Sábado, 11 de outubro de 2025
Por Redação O Sul | 15 de fevereiro de 2018
Novos documentos anexados à apuração sobre a participação do ex-procurador da República Marcello Miller na delação da JBS/Friboi devem ajudar os investigadores a traçar uma linha do tempo precisa do caso e delimitar a participação de cada agente no processo que deflagrou o maior escândalo do governo do presidente Michel Temer. São mensagens de texto trocadas por Miller e pela advogada Esther Flesch, ex- sócia do escritório Trench Rossi Watanabe.
Os dados foram recuperados de um telefone funcional de Flesch e juntados aos autos da apuração a pedido da PGR e por determinação do ministro Edson Fachin, do STF (Supremo Tribunal Federal), em dezembro. Segundo fontes que acompanham a investigação, as comunicações pelo telefone eram ainda mais explícitas do que as travadas por e-mai pela advogada e pelo o ex-procurador.
Nas mensagens, ainda em fevereiro de 2017, Miller trata o contato com os irmãos Joesley e Wesley Batista como um trunfo para negociar, por meio de Esther, com o TRW. O conteúdo da conversa pelo aplicativo deixa claro que é o ex-procurador quem leva o cliente até ela – Miller chegou a negar que sua atuação tivesse sido decisiva para a empresa fechar com a banca.
Ainda em fevereiro, o ex-procurador escreve a Esther que teria um novo cliente, um negócio grande. Depois, deixa claro que fala da JBS/Friboi. Na época, ele ainda integrava os quadros da PGR, onde atuou como ponta de lança na negociação de delações importantes e que envolveram grampos de autoridades, como a que levou o ex-senador Delcídio do Amaral à prisão. Temer foi gravado por Joesley Batista no dia 7 de março.
Neste mês, Miller e Esther já debatiam abertamente pelo telefone não só a estratégia para firmar um acordo de leniência para o grupo J&F (controlador da JBS/Friboi) como também deixavam claro que ele acompanhava as tratativas da delação dos irmãos Batista.
Bonificação
O ex-procurador e a advogada chegaram a falar em uma bonificação de até R$ 40 milhões pelos resultados que obteriam com a leniência da empresa. Como se sabe, eles acabaram não embolsando o valor e perdendo o emprego no TRW quando as suspeitas de que o ex-procurador atuou dos dois lados do balcão vieram a tona. Oficialmente, Miller só deixou a PGR no dia 5 de abril de 2017.
À Justiça, a banca informou que não tinha conhecimento das tratativas de Miller e Flesch, que foram travadas à margem de seus sócios. Flesch sempre negou irregularidades. O seu advogado, Fábio Tofic, diz que “a conversa citada prova que quando Miller mencionou a possibilidade de indicar a JBS, a proposta do TRW já havia sido feita e sua contratação estava praticamente finalizada”.
Miller chegou a dizer aos procuradores que fez uma “lambança”, mas não um crime. Em nota, a defesa do ex-procurador afirmou que “as mensagens somente comprovam que não houve qualquer prática criminosa”. “Ele estava apenas deixando o cargo de procurador para ingressar na iniciativa privada, momento em que algumas tratativas preliminares são naturais, já esclarecidas às autoridades competentes.”