Segunda-feira, 17 de novembro de 2025
Por Redação O Sul | 16 de novembro de 2025
A COP30, conferência da ONU sobre mudanças climáticas em Belém, encerrou sua primeira semana mostrando tensões e interesses distintos entre os 197 países signatários, os chamados “partes da convenção”. Os temas que devem dominar as discussões na chamada semana “política” do evento, são financiamento, adaptação e a proposta de criar um roadmap para eliminar os combustíveis fósseis.
Sobre financiamento, questão presente em muitos itens da agenda, a disputa central é: quem vai pagar a conta do aquecimento global? Tradicionalmente, essa é uma das maiores discussões da COP. Sem os EUA à mesa, a resistência a assumir custos veio principalmente da União Europeia, mas também de países como China e Arábia Saudita – enfraquecida sem o apoio dos EUA –, que se recusam a integrar uma base ampliada de doadores.
Prioridade do Brasil
O Pacote de Adaptação é uma das prioridades da presidência brasileira. Negociadores do Brasil minimizaram tensões e, afirmaram fontes, há textos em discussão. Segundo um interlocutor, “a diplomacia brasileira não quer inflamar ainda mais o posicionamento de países africanos, que demandam mais financiamento. Estão segurando o pino da granada”.
Na COP29, em Baku, foram definidos apenas US$ 300 bilhões para adaptação de várias fontes, inclusive empréstimos. Em Belém, países em desenvolvimento, reunidos no G77 (mais de 100 países, incluindo a China), querem triplicar esse valor, e discutir quanto da bolada será de doações ou empréstimos a juros muito baixos de países ricos para países em desenvolvimento, entre eles os africanos.
Ainda não está claro onde a demanda vai “aterrissar”, já que a COP30 não tem mandato formal para isso, mas africanos pressionam, inclusive via discussões sobre NDCs (Contribuições Nacionalmente Determinadas, os compromissos assumidos pelos países para reduzir suas emissões), um dos quatro itens que continuam fora da agenda oficial — com as pequenas ilhas que correm o real risco de desaparecer pedindo metas mais ambiciosas. Também continuam em consultas os itens sobre medidas unilaterais de comércio e revisão dos relatórios bienais de transparência.
O quarto item é financiamento, neste caso, relacionado ao artigo 9.1 do Acordo de Paris, que estabelece que os países desenvolvidos devem assumir a liderança no financiamento climático. O Brasil está tentando contornar as tensões no que observadores como Claudio Angelo, do Observatório do Clima, chamam de “sessão de terapia coletiva”.
Financiamento
Os africanos buscam incluir o financiamento nas negociações do GGA (Metas Globais de Adaptação), alegando que indicadores de adaptação só podem ser adotados se houver recursos do mundo desenvolvido. Para a presidência brasileira da COP, os indicadores são essenciais para medir a adaptação de cada país. A pergunta sobre quem pagará a conta persiste. A UE resiste, os árabes afirmam que não é sua responsabilidade, e China e Índia compartilham discurso similar. Essa disputa racha o grupo de países em desenvolvimento: latino-americanos e pequenas ilhas querem acordo em Belém, enquanto africanos, que sediarão a COP em dois anos, na Etiópia, parecem querer atrasar o tema.
Sem os EUA, o petróleo e Estados dependentes dele enfraqueceram, mas a Arábia Saudita ainda pode limitar o avanço do roadmap de combustíveis fósseis, defendido por Lula. O mapa já teve adesões de mais de 20 países, entre eles Alemanha e Reino Unido. Segundo Natalie Unterstell, presidente do Instituto Talanoa, “o que nasce em Belém é uma coalizão, um sinal”.
Leque de posições
Na mesa de negociações, diferentes grupos colocam objetivos e ambições. O Umbrella Group (Reino Unido, Canadá, Austrália, Japão, Nova Zelândia, Noruega e Rússia) muitas vezes contrapõe-se a países menos desenvolvidos e a blocos de alta vulnerabilidade climática, como a HAC (High Ambition Coalition), bloco de países progressistas criado pelas Ilhas Marshall em 2014 e fundamental no Acordo de Paris. O Like-Minded Developing Countries, formado por África, Ásia e América Latina (China, Egito, Índia, Indonésia, Irã, Malásia, Arábia Saudita), resiste à transição energética, aponta Unterstell.
China e Índia disputam com os europeus a conta do aquecimento global. Os países da UE argumentam que árabes, chineses e indianos podem contribuir mais.
Secretária executiva da Rede por Adaptação Antirracista, Thaynah Gutierrez pontua que os países do G77 querem indicadores voluntários e autonomia sobre adaptação. A resistência da UE existe, mas há disposição para discutir metas de financiamento.
A tensão sobre o financiamento é o coração das negociações e, mesmo sem os EUA, é preciso paciência para chegar a acordos. Depois de uma semana de debates em Belém, a COP exibe seus embates tradicionais. As informações são de O Globo.