Sábado, 07 de junho de 2025
Por Redação O Sul | 31 de outubro de 2017
As primeiras acusações da investigação independente sobre a influência russa nas eleições americanas atingiram em cheio o entorno de Donald Trump, mudam o patamar do caso e podem paralisar o governo. Embora até agora o procurador especial Robert Mueller não tenha apresentado provas de conluio da campanha com a interferência ilegal de Moscou, sua ação contra Paul Manafort, ex-chefe da campanha de Trump, e outras duas pessoas indicam que a apuração é abrangente e, de imediato, piora o clima político em Washington. O fato de um assessor ter confessado que mentiu sobre um encontro com russos também causa problemas políticos para Trump.
Manafort e seu sócio, Rick Gates — que também trabalhou para a campanha, ajudando a organizar sua posse em janeiro — foram indiciados pelo grande júri do caso (que decide, com base em evidência, a validade do indiciamento) por atos anteriores à campanha. Ambos, que se entregaram segunda-feira pela manhã ao FBI, foram acusados por 12 crimes, incluindo falso testemunho, conspiração contra os EUA (quando se impede a atuação do governo), lavagem de dinheiro, fraude fiscal e financeira e omissão de trabalho como agente de governo estrangeiro — no caso, a Ucrânia, quando o país era alinhado a Vladimir Putin.
Em julho, agentes do FBI fizeram operações de busca na casa de Manafort, que terá que pagar fiança de US$ 10 milhões (R$ 32,8 milhões) para sair de sua prisão domiciliar.
A Casa Branca — e o próprio Trump — fizeram questão de tentar se distanciar da questão: “Desculpe, mas isso foi há anos, antes que Paul Manafort fizesse parte da minha campanha. Por que a trapaceira Hillary e os Democratas não são o foco?”, questionou o presidente no Twitter. “Não há conluio!”.
Especialistas, no entanto, lembram que Manafort entrou na campanha em março do ano passado, quando sua ligação com a Ucrânia pró-Putin era conhecida. Na CNN, Paul Callan destacou que “ou Trump julgou que isso era irrelevante, ou não pesquisou a fundo o passado do homem que chefiou a sua campanha” até agosto, quando foi noticiado que ele recebera US$ 12 milhões de Viktor Yanukovich, ex-presidente ucraniano. E, mesmo depois disso, Trump manteve Gates na campanha.
Além disso, o indiciamento indica que Mueller está investigando mais que a influência russa em si, o que pode atingir a vida do presidente antes de entrar na política — e há em Washington muita especulação de que suas empresas poderiam trazer problemas ao presidente.
Em outro episódio, o ex-assessor de política externa da campanha George Papadopoulos declarou-se culpado por ter mentido ao FBI em depoimento sobre o caso. O advogado se reuniu com um acadêmico próximo às autoridades russas, para tratar de “sujeira” contra a então candidata Hillary Clinton, envolvida no escândalos do uso de um servidor privado de e-mail quando era secretária de Estado. “Através de suas falsas declarações e omissões, o acusado Papadopoulos impediu a investigação em curso sobre a existência de vínculos ou coordenação entre indivíduos associados com a campanha, e os esforços do governo russo para interferir nas eleições presidenciais de 2016”, indica a acusação de 5 de outubro, tornada pública.