Quarta-feira, 31 de dezembro de 2025

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Geral Mundo ingressa em 2026 com retrocesso nas políticas climáticas

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O mundo entra em 2026 desorientado nas ações de enfrentamento, adaptação e resiliência à crise climática. (Foto: Reprodução)

Em 15 de dezembro, o secretário-geral da Opep, Haitham Al Ghais, publicou um artigo no site da organização dos países exportadores de petróleo propondo um novo rótulo para “combustíveis fósseis”. Trata-se de um exemplo claro da recessão de políticas climáticas e ambientais em um mundo que ingressa na metade de uma década fundamental para o enfrentamento da emergência climática: melhor um “rebranding” do que investir em alternativa ao que causa secas, ondas de calor, inundações e outras catástrofes.

O secretário-geral da Opep diz que o petróleo não é só usado como combustível, que fóssil vem da extração do subsolo – um termo cunhado em 1759 e, portanto, muito desatualizado -, e discorre sobre as diferenças entre a formação geológica do petróleo e dos fósseis. Por estes motivos, afirma que a expressão é usada sem precisão científica e propõe que se repense o termo. “Combustível fóssil é frequentemente usado como um insulto, uma forma depreciativa de descartar fontes de energia”, diz, finalmente, na conclusão do texto.

“Isso alimenta a narrativa de que algumas energias são moralmente superiores a outras, distorcendo o que deveriam ser discussões sobre a redução de emissões de gases de efeito estufa em um debate equivocado sobre a substituição de fontes de energia”, segue o secretário-geral da Opep, 23 dias depois do fim da COP30.

Foi na edição brasileira da conferência sobre mudanças climáticas das Nações Unidas que governos discutiram, pela primeira vez, se não era hora de decidirem fazer um plano global para colocar fim à dependência global aos combustíveis fósseis. A ideia não era sair de Belém com o cronograma – apenas propor que isso acontecesse e que se implementasse uma decisão tomada na COP28, em 2023, em Dubai.

O embate dividiu países em dois blocos, os que queriam o “roadmap” e os que disseram à presidência da COP30 que, se a decisão de se fazer algo neste rumo entrasse em qualquer texto da conferência, bloqueariam tudo. Venceu o retrocesso, ao menos nesta batalha.

O artigo de Haitham Al Ghais concretiza o quanto os países produtores de petróleo brecam avanços em políticas e ações climáticas globais, e na transição energética propriamente dita. O Brasil, um dos dez maiores produtores de petróleo do mundo (e desde fevereiro parte integrante da Opep+, grupo de aliados do cartel) faz, no governo Lula, uma política energética ambígua. No mesmo dia em que aderiu à Opep+, por exemplo, também entrou na Agência Internacional de Energia Renovável, a Irena.

O mundo entra em 2026 desorientado nas ações de enfrentamento, adaptação e resiliência à crise climática – ou em recessão, no sentido amplo do termo.

Na União Europeia, o bloco tradicionalmente na vanguarda mundial dos movimentos e políticas pró ambiente e clima, a palavra de ordem agora é “flexibilizar”, verbo conhecido dos brasileiros toda vez que o Congresso Nacional quer enfraquecer alguma regulamentação. Adiou a entrada em vigor da regulamentação antidesmatamento, que obriga seus importadores de commodities a comprar de áreas não desmatadas. Suas metas climáticas para 2040 foram flexibilizadas com a inclusão de créditos de carbono.

Desde o início de 2025, o mundo assiste ao retrocesso de políticas climáticas e ambientais (entre outras) praticadas pelo governo de Donald Trump, nos EUA. Retirou o país do Acordo de Paris, desmantelou a Administração Nacional Oceanográfica e Atmosférica (Noaa) e desidratou a EPA, a agência ambiental americana criada em 1970 por Richard Nixon.

Um de seus primeiros atos foi declarar os EUA em emergência nacional energética e assim dar viés legal ao seu mote “drill, baby, drill”: explorar ao máximo as reservas de petróleo e gás do país.

No cenário internacional ambiental também causou grandes desastres. Bastaram alguns telefonemas ameaçadores em outubro para conseguir que a Organização Marítima Internacional adiasse, por um ano, a decisão tomada em abril de um plano mundial para reduzir as emissões de gases-estufa dos navios. Os EUA bloquearam, com os sauditas, o acordo contra a poluição plástica em agosto.

Em dezembro, o governo de Trump se aliou a autoridades da Arábia Saudita, Rússia e Irã para bloquear parte de um relatório do Programa da ONU para o Meio Ambiente (Pnuma) que pedia a eliminação gradual dos combustíveis fósseis, a mudança para energia limpa e a redução de plásticos, segundo o The New York Times. Foram bem-sucedidos.

Eduardo Viola, professor em Relações Internacionais do Instituto de Estudos Avançados da USP, da Fundação Getúlio Vargas e da Universidade de Brasília, lembra que em 2025 houve uma ruptura no sistema internacional. “Tivemos uma mudança. Em parte isso já vinha, desde a invasão da Rússia à Ucrânia, mas Trump quebrou o que restava da ordem liberal internacional. E criou uma situação que supera as piores expectativas dos analistas, e isso em geral, não só em clima. Avançou profundamente no processo de autocratização dos Estados Unidos, o oposto de democratização na ciência política. Este processo se acentuou muito. Não é irreversível, mas é forte”.

A crise climática, segue Viola, continua se agravando. “Os impactos sobre a humanidade são maiores, mas assimetricamente distribuídos. E para lidar com estes problemas, quanto mais pobre, mais difícil. A outra variedade fundamental é que as energias renováveis, eólica e solar se tornaram competitivas com as energias fósseis. Isso é uma realidade profunda e irreversível. Agora, a resistência das energias fósseis continua sendo profunda. Há toda uma narrativa de que a energia fóssil é necessária, que sem ela não haverá escassez de energia. Estamos em uma trajetória forte de crescimento das renováveis, mas as energias fósseis continuam crescendo. Então, a causa principal da mudança climática, do aquecimento global e dos extremos climáticos, continua se acentuando”, diz ele. As informações são do jornal Valor Econômico.

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https://www.osul.com.br/mundo-ingressa-em-2026-com-retrocesso-nas-politicas-climaticas/ Mundo ingressa em 2026 com retrocesso nas políticas climáticas 2025-12-30
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