Sexta-feira, 30 de maio de 2025
Por Redação O Sul | 6 de janeiro de 2016
Houvesse Facebook em 1845 e o escritor americano Henry Thoreau (1817-1862) talvez não pudesse ter escrito sua obra prima “Walden”, em que narra dois anos, dois meses e dois dias que passou em uma cabana isolada no Estado de Massachusetts (EUA). Especialmente se tivesse esquecido de desligar o recurso “Amigos nas Imediações” oferecido pela rede social.
Lançado em outubro de 2015, o mecanismo de geolocalização permite que se veja, em tempo real, onde estão os amigos do Facebook – e quais deles estão por perto. Embora tenha agradado a muita gente, a ferramenta também chamou atenção dos mais discretos, preocupados com a possibilidade de seus contatos poderem saber, a todo momento, onde estão.
Recursos de localização como o do Facebook estão por trás de aplicativos que facilitam a vida – como o Waze, para navegar no trânsito complicado, ou mesmo o Happn, para quem quer encontrar um par romântico. Mas quando são muitos e espalhados por diversos apps, esses mecanismos podem complicar o dia a dia de quem opta por mais privacidade. Isso porque é cada vez mais difícil controlar quantos e quais programas estão coletando e transmitindo dados de geolocalização.
Para entender essa dificuldade, pesquisadores das universidades americanas Carneige Mellon e Notre Dame acompanharam um pequeno grupo de usuários de smartphones por 14 dias. Equipados com um aplicativo especial, os celulares registravam e avisavam quando transmitiam dados de localização. Um dos 23 participantes da pesquisa relatou que, em duas semanas, sua localização havia sido transmitida 5.398 vezes, por nove aplicativos diferentes. Embora limitado em amostra e escopo, o estudo concluiu que é difícil controlar adequadamente o fluxo de informações privadas que sai de dispositivos conectados à internet.
Pedidos de acesso.
Parte do problema está no fato de que, quando um aplicativo é instalado, o usuário é bombardeado por pedidos de acesso a recursos do smartphone – como os contatos, as notificações, a câmera e a localização. É fácil que ele autorize tudo sem examinar com cuidado cada um dos pedidos. E, depois de autorizado, a opção de desativar o recurso fica escondida em um menu de configuração. Outra parte do problema é que essas mensagens não dizem exatamente como os seus dados serão utilizados. Às vezes, é preciso ler um texto específico para saber, por exemplo, que poderão ser explorados para publicidade. É uma tarefa parecida com a de ler os termos de uso e privacidade, documento comum em sites e aplicativos, e que pouca gente lê.
O Facebook informou que “usa as informações que recebe para melhorar os serviços oferecidos”. “Em 2015, por exemplo, lançamos o anúncio com Local Awareness”, registrou a empresa, por meio da assessoria. Refere-se à possibilidade de varejistas enviarem seus anúncios para internautas que estejam próximos às suas lojas físicas. “Não é que as empresas tenham más intenções, necessariamente. Elas precisam de remuneração”, destaca o pesquisador e fundador do site PrivacyGrade, Jason Hong. “Mas é preciso que elas sejam transparentes.” O PrivacyGrade é uma plataforma que atribui notas de A a F de acordo com o tratamento dado pelos aplicativos às informações pessoais dos usuários. Para calcular a nota, o site usa um método que leva em conta as expectativas do internauta.
“É preciso saber o que cada um espera daquele programa, e o que o programa faz, na verdade”, alerta Hong. “O Waze e o Google Maps, por exemplo, precisam das informações geográficas para funcionar, isso é algo claro para que os acessa. O problema começa quando aplicativos usam esses dados sem revelar ao usuário.” Hong aponta que empresas como Facebook e Google são transparentes nesse sentido. “Cabe ao usuário escolher se quer entregar um pouco da privacidade em troca de mais recursos tecnológicos”, diz. “Na verdade, temos mais problemas com aplicativos que entregam dados a terceiros sem que o usuário saiba e sem que ele receba um benefício em troca.” (Folhapress)