Quinta-feira, 31 de outubro de 2024
Por Redação O Sul | 3 de maio de 2019
Uma intervenção na Venezuela é rejeitada por militares americanos. No alto da primeira página do New York Times de quinta, edição impressa, “Pressão aumenta após fracasso na Venezuela”. A pressão no caso é sobre o secretário de Estado, Mike Pompeo, e principalmente o assessor de Segurança Nacional, John Bolton.
A decisão dos militares venezuelanos de ficar ao lado de Nicolás Maduro “levantou questões sobre se os assessores de Donald Trump foram vítimas de uma leitura equivocada dos acontecimentos e se Trump pode perder fé no esforço” no país.
Pompeo e Bolton estariam isolados. “A avaliação da CIA é que Cuba está muito menos envolvida do que creem altos funcionários do governo.” Também em oposição aos dois, “funcionários do Pentágono minimizam possibilidade de intervenção”.
E no alto da primeira página do Washington Post, “‘Plano completo’ para derrubar Maduro desmorona”. A reportagem se concentra no assessor de Segurança Nacional.
Afirma que, “ao pressionar por política mais agressiva, Bolton enfureceu alguns dentro e fora da Casa Branca” e que Trump já “ponderou a terceiros que Bolton quer levá-lo a entrar em guerra”.
O jornal relata como o vice-presidente do Estado-Maior das Forças Armadas dos EUA, ao ser pressionado durante reunião pela equipe de Bolton, por planos de intervenção, “bateu a mão na mesa, seu anel atingindo a madeira com um estalo agudo”.
Sem socialismo
Com chamada no Drudge Report, a Associated Press despachou que Trump pode estar perdendo outro estímulo para o esforço na Venezuela. Ele vinha usando o “socialismo” chavista contra os democratas, mas, no título, “Ascensão de Joe Biden testa plano de tachar adversários como socialistas”.
Biden é moderado demais. Trump já “disparou mais de 50 tuítes contra” ele sem achar o novo tom.
Trump mira na Venezuela, mas o alvo é a eleição de 2020 nos EUA
A principal teoria da conspiração de quem ainda defende o chavismo no Brasil é que o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, estaria promovendo uma mudança de regime na Venezuela para impedir o acesso da Rússia ao petróleo do país.
É claro que o petróleo continua sendo um recurso natural importante, mas esse pessoal parece parado na Guerra Fria ou, sendo mais benevolente, no fim do século passado, quando os EUA atacaram o Iraque por causa do óleo.
Todavia também está longe da realidade o pensamento quase inocente da direita de que Trump é um altruísta que deseja livrar os venezuelanos de Nicolas Maduro. Em que pese que o ditador está levando seu país a ruína, não é só isso que o mandatário americano quer.
Trump mira na Venezuela, mas seu alvo é o apoio da Flórida nas eleições presidenciais de 2020. A Florida é o maior dos “swing states”, carregando 29 votos no colégio eleitoral que elege o presidente dos Estados Unidos.
Até agora, as pesquisas vêm indicando uma liderança sólida de Trump no estado. Nas eleições de 2016, ele venceu Hillary Clinton por estreita margem –49% contra 47,8% dos votos– mas vem ganhando cada vez mais espaço.
O republicano sobe impulsionado por uma população branca e rica, formada pela comunidade de refugiados cubanos e venezuelanos, para os quais um dos temas mais importantes hoje é exatamente a situação da Venezuela. Não é à toa que um das figuras políticas mais ativas no processo seja o senador Marco Rubio.
“Trump está de olho nos votos da Flórida em 2020, mas ele quer derrubar Maduro ao custo mais baixo possível”, diz Rubens Ricupero, um dos mais brilhantes diplomatas brasileiros. Ele explica que é por isso que os EUA vêm criando situações de conflito, a fim de minar o apoio dos militares a Maduro.
Até agora já foram três episódios: o reconhecimento do oposicionista Juan Guaidó como presidente em exercício da Venezuela, a tentativa frustrada de entrega de ajuda humanitária pelas fronteiras de Brasil e Colômbia e agora o chamado para que a população fosse às ruas.
As Forças Armadas da Venezuela, contudo, se mantêm firmes em apoio ao ditador, seja por terem sido cooptadas com cargos e altos salários ou por questões ideológicas, já que muitos generais venezuelanos foram formados em Cuba. As informações são do jornal Folha de S. Paulo.