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Colunistas Minerais críticos e inteligência artificial: plano nacional urgente

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A inteligência artificial pode reduzir custos de prospecção e aumentar a eficiência da cadeia

Foto: Divulgação
A inteligência artificial pode reduzir custos de prospecção e aumentar a eficiência da cadeia. (Foto: Divulgação)

Esta coluna reflete a opinião de quem a assina e não do Jornal O Sul. O Jornal O Sul adota os princípios editoriais de pluralismo, apartidarismo, jornalismo crítico e independência.

O Brasil tem vantagens minerais que o colocam em posição estratégica para a economia digital. A tragédia de Brumadinho lembra que a exploração sem controle humano e tecnológico custa vidas e confiança pública. Em Brumadinho, 270 pessoas morreram, e as buscas por desaparecidos seguem anos depois, o que exige que qualquer plano nacional incorpore prevenção e reparação como prioridades.

A descoberta e o desenvolvimento do lítio no país atraíram investimentos privados e públicos que já somam bilhões. Relatos de mercado apontam que projetos em Minas Gerais e em outras regiões mobilizaram mais de R$ 5 bilhões em anúncios iniciais, e que o governo federal anunciou aporte de R$ 5 bilhões para o desenvolvimento de minerais estratégicos em 2025.

O Ministério de Minas e Energia (MME) também regulamentou instrumentos para captar recursos via debêntures incentivadas, com expectativa de atrair cerca de R$ 5,2 bilhões por ano para a transformação mineral.

Do ponto de vista técnico, a inteligência artificial pode reduzir custos de prospecção e aumentar a eficiência da cadeia. Modelos de aprendizado de máquina integrados a sensoriamento remoto e dados geofísicos permitem identificar depósitos com maior precisão e planejar lavras com menor impacto. Relatórios internacionais apontam que a demanda por minerais críticos cresce com a transição energética e que países com estratégia integrada terão vantagem competitiva.

Unir IA, padrões de dados e políticas públicas é condição para transformar minerais em desenvolvimento sustentável. Para que a tecnologia gere benefícios reais ao cidadão, é imprescindível que os dados estejam sob controle do governo. Isso significa estabelecer padrões técnicos de interoperabilidade, repositórios públicos e governança de dados que garantam qualidade, segurança e acesso para fiscalização e pesquisa. A Agência Nacional de Mineração (ANM) publicou o Sumário Mineral Brasileiro e dados consolidados sobre produção e reservas, que devem servir de base para modelos e políticas públicas.

A produção brasileira de lítio em 2023 foi de 15.193 toneladas de Li₂O, o que demonstra escala inicial e potencial de crescimento com investimentos e transformação industrial local. Estimativas de consultorias e do próprio ministério indicam que investimentos adicionais podem chegar a R$ 15 bilhões até 2030, se houver políticas de conteúdo local e atração de cadeias de baterias.

Impactos sociais locais exigem tratamento específico. Comunidades próximas a projetos minerais historicamente sofrem com perda de renda tradicional, pressão sobre serviços públicos e riscos ambientais.

O plano nacional deve incluir mecanismos de compensação vinculados a indicadores de desenvolvimento regional. Esses mecanismos precisam prever fundos de desenvolvimento local, empregos qualificados, programas de capacitação técnica e cláusulas de participação nos lucros para municípios afetados. A participação social deve ser obrigatória em todas as fases de licenciamento e monitoramento.

Metas ambientais precisam ser viáveis e fiscalizáveis. O governo deve estabelecer critérios técnicos para redução do consumo de água e energia na lavra e no beneficiamento, com metas graduais e indicadores públicos. Para viabilizar a transição industrial, são necessários incentivos fiscais claros e condicionados ao cumprimento de metas ambientais e sociais. Instrumentos como debêntures incentivadas e linhas do BNDES já foram anunciados e podem ser calibrados para vincular benefícios a resultados mensuráveis.

A gestão de rejeitos e a prevenção de rompimentos exigem monitoramento em tempo real com sensores, modelos preditivos e auditoria independente. A IA pode detectar anomalias e acionar protocolos de emergência, mas não substitui a responsabilidade legal das empresas e a fiscalização estatal. Auditorias técnicas independentes e dados abertos são essenciais para restaurar confiança e reduzir riscos.

O plano nacional deveria ter, no mínimo, seis pilares integrados por IA e governança pública. Primeiro, mapeamento geológico aberto e interoperável com padrões técnicos definidos pelo governo. Segundo, incentivos à transformação industrial e à cadeia de baterias com cláusulas de conteúdo local. Terceiro, metas ambientais viáveis e fiscalizáveis com cronograma e indicadores públicos. Quarto, mecanismos de compensação e desenvolvimento regional com fundos e programas de capacitação. Quinto, gestão de rejeitos com monitoramento em tempo real e auditoria independente. Sexto, governança de dados sob controle público com repositórios, padrões e acesso para fiscalização e pesquisa.

Os benefícios ao cidadão serão concretos e reais. Gera mais empregos qualificados, aumenta a arrecadação para serviços públicos, reduz a dependência de importações e diminui o risco de desastres. As críticas são legítimas. Há risco de captura regulatória, concentração econômica e impactos locais mal compensados. Por isso, o plano deve condicionar incentivos ao cumprimento de metas ambientais e sociais e garantir participação comunitária e auditoria independente.

O Brasil tem recursos, conhecimento técnico e instrumentos financeiros para liderar a era dos minerais críticos. A diferença entre potencial e protagonismo será a qualidade da governança. Sem padrões técnicos, dados públicos e incentivos condicionados, a tecnologia pode ampliar desigualdades.

Com regras claras e fiscalização, a IA será aliada da segurança, da sustentabilidade e do desenvolvimento regional.

Assumir esse compromisso com o Brasil é urgente. O país pode transformar sua riqueza mineral em liderança tecnológica e social. O tempo para agir é agora.

* Régis de Oliveira Júnior, jornalista e especialista em inteligência artificial

 

Esta coluna reflete a opinião de quem a assina e não do Jornal O Sul.
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