Quarta-feira, 29 de outubro de 2025
Por Redação O Sul | 27 de outubro de 2025
O ministro da Defesa israelense, Israel Katz, suspendeu nessa segunda-feira (27) o estado de emergência nas áreas próximas à fronteira com a Faixa de Gaza, decretado pelo governo do Estado judeu após o ataque terrorista lançado pelo Hamas em 7 de outubro de 2023. A medida, que encerra a situação de excepcionalidade mais de dois anos após o começo do conflito, ocorre em um momento em que a pressão pela devolução dos corpos dos reféns mortos no enclave palestino ameaça a continuidade das negociações de paz, e a operação para estabilização e reconstrução de Gaza permanece sem uma definição concreta.
Mais tarde, Israel disse que suas tropas receberam os restos mortais de mais um refém. Ao todo, esse é o 16° corpo entregue pelo Hamas.
“Decidi adotar a recomendação (do Exército israelense) e suspender, pela primeira vez desde 7 de outubro, o estado de emergência na frente interna”, indicou um comunicado do Gabinete de Katz. “(A decisão) reflete a nova realidade em termos de segurança no sul do país”.
O estado de emergência na zona situada até 80 quilômetros de Gaza concedia às autoridades poderes especiais para manter a ordem pública e garantir a segurança civil, incluindo restrições à circulação de pessoas e o fechamento de centros escolares. Os moradores que deixaram a região após o ataque já foram autorizados a retornar a suas casas.
A decisão de não prolongar o estado de emergência reflete uma mudança na avaliação da situação de segurança, e devolve a gestão da vida cotidiana às autoridades civis. A mudança acontece enquanto o acordo de cessar-fogo em Gaza ainda enfrenta desafios para progredir para uma paz duradoura.
O Fórum de Famílias de Reféns, principal associação civil a representar parentes dos sequestrados israelenses, pediu nesta segunda-feira a suspensão das próximas etapas do acordo de cessar-fogo até que os restos mortais de todas as vítimas sejam devolvidos. Em um comunicado, a organização apontou que o pacto incluía o retorno de todos os reféns, vivos e mortos, há duas semanas, e instou “o governo israelense, a administração americana e os mediadores a não avançarem para a próxima fase” até que o lado palestino “tenha cumprido todas as suas obrigações”.
O grupo palestino libertou todos os sequestrados vivos em 13 de outubro, porém os restos mortais de 13 reféns falecidos permanecem em Gaza – com o Hamas argumentando não saber a localização exata dos corpos, após as operações israelenses alterarem “o relevo” do enclave palestino.
“Além disso, algumas pessoas que enterraram esses cadáveres foram assassinadas ou não se lembram do local onde os enterraram”, disse o chefe dos negociadores do Hamas, Khalil al-Hayya, em uma declaração no sábado.
Com o objetivo de acelerar a localização e restituição dos corpos, uma equipe egípcia foi autorizada a cruzar “a linha amarela”, que delimita a zona controlada por Israel no enclave. Caminhões carregados com escavadeiras e retroescavadeiras foram vistos cruzando a fronteira, e devem cooperar nas ações de buscas.
Força de estabilização
A segunda fase do acordo assinado por Hamas e Israel inclui, principalmente, o desarmamento do grupo palestino, e a garantia de anistia ou exílio de seus combatentes, assim como a continuidade da retirada do Exército israelense da Faixa de Gaza, pontos que continuam sendo objeto de debate. Os termos acordados previam a criação de uma força internacional – composta principalmente por países árabes ou muçulmanos – para garantir a segurança, à medida que as forças israelenses se retirassem do terreno. Quem irá compor esse esforço internacional e a saída total israelense ainda são questões em aberto.
O primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, disse aos seus ministros no domingo que Israel decidirá por conta própria onde e quando atacar seus inimigos, e quais países terão permissão para enviar tropas para fiscalizar a trégua – insistindo que manterá o controle da segurança dentro da Faixa de Gaza.
“Israel é um Estado independente. Nós nos defenderemos com nossos próprios meios e vamos continuar a determinar o nosso destino”, declarou Netanyahu. “Não buscamos a aprovação de ninguém para isso. Nós controlamos nossa segurança.”
Apesar da declaração, o governo israelense não se opôs diretamente à criação da força internacional, mas fez ressalvas quanto aos países que poderão enviar soldados. A oposição mais marcante neste momento é à presença da Turquia – um ator regional importante, e um dos países de maioria islâmica mais poderosos militarmente.
“Deixamos claro, com relação às forças internacionais, que Israel determinará quais forças são inaceitáveis para nós”, afirmou Netanyahu, um dia depois de o secretário de Estado dos EUA, Marco Rubio, encerrar a mais recente de uma série de visitas de alto nível de autoridades de Washington. As informações são dos jornais O Globo e The New York Times e da agência de notícias AFP.