Domingo, 26 de outubro de 2025
Por Redação O Sul | 25 de outubro de 2025
Cientistas chineses soaram o alarme sobre uma nova variante de um vírus que está se espalhando rapidamente entre bovinos e já mostra sinais preocupantes de adaptação a humanos. A Influenza D (IDV), até então restrita a animais de criação, passou por mutações que indicam potencial para se tornar um novo patógeno humano, reacendendo o medo de uma nova pandemia global.
Pesquisadores do Instituto de Pesquisa Veterinária de Changchun, no nordeste da China, identificaram a cepa D/HY11, surgida em 2023, como a mais preocupante. Em laboratório, ela demonstrou capacidade de se replicar em células das vias respiratórias humanas e de se espalhar por via aérea entre animais, o mesmo tipo de transmissão que caracteriza vírus pandêmicos.
De acordo com o jornal inglês The Sun, o estudo, conduzido por Hongbo Bao e sua equipe do Instituto de Pesquisa Veterinária de Changchun, revelou “taxas de exposição alarmantes” ao vírus em amostras humanas no nordeste da China. Segundo a pesquisa, 74% das pessoas testadas apresentaram sinais de contato com o IDV — e entre aquelas com sintomas respiratórios, a taxa chega a 97%.
Descoberto em 2011 em um porco com sintomas gripais em Oklahoma (EUA), o IDV era até então considerado restrito a animais, principalmente ao gado. Entretanto, análises recentes sugerem que o vírus pode replicar-se em células das vias respiratórias humanas, transmitindo-se pelo ar e pelo contato direto com animais infectados.
Os cientistas alertam que o vírus vem se espalhando “silenciosamente” entre espécies e já foi detectado em cinco continentes, afetando cabras, ovelhas, cavalos, camelos e cães. Segundo o relatório, “infecções subclínicas não observadas podem estar sustentando epidemias em nível populacional”, o que dificultaria o controle e a detecção precoce.
Os pesquisadores também testaram a eficácia de medicamentos antivirais usados contra a gripe comum, mas ainda não há dados conclusivos sobre o quão resistente o IDV pode ser.
“Nossas descobertas indicam que o IDV pode ter adquirido a capacidade de transmissão de humano para humano durante sua evolução contínua, e as cepas atualmente em circulação já representam uma potencial ameaça panzoótica”, alertou a equipe.
Estudo
Os cientistas infectaram furões, usados como modelo padrão para estudar a propagação de gripes em humanos, e observaram que o vírus se transmitiu pelo ar para animais saudáveis sem contato direto. O resultado foi considerado um marco na avaliação do risco de disseminação entre pessoas.
A equipe também analisou amostras de sangue coletadas entre 2020 e 2024 e descobriu que 74% da população do nordeste da China já havia sido exposta ao vírus. Entre aqueles com sintomas respiratórios recentes, a taxa chegou a 97%. Isso sugere que o vírus vem circulando silenciosamente há anos, com possíveis infecções leves ou assintomáticas não detectadas.
Os testes mostraram que o D/HY11 é altamente eficiente em infectar células de humanos, porcos, vacas e cães, multiplicando-se rapidamente em tecidos das fossas nasais, da traqueia e dos pulmões. Essa ampla versatilidade em diferentes espécies aumenta o potencial de o vírus ultrapassar barreiras biológicas e se estabelecer entre humanos.
Outro fator de preocupação é o comportamento genético da cepa. A análise do complexo de polimerase, considerado o “motor” de replicação do vírus, revelou uma atividade intensa, associada a maior eficiência de contágio entre mamíferos. O D/HY11 também demonstrou resistência a antivirais tradicionais, como o Tamiflu, embora responda a medicamentos mais novos, como o baloxavir.
Testagem rotineira
Os pesquisadores alertam que, atualmente, nenhum país realiza testagem rotineira para a Influenza D, o que facilita sua propagação “silenciosa”. A ausência de um monitoramento sistemático significa que o vírus pode estar se espalhando sem ser detectado, especialmente em regiões rurais e entre trabalhadores do setor pecuário.
Segundo o estudo, publicado na revista Emerging Microbes & Infections, o surto de Influenza D já se configura como um problema conjunto entre humanos e gado, com possibilidade de expansão global caso o vírus adquira mutações que permitam a transmissão sustentada entre pessoas.
A descoberta reacendeu debates sobre vigilância sanitária internacional e prevenção de novas pandemias. Desde a Covid-19, redes globais de pesquisa vêm intensificando o rastreamento de vírus zoonóticos, que são aqueles que passam de animais para humanos, por meio de sequenciamento genético e análises de soro humano.
Para especialistas, a identificação precoce do D/HY11 é um alerta de que o mundo continua vulnerável a novos surtos. Eles defendem que a vigilância constante, a cooperação científica e o desenvolvimento de vacinas específicas são as melhores defesas diante de um vírus que já cruzou a fronteira entre espécies e ameaça dar o próximo passo rumo à transmissão humana sustentada.