Domingo, 28 de setembro de 2025
Por Redação O Sul | 26 de julho de 2020
Com a flexibilização do isolamento social em várias cidades do Brasil, as empresas começam a se movimentar para a volta do trabalho presencial. No entanto, a medida ainda é considerada prematura por parte dos funcionários, que se dividem entre o medo de um possível contágio e o receio de se recusar a voltar e acabar perdendo o emprego. Na hora de voltar ao escritório, entre os que não querem deixar o home office para trás, as justificativas passam pela simpatia com o trabalho remoto, mas vão muito além.
Há dois tipos de dificuldades: as técnicas, como por exemplo não ter com quem deixar os filhos, uma vez que as escolas ainda não voltaram, e as emocionais, como o medo de ser contaminado. Uma pesquisa realizada pela consultoria de recursos humanos Adecco, a pedido do Estadão, constatou que, entre os 4.244 ouvidos, 55,68% gostariam de voltar ao trabalho presencial. Os demais se dividem entre os que não querem voltar por medo de contrair o novo coronavírus (7,70%), os que não querem voltar porque se adaptaram ao home office (7,12%), os que não quiseram voltar, mas foram obrigados (1,04%) e os que voltariam, mas com jornada reduzida e em dias alternados (28,46%).
O perfil de mais da metade dos ouvidos é de funcionários de baixo escalão, de cargos como operadores e analistas, e que atuam nas áreas de atendimento e administração. “Muitos questionamentos sobre o home office foram esclarecidos por todas as empresas e, a partir de agora, certamente fará parte de sua rotina. Isso porque os colaboradores ficarão mais exigentes quanto às políticas de flexibilização, e isso passará a ser levado em consideração como benefício e atrativo para os processos seletivos”, destaca a gerente de recursos humanos da Adecco, Lucia Santos.
Dados levantados pelo Linkedin no último mês apontam a preocupação dos funcionários com a volta ao trabalho presencial. Segundo o levantamento feito com 1.261 pessoas, enquanto 22% dos ouvidos afirmam que irão voltar ao trabalho voluntariamente assim que for permitido, 13% disseram que voltarão porque se sentem obrigados a fazê-lo. Já 14% afirmam que continuarão a trabalhar remotamente enquanto não se sentirem seguros de estarem perto de outras pessoas.
Grandes empresas
Segundo a pesquisa, a pressão para voltar ao trabalho presencial é maior entre os funcionários de grandes empresas, entre os millennials (nascidos entre a década de 80 e começo dos anos 2000) e os babyboomers (nascidos entre os anos de 1946 e 1964). Entre os ouvidos, 57% dizem temer a exposição a outras pessoas que não levam a sério as diretrizes de segurança. Apesar das diferentes percepções dos colaboradores, há empresas que determinaram a volta obrigatória, sem considerar as necessidades e receios de quem faz o negócio acontecer. Funcionária de uma empresa de tecnologia da informação em Belo Horizonte, P.L. recebeu a notícia de que terá que voltar a trabalhar presencialmente a partir de agosto (alguns dos entrevistados não quiseram ser identificados por receio de retaliação e de perder o emprego). Além de ser considerada grupo de risco por possuir problemas respiratórios, ela explica que não se sente à vontade para deixar o isolamento social. “Meu medo é sair de casa.
Eu posso ir de transporte particular ou a pé, mas tenho muito medo do ambiente da empresa. E prédio, tudo fechado e tem ar condicionado, então a janela não abre. Não é toda a equipe que vai voltar, mas umas 70 pessoas vão. Só no meu time são 22 e, pelo que eu acompanhei, nem metade fez a quarentena. Muita gente viveu a vida normalmente, saindo, fazendo churrasco.” P.L. ainda tenta negociar com a empresa a suspensão do retorno. “Durante o período em que ficamos em home office – desde o fim de março -, a empresa teve o segundo melhor resultado da sua história. Mas o presidente diz que a economia precisa girar e, como a empresa fica próxima a um shopping e ele voltará a abrir, ele diz que não adianta as lojas estarem abertas e não terem clientes”, conta.