Quinta-feira, 08 de maio de 2025
Por Redação O Sul | 1 de maio de 2022
Meses após a primeira participação de uma atleta trans em Jogos Olímpicos — a neozelandesa Laurel Hubbard competiu em Tóquio-2020 no levantamento de peso —, os holofotes miraram a nadadora americana Lia Thomas, da Universidade da Pensilvânia, que se destacou na competição universitária do país, em março, reacendendo a eterna polêmica da vantagem da mulher trans em relação à cisgênero.
Entre um evento e outro, o Comitê Olímpico Internacional (COI) lançou, oficialmente, o novo documento da entidade para a inclusão e não discriminação de gênero, que vem dividindo opiniões entre especialistas no assunto desde a área médica às teorias sociais.
Entre os pontos positivos apontados por alguns está a visão mais inclusiva do COI, que retira das suas diretrizes a obrigatoriedade de testes e níveis pré determinados de testosterona (principal marcador biológico utilizado para avaliar possíveis ganhos atléticos entre os gêneros), recomenda a aceitação de todos de acordo com a sua identidade de gênero e orienta que cada esporte tenha sua própria política de inclusão de acordo com as características da modalidade. O documento foi elaborado após consulta de mais de 250 pessoas e entidades de diversas áreas do conhecimento.
“Com a estrutura do COI dizendo que nenhum atleta tem uma vantagem inerente por causa de quem eles são, os órgãos nacionais e as federações internacionais deveriam priorizar a inclusão em vez de procurar maneiras de manter as pessoas fora do esporte. Se adotarmos essa abordagem, o cenário do esporte pode mudar de forma muito positiva em termos de inclusão”, acredita o ativista e triatleta trans americano Chris Mosier.
USA Swimming endurece
Por outro lado, as políticas de inclusão a cargo das federações internacionais e órgãos nacionais podem criar mais distorções sem um padrão estabelecido pelo COI. Alguns cientistas da Federação Internacional de Medicina Esportiva alegam que o documento da entidade tira força dos princípios médicos e científicos, tornando o esporte mais injusto.
“O COI considerou apenas questões de direitos humanos e não questões biológicas. Assim, eles produziram um documento que pode ser ignorado por muitos órgãos governamentais esportivos. O COI corre o risco de se tornar irrelevante em futuras discussões sobre como lidar com o assunto porque está preocupado apenas com os direitos humanos”, contesta a corredora trans Joanna Harper, que publicou a primeira análise de desempenho de atletas transgêneros em 2015.
Alguns órgãos já estão em movimento para modificar suas diretrizes. A USA Swimming (responsável pela natação nos Estados Unidos) endureceu seus critérios para atletas trans no início deste ano, pouco antes das competições universitárias. Agora, a entidade exige testes de testosterona abaixo de 5nmol/l — até o novo documento o COI estabelecia 10nmol/l — nos últimos 36 meses.
A FINA (Federação Internacional de Natação), por exemplo, exige os exames dos últimos 12 meses, mas desde janeiro vem debatendo a mudança das diretrizes de inclusão de atletas trans.
Parâmetros por esporte
Dentro desses parâmetros, Lia Thomas, de 22 anos, não poderia participar das competições. Mas a NCAA, organizadora dos esportes universitários, decidiu adotar as diretrizes da FINA para não mudar as regras no meio da temporada. O caso de Lia, que não é federada pela USA Swimming e encerra a universidade este ano, abriu portas para discussões políticas em diversos estados conservadores que querem proibir a participação de atletas trans no esporte por meio de lei.