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Saúde “Não existe aumento de TDAH nem de autismo na população”, diz primeiro brasileiro a receber o “Oscar da saúde mental”

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Ao longo de sua trajetória, Rohde se dedicou a compreender a epidemiologia do TDAH e a corrigir percepções equivocadas sobre o tema.

Foto: Arquivo Pessoal
Ao longo de sua trajetória, Rohde se dedicou a compreender a epidemiologia do TDAH e a corrigir percepções equivocadas sobre o tema. (Foto: Arquivo Pessoal)

O psiquiatra brasileiro Luis Augusto Rohde foi o primeiro latino-americano a receber o Prêmio Ruane, concedido pela Brain & Behavior Research Foundation (BBRF), dos Estados Unidos. Conhecido como o “Oscar da saúde mental”, o prêmio reconhece os principais pesquisadores do mundo em quatro áreas da psiquiatria. Rohde recebeu a homenagem em Nova York por sua contribuição à pesquisa sobre transtorno de déficit de atenção e hiperatividade (TDAH) em crianças e adolescentes.

Professor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), onde dirige o Programa de Déficit de Atenção/Hiperatividade do Hospital de Clínicas, Rohde também é vice-coordenador do Centro de Pesquisa e Inovação em Saúde Mental (CISM). Ele já presidiu a Federação Mundial de TDAH e atualmente comanda a Associação Internacional de Psiquiatria da Criança e do Adolescente e Profissões Afins (IACAPAP).

Segundo o pesquisador, o reconhecimento representa um avanço para a ciência produzida no país. “Em nenhuma das quatro categorias do prêmio, que existem há mais de 25 anos, um pesquisador da América Latina havia sido nomeado. Isso mostra que existe pesquisa de qualidade e competitiva sendo feita no Sul Global”, destacou.

Ao longo de sua trajetória, Rohde se dedicou a compreender a epidemiologia do TDAH e a corrigir percepções equivocadas sobre o tema. “Quando analisamos mais de 100 estudos ao redor do mundo, vimos que o TDAH afeta cerca de 5% das crianças e adolescentes. Quando controlamos os fatores metodológicos, não há diferença entre países e tampouco aumento da prevalência ao longo do tempo”, afirma.

O que cresceu, segundo ele, foi a procura por serviços de saúde, reflexo da maior conscientização sobre o transtorno. “Hoje reconhecemos mais o TDAH em meninas e adultos. Antes, era visto apenas como um problema masculino por estar muito associado à hiperatividade, mas há casos com predomínio de desatenção, mais comuns em meninas”, explica.

Em relação ao transtorno do espectro autista (TEA), Rohde observa fenômeno semelhante. “Há 20 anos, falava-se em 1 a 4 casos a cada 10 mil nascimentos; hoje, o CDC estima 1 a cada 36. Mas não houve aumento real do autismo, e sim uma ampliação dos critérios diagnósticos. O conceito de espectro incorporou manifestações que antes eram vistas apenas como traços de personalidade”, diz.

O psiquiatra também alerta para interpretações simplistas sobre causas dos transtornos mentais. “Há uma tendência humana de buscar explicações únicas, mas é preciso distinguir associação de causalidade. Por exemplo, estudos mostram associação entre TDAH e uso excessivo de telas, mas nossas pesquisas indicam que a relação é inversa: pessoas com TDAH tendem a usar mais telas, não o contrário”, afirma.

A desinformação nas redes sociais agrava o cenário. “Um estudo avaliou os 100 vídeos mais vistos no TikTok sobre TDAH — que somavam meio bilhão de visualizações — e descobriu que mais da metade das informações não correspondia à realidade científica”, relata. Para enfrentar o problema, a IACAPAP desenvolve, em parceria com o Child Mind Institute, de Nova York, programas de capacitação de influenciadores digitais em saúde mental infantil e adolescente.
Sobre o que se sabe hoje do TDAH, Rohde resume: “É uma alteração do neurodesenvolvimento que afeta áreas do cérebro responsáveis pelo controle inibitório e pela atenção. Tem forte base genética e se manifesta em graus variados na população, como acontece com características físicas, por isso o diagnóstico requer cautela”.

O pesquisador orienta que pais fiquem atentos quando os sintomas de desatenção, hiperatividade ou impulsividade são frequentes e causam prejuízos sociais ou escolares. “O sinal de alerta é quando a intensidade e a duração desses comportamentos afetam o desempenho e as relações da criança”, explica.

A agressividade também exige atenção. “Birras e raiva são normais, mas se ocorrem várias vezes por semana e duram mais de meia hora, é preciso investigar se há um transtorno ou uma disfunção familiar associada”, completa.

Para Rohde, nenhum transtorno psiquiátrico tem marcador biológico definido — o diagnóstico é sempre clínico. “Por isso é essencial avaliar frequência, intensidade e prejuízo causado”, diz.

O tratamento, ressalta, deve ser multimodal, unindo psicoterapia, psicoeducação e, quando necessário, medicação. “A psicoeducação é fundamental para combater o estigma. Muitas crianças com TDAH são rotuladas como preguiçosas ou malcriadas, quando na verdade têm um transtorno neurobiológico. Além disso, há evidências sólidas de que o exercício físico aeróbico melhora a atenção e a função executiva”, conclui.

 

 

(Com O Globo)

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