Sábado, 03 de maio de 2025
Por Redação O Sul | 2 de maio de 2025
O ministro da Previdência, Carlos Lupi, pediu demissão ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva nesta sexta-feira, nove dias após uma operação da Polícia Federal (PF) e da Controladoria-Geral da União (CGU) revelar um esquema bilionário de desvios em aposentadorias e pensões do INSS.
Apesar das investigações não citarem Lupi, ele estava desgastado pelas revelações. O entendimento de integrantes do Palácio do Planalto foi que prevaleceu uma ideia segundo a qual ele não tomou providências para estancar os descontos. As apurações revelaram também uma demora nas ações do governo sobre o tema, mesmo após diversos alertas.
Lupi ainda perdeu o direito de indicar o chefe do INSS. Coube ao presidente Lula escolher Gilberto Waller Júnior, que ingressou no INSS como procurador em 1988 e já foi corregedor-geral do órgão. O ministro havia indicado Alessandro Stefanutto em 2019, demitido pelo presidente da República após a operação.
Nesta semana, a oposição na Câmara reuniu as assinaturas necessárias para abrir uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para apurar o caso.
Em publicação nas redes sociais, ele disse que tomou a decisão “com a certeza de que meu nome não foi citado em nenhum momento nas investigações em curso”.
“Faço questão de destacar que todas as apurações foram apoiadas, desde o início, por todas as áreas da Previdência, por mim e pelos órgãos de controle do governo Lula”, disse.
Lupi disse esperar que as investigações sigam seu curso natural, “identifiquem os responsáveis e punam, com rigor, aqueles que usaram suas funções para prejudicar o povo trabalhador”.
“Continuarei acompanhando de perto e colaborando com o governo para que, ao final, todo e qualquer recurso que tenha sido desviado do caminho de nossos beneficiários seja devolvido integralmente. Deixo meu agradecimento aos mais de 20 mil servidores do INSS e do Ministério da Previdência Social, profissionais que aprendi a admirar ainda mais nestes pouco mais de dois anos à frente da Pasta. Homens e mulheres que sustentam, com dedicação, o maior programa social das Américas”, afirmou.
Demora para agir
Mas o escândalo dominou a Esplanada nas últimas semanas e pode gerar uma nova CPI para o governo. Segundo a operação, deflagrada no último dia 23, entidades sindicais e associativas investigadas cobravam, sem autorização, mensalidades de aposentados e pensionistas do INSS. Os descontos entre 2019 e 2024 e somam R$ 6,3 bilhões, mas a PF não diz quanto disso foi desviado.
Lupi admitiu no último domingo que houve demora em tomar medidas para conter as fraudes e disse que sabia das denúncia. Ele negou, porém, que tenha havido omissão de sua parte e diz não se sentir desconfortável em permanecer no governo.
— No governo, tudo é demorado. Eu sabia o que estava acontecendo, das denúncias. Eu sabia que estava havendo um aumento muito grande (dos descontos nas mensalidades), que precisava fazer uma instrução normativa para acabar com isso e comecei a me irritar pela demora. Só que o tempo no governo não é o tempo de uma empresa privada — afirmou.
O ministro já havia comentado as fraudes no início de 2023, ou seja, no começo do terceiro mandato de Lula. Convidado a falar sobre o assunto na Comissão de Fiscalização Financeira e Controle da Câmara dos Deputados, em 26 de abril daquele ano, Lupi admitiu a existência de fraudes no sistema e afirmou que não tinha como intervir no processo de autorização do desconto, cabendo à pasta apenas o cancelamento a pedido do beneficiário.
A crise dominou os eventos do Dia do Trabalhador em São Paulo, que não tiveram a presença do presidente Lula. No lugar dele, os ministros do Trabalho, Luiz Marinho, e da Secretaria-Geral da Presidência, Márcio Macêdo, saíram em defesa de Lupi. As informações são do portal O Globo.