Sexta-feira, 03 de outubro de 2025
Por Redação O Sul | 11 de julho de 2025
O ministro da Previdência, Wolney Queiroz, afirmou nessa sexta-feira (11) que os mecanismos internos que poderiam alertar para as fraudes em descontos irregulares no INSS foram “desligados” no início do governo Lula. Segundo ele, houve um bloqueio deliberado de controles dentro do próprio órgão, o que impediu que o ministério fosse informado antes sobre as suspeitas.
“Os alarmes foram desligados em 2023 e 2024. O que significa isso? Que os pontos de atenção que poderiam dar o alarme para o ministério (da Previdência) foram propositalmente neutralizados”, afirmou Queiroz, que assumiu a pasta em maio, no lugar de Carlos Lupi.
O ministro da Previdência participou, em São Paulo, de sabatina durante o 20º Congresso da Abraji, a Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo. Ele citou que mecanismos de controle e alerta do INSS falharam ao ser questionado sobre a explosão nos casos de fraudes nos primeiros dois anos do governo Lula, apesar das irregularidades terem se iniciado antes, em 2019, durante a gestão do ex-presidente Jair Bolsonaro.
Ao longo da mesa de uma hora e meia, o ministro blindou o Ministério da Previdência da responsabilidade sobre as fraudes no INSS, com o argumento de que a pasta não foi informada pelos órgãos internos do instituto sobre os indícios de irregularidades. Ele mencionou que o INSS possui corregedoria, ouvidoria, auditoria e controle interno próprios, e essas estruturas têm autonomia. Wolney alegou que as informações sobre fraude “não chegavam”.
Mesmo apontando falhas graves nos mecanismos internos do INSS durante o atual governo, Queiroz seguiu a linha do Planalto de que o esquema teve origem em gestões anteriores e só foi identificado e combatido agora.
Queiroz era secretário-executivo da Previdência quando participou da reunião do Conselho Nacional de Previdência Social (CNPS), em junho de 2023, onde surgiu o primeiro alerta formal sobre descontos indevidos. Ao comentar o episódio, ele afirmou ter presumido que a cúpula do INSS adotaria as providências cabíveis.
Sobre os responsáveis por “desligar” os mecanismos de controle, ele inicialmente evitou citar nomes, mas depois indicou haver envolvimento de “cinco ou seis servidores de carreira”. E então mencionou o ex-procurador-geral do INSS, Virgílio Filho, e o ex-diretor de benefícios, Vanderlei Barbosa dos Santos. Ambos foram afastados após a deflagração da Operação Sem Desconto, que investiga fraudes bilionárias no órgão.
“As pessoas que foram afastadas, que eram o procurador-geral (Virgílio Filho) e o diretor de benefícios (Vanderlei Barbosa dos Santos), que são pontos-chaves do INSS, precisavam dar esses alertas”, disse Queiroz, que avaliou que ambos devem ser intimados para a CPMI que irá tratar das fraudes no Congresso.
Queiroz disse ter “certeza” de que esses nomes serão convocados pela Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) e defendeu que a base governista também participe das convocações. Para ele, a comissão será uma oportunidade de “virar a chave” na percepção pública sobre o esquema e reforçar que o atual governo foi o responsável por desarticular as irregularidades. A expectativa os trabalhos tenham início no segundo semestre.
O ministro destacou que os descontos em folha para associações foram autorizados por lei de 1991 e funcionaram sem grandes problemas até 2018. Entre 2019 e 2022, segundo ele, surgiram entidades com “finalidade exclusiva de fraude”. Foi, então, que “o ladrão entrou em casa”, disse.
“O estado brasileiro falhou”, completou ao fazer um balanço da fraude.
Aposentados e pensionistas começaram nesta sexta-feira a aderir ao acordo de ressarcimento proposto pelo governo. A estimativa é que até quatro milhões de beneficiários sejam ressarcidos.
Os descontos em folha de aposentados entre 2019 e 2014 somou R$ 6,2 bilhões, segundo a Polícia Federal, o que incluiu repasses legais. O custo total das fraudes aos cofres públicos pode chegar a R$ 3,2 bilhões, dos quais R$ 2,6 bilhões já são considerados certos. Para viabilizar o pagamento, o STF autorizou a abertura de crédito extraordinário fora da meta fiscal, por meio de medida provisória.
Queiroz citou o bloqueio de R$ 2,8 bilhões feito pelo governo em contas de associações suspeitas e disse esperar que os recursos possam ressarcir o gasto do Tesouro Nacional. Os pagamentos começam em 24 de julho.
Entre as medidas para reforçar os controles após os desvios, Wolney citou a reestruturação da ouvidoria do Ministério da Previdência, a criação de seminários internos sobre integridade, o fortalecimento da área de inteligência da pasta e a execução de um Plano de Integridade. As informações são do jornal O Globo.