Sexta-feira, 19 de abril de 2024
Por Redação O Sul | 22 de outubro de 2019
Considerada foragida desde o início de outubro, a mulher de Marcial Pereira de Souza – analista tributário da Receita Federal apontado pelo Ministério Público Federal (MPF) como responsável pela cobrança de propina de empresários investigados na Operação Lava-Jato –, Mônica da Costa Souza, se entregou à Polícia Federal (PF) na última quinta-feira. Em depoimento, ela disse que não sabia que dois relógios seus estimados em R$ 1,2 milhão “valiam tanto”. Mônica confirmou que os objetos vieram do pai, falecido em 2015. De acordo com investigadores, o analista esconderia o aumento de patrimônio em bens em nome de parentes. As informações são do jornal O Globo.
Os relógios foram declarados, em 2017, no Imposto de Renda de Mônica, o que chamou a atenção dos investigadores por ser incompatível com a renda dela. O modelo de maior valor é um Jean Dunand Shabaka, um dos dez mais caros do mundo, que custa R$ 980 mil.
Em seu depoimento, Mônica afirmou ainda que não sabia que Marcial havia incluído os relógios na sua declaração do IR. Segundo ela, o marido teria dito que eles “valem um apartamento” ao tomar conhecimento do valor. De acordo com os investigadores, essa quantia é inconsistente com o patrimônio de Mônica.
Ainda de acordo com o depoimento, Mônica teria recebido do pai outros quatro relógios que foram vendidos, em 2017, por supostos R$ 900 mil. Em seu depoimento à PF, ela alegou não saber quantos relógios recebeu de seu pai. Segundo Mônica, ela não sabe para quem eles foram vendidos ou como foram pagos. A mulher do analista da Receita também informou que tinha uma relação “muito complicada” com o pai, que estaria tentando se reaproximar dela.
Para o MPF, além do valor dos relógios, os gastos do cartão de crédito de Mônica são incompatíveis com sua renda. Em depoimento, ela disse que é professora no Instituto Federal do Rio de Janeiro (IFRJ) há sete anos e meio e que anualmente ministra um curso de especialização na Pontifícia Universidade Católica (PUC), e que sua renda mensal seria de cerca de R$ 12 mil. Ela não soube precisar por que, segundo o depoimento, não acompanhava o valor lançado em seu contracheque.
A mulher de Marcial estava foragida desde 2 de outubro, quando a operação Armadeira foi deflagrada. Uma semana depois, a força-tarefa incluiu o nome de Mônica na lista de difusão vermelha da Interpol. A autorização para incluir o nome dela na lista de foragidos foi dada pelo juiz Marcelo Bretas, da 7ª Vara Federal Criminal do Rio a pedido do MPF.
O órgão tinha indícios de que ela estaria fora do país. No depoimento à PF, Mônica confirmou que não estava no Brasil. Ela disse que tinha viajado um pouco antes da deflagração da operação para atender uma emergência de sua filha, que teria quebrado o tornozelo.
De acordo com o MPF, Marcial abriu uma conta bancária em Portugal para Mônica com o intuito de ela receber a propina exigida do empresário Ricardo Siqueira Rodrigues, colaborador premiado que denunciou o esquema depois de ser abordado pelos fiscais da Receita. O objetivo de Marcial era impedir que ele fosse identificado como beneficiário da conta, segundo a investigação.
Mônica, por outro lado, alega que a conta foi aberta para viabilizar o custeio dos estudos de seus filhos, que participavam de um processo de seleção para estudar na Europa. Um deles, em Portugal, e a outra, na Espanha. A abertura da conta foi feita com ajuda de uma pessoa chamada “Cristiane”, que seria amiga de uma ex-vizinha sua.
Ela ainda disse que não acompanhava a movimentação da conta, o que era feito pelo marido. O motivo de ter sido aberta no nome de Mônica, de acordo com o depoimento, é que Marcial estaria em processo de troca de nome e isso poderia ser um obstáculo.