Quinta-feira, 25 de setembro de 2025
Por Redação O Sul | 26 de agosto de 2020
O testemunho de uma mulher apontou detalhes do que seria uma primeira emboscada contra o pastor Anderson do Carmo, marido da deputada Flordelis (PSD) assassinado em Niterói (RJ) em 2019. A troca de carro pelo pastor ao deixar a igreja, cerca de três meses antes, confundiu o homem que estava lá para matar o líder religioso, que já desconfiava da existência de planos para eliminá-lo.
Segundo a testemunha, o assassino-de-aluguel recebeu R$ 2 mil para praticar o crime. Anderson escapou na primeira tentativa e resistiu ao menos seis envenenamentos, mas morreu em outra emboscada, com mais de 20 tiros, em 16 de junho de 2019, na porta de casa em Pendotiba, na Região Metropolita do Rio.
“Um dia a gente estava na igreja. Flordelis ficou muito nervosa. Tinha um rapaz lá fora a mando de Rayane (Rayane dos Santos Oliveira, neta de Flordelis) e falava que ia matar Rayane se não desse R$ 2 mil para ele. A Flor arranjou R$ 2 mil. Segundo esse boato era para matar o pastor. E ele falou: eu mato essa noite”, contou.
Ainda segundo ela, o rapaz ficou do lado de fora da igreja frequentada pela família de Flordelis, em São Gonçalo. E não saiu de lá mesmo com o pagamento. Os investigadores e a testemunha consideram que o pastor pode ter sido salvo porque trocou de veículo para deixar o local. Naquela noite, seu carro enguiçou e o pastor teve que deixar a igreja em outro carro.
“E o homem ficou lá do lado de fora esperando. E o pastor saiu depois. O carro do pastor estava com problema e ele saiu com outro carro e o filho dele. Aí, o cara não viu”, explicou. Ela acrescentou que o dinheiro foi entregue ao homem por André Luiz de Oliveira, um dos filho adotivos de Anderson e Flordelis.
André foi preso na segunda-feira (24) por policiais da Delegacia de Homicídios e promotores do Ministério Público Estadual do Rio de Janeiro. Ao todo, oito pessoas foram presas, sendo cinco filhos e uma neta, um policial militar e a mulher do PM.
Pastor desconfiava de planos
O pastor Anderson do Carmo desconfiava da existência de planos familiares para tentar matá-lo, concluiu a Polícia Civil fluminense. Antes do assassinato, houve ao menos oito tentativas frustradas, seis delas por envenenamento com arsênico ou cianeto. A família tentou ainda forjar dois latrocínios – roubo seguido de morte –, que acabaram não sendo levados adiante pela quadrilha.
Com as tentativas frustradas de envenenamento com arsênico, duas filhas adotivas do casal, Marzy e Simone (presas na operação desta segunda), teriam passado a fazer buscas na internet e compraram cianeto.
“Ele foi várias vezes levado ao hospital por sintomas que, mais tarde, foram identificados como característicos de envenenamento por arsênico. Isso em março de 2018. Depois de um tempo ele passou a ter mais cuidado”, afirmou o promotor Sérgio Luis Lopes Pereira, do Gaeco (Grupo de Atuação Especializada e Combate ao Crime Organizado).
Ainda segundo o MP-RJ, como o pastor teria começado a desconfiar, a partir de abril de 2019 os familiares passaram a planejar a execução a tiros. “Quando foi em março ou abril de 2019, apareceu no IPad dele, escrito por Marzy, incitando Lucas a matar o pastor por R$ 10 mil. E de alguma forma, acredito que por sincronização, essa mensagem apareceu no tablet do pastor”, explicou o promotor.
Uma testemunha importante, segundo Sérgio, teria avisado a Anderson que o texto não parecia ser de autoria de Marzy, e, sim, de autoria de Flordelis. “Ele, pelo jeito, não acreditou”, finaliza o investigador.