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Por Redação O Sul | 31 de maio de 2018
Morreu na quarta-feira (30) o jornalista e escritor Audálio Dantas, aos 88 anos, no Hospital Premiê, em São Paulo, onde estava internado desde abril. Ele tratava um câncer de intestino desde 2015, quando foi operado, mas a doença acabou por atingir o fígado e os pulmões depois disso.
O repórter era conhecido por seu olhar humanitário sobre os temas do cotidiano e sua atuação em prol da defesa de direitos durante a ditadura militar, característica que lhe rendeu, em 1981, o Prêmio de Defesa dos Direitos Humanos da ONU (Organização das Nações Unidas).
Nascido em Tanque D’Arca, pequeno município do agreste alagoano, Audálio iniciou a carreira no jornalismo aos 17 anos. Vindo do Nordeste para a capital paulista, o filho de um comerciante e uma dona de casa revelava imagens do fotógrafo Luigi Mamprin, no jornal Folha da Manhã, um dos títulos que dariam origem ao jornal Folha de S. Paulo.
Uma das reportagens que marcaram sua história se deu numa apuração sobre a favela do Canindé, às margens do Tietê, em São Paulo. Lá, o repórter conheceu Carolina de Jesus, moradora local que registrava um diário do seu cotidiano de fome, violência e dificuldade em criar os três filhos pequenos trabalhando como catadora de papel.
Os escritos de Audálio revelaram Carolina, que mais tarde se tornaria best seller, publicando livros no Brasil e no exterior, o mais famoso deles “Quarto de Despejo”, de 1960.
Sua personalidade também ficou evidente quando assumiu a presidência do Sindicato dos Jornalistas do Estado de São Paulo, à época do assassinato do jornalista Vladimir Herzog, em outubro de 1975. Audálio denunciou que Herzog havia sido torturado e morto no DOI-CODI, contrariando a versão oficial do governo, que falava em suicídio.
No enterro de Vlado, Audálio declamou a poesia “‘Navio Negreiro”, de Castro Alves, para as 600 pessoas presentes. “Senhor Deus dos desgraçados, Dizei-me Vós, Senhor Deus, Se é mentira, se é verdade, Tanto horror perante os céus”, dizia parte do texto.
Após isso, em 1978, sua atividade sindical lhe rendeu um mandato como deputado federal por São Paulo, pelo antigo MDB (1979-1983). Audálio também foi o primeiro presidente eleito por voto direto da Fenaj (Federação Nacional dos Jornalistas). Até esta quinta, integrava o conselho consultivo da ABI (Associação Brasileira de Imprensa).
A carreira de Audálio também registra passagens como redator e chefe de reportagem na revista O Cruzeiro, publicação que deixou para ser editor de turismo na revista Quatro Rodas.
Ele foi correspondente de guerra em Honduras pela Veja e trabalhou na revista Realidade, onde produzia reportagens sobre as mudanças econômicas e sociais por que passava Minas Gerais. Foi chefe de Redação da revista Manchete e editor da Nova.
Escritor, Audálio lançou livros, dentre eles “As Duas Guerras de Vlado Herzog” (Record), pelo qual recebeu o prêmio Jabuti e o prêmio Juca Pato de Intelectual do Ano, em 2013.
O jornalista completaria 89 anos no próximo dia 08 de julho. Deixa a mulher Vanira Kunc, quatro filhos e netos. O velório foi no Sindicato dos Jornalistas de São Paulo.