de 36 mil novos casos.
Cenário ideal
“A literatura científica já traz um bom entendimento sobre os benefícios, mas não sabíamos ainda o impacto que isso teria no Brasil”, afirma Leandro Rezende, doutorando em Epidemiologia na Faculdade de Medicina da USP e primeiro autor de artigo. “A ideia foi comparar a carga de câncer atual registrada no Brasil com a que seria observada se a população tivesse um nível de atividade física ideal para a prevenção do câncer.”
Esse ideal, porém, admite o próprio pesquisador, é um número que assusta. Seriam necessárias 5 horas de atividade física diária para alcançar o máximo possível de prevenção – ou os 10 mil casos a menos, o que corresponde a 2,4% do total de registros de câncer hoje no País.
“Falamos isso dentro de um cenário teórico ideal. O objetivo da pesquisa não é dizer que tem de fazer isso, ainda mais considerando a vida de escritório nas cidades. A PNS mesmo mostrou que só cerca de 6% da população atinge isso hoje. É o que faz quem trabalha com atividades ocupacionais e caminha o dia inteiro, por exemplo, ou alguns atletas”, diz.
“Para efeitos de prevenção ao câncer, é como se ninguém fumasse, não tomasse álcool ou tivesse dieta perfeitamente saudável. É um cálculo sobre o quanto seria possível evitar, em termos de prevenção de câncer, quanto a gente conseguiria evitar”, complementa.
Queda
Em outra maneira de apresentar os dados, é possível dizer que 12% dos casos de câncer de mama pós-menopausa e 19% dos de câncer de cólon são atribuíveis à falta de atividade física no País. Com os 150 minutos de exercício por semana recomendados pela OMS, seria possível prevenir 1,3% dos registros de câncer de mama e 6% dos de cólon. À medida em que se aumenta a atividade física, os casos vão caindo mais.
Perder peso é fator-chave
O grupo que publicou o trabalho sobre exercícios físicos investigou também como a perda de peso pode reduzir a incidência de câncer no País. Artigo de abril apontou que poderiam ser evitados ao menos 15 mil casos por ano.
Os ganhos da atividade física contra a doença ocorrem, em boa parte, por promover perda de peso e de adiposidade. “Reduz inflamações, resistência à insulina, melhora o sistema imune e também reduz os níveis de alguns hormônios sexuais relacionados com cânceres”, explica o pesquisador Leandro Rezende.
A obesidade sozinha está associada a 13 tipos de cânceres (mama pós-menopausa, cólon, útero, vesícula biliar, rim, fígado, mieloma múltiplo, esôfago, ovário, pâncreas, próstata, estômago e tireoide).
Novos estudos vêm sendo feitos para checar os benefícios das atividades físicas também para essas outras doenças – trabalho que não é simples, porque envolve acompanhar grandes grupos por longo tempo. Mama e cólon são mais fáceis porque são os mais comuns. “No limite, a gente espera que, se a atividade física consegue reduzir peso e adiposidade, talvez possa ter efeito nos os 13 tipos”, diz Rezende.