Terça-feira, 13 de maio de 2025
Por Redação O Sul | 2 de março de 2024
O momento atual é de sucesso no esforço de combate à inflação, defendeu o diretor de assuntos internacionais do Banco Central, Paulo Picchetti, em coletiva durante a reunião do G20. “O mundo inteiro está vendo desinflação”, disse. “É óbvio que tem diferentes graus entre as diferentes economias, mas a direção é comum a todos os países.”
Ao mesmo tempo, temos o diagnóstico [consensual no G20] de que não chegamos lá ainda [no pleno controle da inflação]”. Para o diretor do BC, “há essa expressão bastante usada nas discussões de banqueiros centrais e que chegou no G20: falta o último quilômetro da corrida”. Conforme o dirigente, “você não ganha uma corrida antes de completar a última parte do trajeto e a gente tem que terminar essa última parte”.
O diretor do BC explicou que “os programas de transferência que garantiram a subsistência de pessoas e de empresas [na pandemia] criaram também um aumento de procura, que contribuiu autonomamente para elevação dos preços no mundo inteiro”. De acordo com Picchetti, uma coordenação internacional aconteceu na esfera da política monetária no mundo inteiro. “Tivemos um processo de aumento da taxa de juros para combater esse diagnóstico de inflação [em todo o mundo]. E o momento que a gente vive hoje é um momento de sucesso. O mundo inteiro está vendo desinflação.”
O controle da inflação, apontou o diretor, é uma condição importante para reduzir a desigualdade. “O pior, o elemento mais perverso ao longo do tempo para a população menos favorecida é inflação. Principalmente a inflação que vivemos nos últimos tempos, que tem muito a ver com inflação de alimentos no Brasil e no mundo. Isso afeta a população menos favorecida mais do que qualquer outra coisa.”
Na visão de Picchetti, a pandemia foi um evento único, em que houve coordenação do ciclo econômico em todos os países. “Foi um evento único, de [ter levado a] coordenar o ciclo econômico em todos os países”, disse.
“A gente a gente viveu várias crises ao longo dos anos, mas isso afetou de forma diferente os diferentes países, enquanto a pandemia pegou todo mundo da mesma forma”, avaliou. Conforme o diretor, “o G20 tem uma importância muito maior [neste cenário] no sentido de coordenação das respostas para os problemas comuns que apareceram”.
Picchetti explicou que a crise sanitária afetou principalmente os mais vulneráveis. “A preocupação colocada pela presidência brasileira do G20 foi apoiada por todos os participantes nessa questão de retomar o crescimento mas com condições de igualdade.”
A resiliência do mercado de trabalho mesmo em um ambiente de juros mais elevados foi um tópico discutidos entre os Bancos Centrais no G20, afirmou o diretor do BC. “Na política monetária, há relações entre as variáveis que historicamente nos guiam pra tomar decisões. Quando você tem um evento com uma pandemia, ela cria uma ruptura. Às vezes momentânea e às vezes permanente. Nos padrões de relações entre essas variáveis, a gente ainda não teve tempo suficiente para avaliar a extensão.”
O dirigente lembrou que, em certo momento de 2022, as previsões de economistas e analistas convergiam para a ideia de que o aperto monetário iria levar a economia dos EUA a uma recessão. “Existe um momento ali no início de 2022 onde praticamente 100% das pessoas fazendo previsões acreditavam que a economia americana entraria em recessão ao longo do ano. Não só não entrou, como cresceu, provavelmente algo em torno de 3% [em 2023]. E é com uma resiliência enorme do nível de atividade, apesar do aumento da taxa de juros e com uma resiliência em particular muito grande do mercado de trabalho. Agora, esse desafio deles é o desafio do mundo inteiro.”
Conforme o especialista, “isso foi muito discutido e é uma coisa que os bancos centrais estão prestando atenção e estão justamente utilizando esses fóruns para trocar experiências, para se ajudar da melhor forma possível a tomar as decisões”.
As reuniões da trilha financeira do G20 discutiu também a questão do peso das dívidas de países menos favorecidos, afirmou o diretor. “Há um esforço internacional, inicialmente do arcabouço do G20, mas com apoio de organismos [internacionais], de bancos multilaterais de desenvolvimento, do FMI [Fundo Monetário Internacional], sobre a questão da negociação de dívidas de países, principalmente, países menos favorecidos”, afirmou.
Segundo Picchetti, “há um arcabouço comum para negociação das dívidas que foi criado como uma iniciativa do G20 e do Clube de Paris, justamente para unificar a renegociação de dívidas com países que ficaram em situações muito vulneráveis [durante a pandemia]”.
O diretor do BC lembra que “não são crises simplesmente de liquidez, mas crises estruturais desses países que impedem eles de ter acesso a condições de crédito que lhes permitam evoluir”.