Quinta-feira, 15 de maio de 2025
Por Redação O Sul | 15 de maio de 2025
Carla Zambelli ganhou projeção política com o movimento "Nas Ruas", um dos que pressionaram pelo impeachment de Dilma Rousseff.
Foto: Lula Marques/Agência BrasilA deputada federal Carla Zambelli (PL), condenada pela Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal (STF) a dez anos de prisão por supostamente ordenar ao hacker Walter Delgatti que inserisse documentos falsos no sistema do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), afirmou nesta quinta-feira (15) que conta com o apoio de colegas para derrubar a ação penal e que não sobreviveria ao cumprimento da pena na cadeia.
Além de apresentar recursos e protelar o trânsito em julgado, a parlamentar pretende convencer os parlamentares a sustarem a ação penal contra ela, assim como ocorreu no caso de Alexandre Ramagem (PL-RJ). Segundo ela, o presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), teria dado “sinal verde” para o líder do PL, Sóstenes Cavalcante (PL-RJ).
Indagada sobre a quantidade de apoio que obteve até agora diante das poucas manifestações de solidariedade de colegas, inclusive do PL, nas redes sociais, Carla Zambelli afirmou que “publicamente, foram poucas”, mas garantiu ter recebido dezenas de ligações, inclusive, segundo ela, da ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro e de outras pessoas da família. O ex-presidente Jair Bolsonaro, no entanto, não a procurou, disse.
“Não é interessante adiantar a estratégia, mas já tenho boa parte do apoio que eu preciso para fazer essa votação. Estamos aguardando o melhor momento e ainda temos tempo para fazer isso”, afirmou.
A parlamentar convocou uma entrevista coletiva em frente ao diretório estadual do PL, em São Paulo, e compareceu ao lado do seu advogado, Daniel Bialski. Zambelli preparou um “dossiê” a jornalistas para sustentar que há inconsistências no julgamento e no relatório da Polícia Federal que a incrimina.
“Eu não iria, de forma alguma, brincar de fazer invasão ao CNJ, de mandar prender o ministro [do STF] Alexandre de Moraes com um documento assinado por ele próprio. Assim, é tão ridículo que, realmente, como disse a ministra Carmen Lúcia, seria burrice. Eu não colocaria o meu mandato em risco por causa de uma brincadeira sem graça”, disse.
Antes do pronunciamento, Zambelli rezou com duas mulheres em coreano. Ao fim da entrevista, um assessor levou três comprimidos para que ela tomasse com água.
A deputada enumerou problemas de saúde com que convive e devem ser usados para embasar um pedido de prisão domiciliar, caso não consiga reverter a sentença. Ela diz que já foi internada duas vezes, enfrenta depressão e problemas cardíacos, desmaios e uma síndrome rara, chamada Ehlers-Danlos, que faz “todo o corpo sair do lugar” e causa transtornos de mobilidade.
“Ainda que seja injusta a decisão, eu sigo a lei. Se acontecer a prisão, vou me apresentar. Mas, hoje, não me vejo capaz de ser cuidada da forma que preciso [presa]. Estou pegando vários relatórios dos meus médicos e eles são unânimes em dizer que eu não sobreviveria na cadeia. Vamos apresentar isso também em momento oportuno”, afirmou.
Carla Zambelli ganhou projeção política com o movimento “Nas Ruas”, um dos que pressionaram pelo impeachment de Dilma Rousseff (PT), e com a ascensão de Bolsonaro, de quem foi vice-líder na Câmara. Ela também mantinha proximidade com o ex-juiz Sergio Moro (União Brasil), que foi seu padrinho de casamento, até a ruidosa saída dele do Ministério da Justiça.
Na eleição passada, a deputada sacou uma arma contra um jornalista, militante petista, depois de um bate-boca na rua, na véspera do segundo turno. Bolsonaro já declarou que a situação teria custado a ele a vitória contra Lula (PT), o que ela contesta.
Zambelli, por sua vez, disse ter sido abandonada pelo ex-capitão. Além da condenação pela invasão no CNJ e do processo em curso pela ameaça armada, ela também já prestou depoimento à PF anteriormente no inquérito das fake news.
O relator Alexandre de Moraes impôs a ela a pena de dez anos de prisão por invasão a dispositivo informático e falsidade ideológica, sentença referendada em plenário virtual, por unanimidade, pelos ministros Cármen Lúcia, Cristiano Zanin, Flávio Dino e Luiz Fux.
Moraes aponta que Walter Delgatti, a mando de Zambelli, inseriu pelo menos 16 documentos falsos no CNJ. Uma das provas consiste em um arquivo acessado pela deputada segundos depois de ter sido criado pelo hacker em seu computador. O relatório da PF apresenta ainda a transferência de R$ 3 mil da cota parlamentar da deputada e R$ 10,5 mil pelas contas de assessores. A transação do motorista, porém, teria sido feita para compra de garrafas de uísque.
A defesa de Zambelli diz que ela não tem nenhuma relação com as invasões ao sistema do CNJ, que contratou o hacker para prestar um serviço de melhoria do seu site nunca entregue e que isso está comprovado em trocas de mensagens com funcionários do gabinete. Bialski desqualifica a colaboração premiada de Delgatti dizendo que se trata de um “mitômano”, reconhecido como tal pelos próprios investigadores, e mudou de versão constantemente em seus depoimentos. As informações são do jornal O Globo.