Quarta-feira, 24 de abril de 2024
Por Redação O Sul | 22 de setembro de 2018
Oito em cada dez alunos que ingressaram no ensino superior no fim da década de 1990 se formaram em um horizonte de 4 a 6 anos, compatível com a duração média dos cursos do País. Uma série de problemas, no entanto, tornou esse desempenho insustentável, derrubando a taxa de conclusão no prazo esperado para pouco menos de 50% desde o início da década atual.
“De cada dois estudantes universitários, só um tem conseguido se formar num tempo razoável, o que é preocupante”, diz o pesquisador Renato Pedrosa, da Unicamp, que fez o cálculo com base em dados do Ministério da Educação.
Nas universidades federais, o percentual de formaturas após uma média de cinco anos de curso recuou de cerca de 80% no início dos anos 2000 para 47,7%, entre 2015 e 2017 -a menor fatia entre os diferentes tipos de instituições, abaixo dos 48,2% registrados pelas faculdades privadas.
Segundo Pedrosa, essas taxas são baixas para padrões internacionais. No Reino Unido, diz ele, o número geral mais recente era 79%. “A maior parte dos países tem índices próximos a esse, que era o patamar do Brasil para as turmas que ingressaram no fim dos anos 1990”, diz o pesquisador.
Uma combinação entre evasão, trancamentos e adiamento das formaturas provavelmente explica o cenário brasileiro. Algumas dessas hipóteses, por sua vez, estão relacionadas a problemas que ameaçam estender a atual fase de progresso lento do ensino superior. O mais evidente deles é a crise econômica.
O desemprego ainda elevado e a expansão da ocupação apenas no setor informal têm contribuído para uma freada no processo de avanço que o ensino superior vivia desde o fim dos anos 1990.
Entre 1994 e 2014, os ingressos nas universidades cresceram a uma média de 10% ao ano, saltando de 463 mil para 3,1 milhões. Em 2015, houve recuo de 6%. Nos últimos dois anos, o número voltou a crescer, mas em ritmo mais lento.
Em 2017, as matrículas ativas atingiram pouco mais de 8 milhões. Já os trancamentos aumentaram 66% entre 2011 e 2016 e têm superado a quantidade de formaturas.
Essas tendências são verificadas tanto no setor público como no privado. A exceção são os cursos à distância que continuam crescendo e já somam mais de 30% do total de ingressos, provavelmente por representarem uma opção mais flexível e barata.
Até então, o acesso a instituições particulares era alavancado pelo Fies, modalidade de crédito estudantil que teve forte expansão entre os anos de 2010 e 2014, à base de subsídios públicos.
Beneficiados por condições muito favoráveis, em que o risco de inadimplência nos financiamentos era arcado principalmente pelo governo federal, grupos de ensino privados saíram à caça de alunos.
Houve outras iniciativas para ampliar e facilitar o ensino superior no País, como a criação de instituições gratuitas, o aumento de vagas em universidades públicas no período noturno, o lançamento do Prouni – que concede bolsas para alunos de baixa renda em faculdades privadas- e a ampliação de ações afirmativas, como cotas e bônus.
A oferta foi bem recebida pela população carente de qualificação avançada. Em 2007, a parcela dos brasileiros de 25 a 34 anos com diploma universitário era de apenas 10%, perdendo somente para a Indonésia (8%), entre 37 países para os quais a OCDE (Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico) tinha dados.
Em dez anos, esse percentual saltou para 17%, permanecendo baixo, porém, para padrões internacionais. A média do indicador nas nações que participam da OCDE era 44% em 2017.
A dúvida agora é se o ritmo de aumento da população mais qualificada é sustentável. A demora na conclusão dos cursos universitários indica que uma parcela grande de alunos pode estar desistindo de se formar.
A crise contribui para isso ao criar dificuldades como a falta de recursos para pagar mensalidades ou menor disponibilidade de tempo para o estudo em horários flexíveis.
Uma parte significativa dos novos alunos universitários nos últimos anos é formada por adultos que voltaram a estudar. Isso é percebido ao se comparar o número de concluintes do ensino médio com o de ingressantes no superior.
Desde 2006, o segundo indicador tem superado o primeiro e a diferença entre os dois vem apresentando aumento constantemente.
“O prêmio salarial pelo ensino superior no Brasil ainda é muito alto. Isso ajuda a explicar a busca por essa formação também por parte dos adultos que já terminaram a escola há mais tempo”, afirma Naercio Menezes Filho, professor do Insper.
No entanto, nem todo o diploma conquistado nos últimos anos levou à rápida inserção em uma área compatível com a formação adquirida e, em muitos casos, nem mesmo garantiu emprego formal.