Sábado, 22 de novembro de 2025
Por Redação O Sul | 2 de novembro de 2018
Ex-ministro da Fazenda e do Planejamento dos governos militares que comandaram o Brasil entre 1964 e 1985, Antônio Delfim Netto acredita que a ideia de um superministério da Economia, proposta pelo presidente eleito Jair Bolsonaro, pode dar certo.
“Para isso, será necessária habilidade de Paulo Guedes [cotado para comandar a nova pasta] para coordenar políticas”, ressalva Delfim, 90 anos. Guedes, inclusive, terá mais poder que o próprio Delfim em seus tempos de ministro, já que o novo “combo” agrupará três pastas.
Que avaliação o senhor faz do superministério da Economia do governo Bolsonaro?
“Não há razão para supor que não possa dar certo. Trata-se de um experimento que envolve risco por reunir três ministérios importantes, o que exigirá do titular da pasta habilidade para que haja políticas coordenadas entre quem prepara o Orçamento e quem o executa. Isso será saudável. É prematuro fazer qualquer tipo de crítica”.
Como deve ser a estrutura desse superministério?
“Eu imagino que Paulo Guedes será o grande coordenador desse modelo escolhido para tocar a política econômica. Mas acredito que ele terá secretários executivos para cada uma das áreas, uma espécie de vice-ministro. Trata-se de uma experiência possível, mas será preciso uma cooperação muito maior entre as três pastas. Será impossível que o Ministério da Indústria, por exemplo, faça uma política sem estar em coordenação com as demais pastas”.
A Casa Civil pode se fortalecer nesse modelo?
“Não acredito. Acho que a Casa Civil vai continuar funcionando como uma espécie de ‘filtro’ da política econômica a ser executada no País”.
E o que deve ocorrer com órgãos como o CMN (Conselho Monetário Nacional), cujas decisões têm um voto da Fazenda, um do Planejamento e outro do Banco Central?
“Nesse modelo, o Conselho Monetário Nacional não faz mais sentido nas decisões de política monetária. Acho que esses instrumentos como o próprio CMN tinham pouca eficácia. É saudável que se busquem instrumentos novos”.
Trajetória
Nascido em São Paulo em 1928, o economista Antônio Delfim Netto já foi ministro, professor universitário e político. Ele já atuou como membro da equipe de planejamento do governo paulista de Carlos Alberto de Carvalho Pinto em 1959, membro do Conselho Consultivo de Planejamento do presidente Humberto Castelo Branco em 1965 e do Conselho Nacional de Economia no mesmo ano.
Foi secretário de Fazenda do governo paulista de Laudo Natel em 1966 e 1967, ministro da Fazenda de 1967 a 1974 e embaixador do Brasil na França entre 1974 e 1978, ministro da Agricultura em 1979 e do Planejamento de 1979 a 1985. Deputado constituinte por São Paulo de 1987 a 1988 e federal por São Paulo desde 1988.
Em dezembro de 1968, Delfim foi um dos signatários do famigerado AI-5 (Ato Institucional nº 5), decreto da ditadura militar que conferiu ao presidente da república o poder de decretar a intervenção nos estados e municípios, suspender os direitos políticos de quaisquer cidadãos e cassar mandatos eletivos federais, estaduais e municipais.
Em junho de 2016, a Polícia Federal, por meio da Operação Lava-Jato, intimou Delfim a prestar esclarecimentos aos investigadores sobre por que recebeu, conforme um sobrinho, R$ 240 mil em dinheiro vivo entregues pelo “departamento de propina” da maior empreiteira do país em 22 de outubro de 2014 no escritório do advogado e sobrinho do ex-ministro Luiz Appolonio Neto, na capital paulista.
Em março deste ano, tornou-se alvo da Lava-Jato batizada de Operação Bona Fortuna, no âmbito de uma investigação sobre o pagamento de vantagens indevidas a políticos através do consórcio Norte Energia, responsável pelas obras da Usina Hidrelétrica de Belo Monte (PA).