Terça-feira, 10 de junho de 2025
Por Redação O Sul | 1 de novembro de 2020
Após um ano difícil, em razão da pandemia de coronavírus, as famílias brasileiras buscam um alento no Natal. Ter uma ceia farta e presentes sob a árvore serão desafios principalmente para as classes C e D, em meio ao auxílio emergencial reduzido à metade, desemprego recorde e dólar alto, que fez saltar o preço dos alimentos. Ainda assim, o varejo e especialistas apostam no aumento do consumo. Será o Natal das aves, dos vinhos e espumantes nacionais, da diversidade de pratos, mas em porções menores.
Há dois pontos para a aposta de crescimento. Um é que mesmo os mais pobres vão privilegiar os gastos no Natal pela indulgência que a data permite após meses de limitações. Em paralelo, com a renda preservada, os mais ricos terão festa mais farta. O outro eixo é que, com restrições de circulação, o número de reuniões em família pode crescer.
“Será uma ceia diferente porque as famílias vão usar o alimento para compensar o ano difícil. Vão reduzir quantidades para não abrir mão do que desejam. Com o dólar alto, produtos nacionais e de mercados mais próximos ganham protagonismo. Vai ter menos vinho da Europa e mais do Brasil e da América do Sul. O consumidor faz essa troca”, diz Fábio Queiroz, presidente da Asserj, que reúne o setor supermercadista fluminense.
As vendas do segmento no Rio de Janeiro neste Natal, afirma ele, devem subir 5% este ano. A rede carioca Zona Sul estima vender 10% mais. Contando novas lojas abertas em 2020, o avanço pode chegar a 20%. O grupo montou uma gama de ceias e pratos prontos assinados pela dupla de chefs Christophe Lidy e Dominique Guerin. Há opções P, M e G.
O Zona Sul percebeu que o morador das áreas onde atua — a clientela está nas classes AB — pretende cear em casa e quer comer bem, mas com praticidade, diz Carlos Blajberg, lembrando que muitas famílias nesse grupo dispensaram ou estão por ora sem empregada doméstica.
Com isso, o número de pratos prontos subiu de seis para 20, com o tradicional bacalhau entre eles. As sobremesas vão do pudim de leite à Casa de Gingerbread, bolo de gengibre em formato de casa decorado com guloseimas. O aumento de preço de aves e suínos é inevitável. Mas a rede reduziu margens para atenuar o reajuste de importados.
É estratégia similar à do Prezunic, que também abriu mão de margem para frear preços: “Esperamos aumento de 10% em vendas. Teremos produtos para todos os públicos, prevemos alta no consumo com mais reuniões em família”, diz Patricia Rotelli, gerente comercial do grupo.
Economistas não apostam num Natal que alavanque a retomada do país. Ainda assim, acreditam que o brasileiro, mesmo com menor poder aquisitivo, vai às compras. O Brasil chegou à taxa recorde de 14,4% de desemprego, com 13,8 milhões em busca de uma vaga no trimestre encerrado em agosto, segundo o IBGE.
“As pessoas que não estão ocupadas começam a voltar a procurar emprego, e isso fará a taxa de desemprego chegar a 17% até o fim do ano”, diz Sergio Vale, economista-chefe da MB Associados.
Há ainda o auxílio emergencial reduzido à metade, para R$ 300, além da antecipação do 13º para os aposentados no segundo trimestre, o que reduz o orçamento disponível para as festas. Soma-se à queda da renda o impacto da alta do dólar. A inflação do grupo de alimentos e bebidas subiu 11,7% em 12 meses.
Mesmo assim, a Confederação Nacional do Comércio (CNC) revisou para cima sua estimativa para o Natal. Prevê aumento de 2,2% em vendas sobre 2019, contra previsão anterior de queda de 3%.
“A redução de recursos destinados ao varejo, com a alta do dólar, deverá ser de R$ 1,8 bilhão. O brasileiro vai ter de fazer escolhas e ajustar a quantidade de produtos ao orçamento”, diz Fabio Bentes, economista da CNC.