Terça-feira, 30 de setembro de 2025
Por Redação O Sul | 29 de setembro de 2025
Fachin afirmou que o STF terá como prioridade a defesa da ordem democrática e da Constituição.
Foto: Rosinei Coutinho/STFO ministro Edson Fachin tomou posse nesta segunda-feira (29) como o novo presidente do Supremo Tribunal Federal (STF). Em seu discurso, Fachin defendeu a democracia e que o Judiciário não seja submisso a ninguém. Dentro dessa liberdade judicial, no entanto, pregou a autocontenção da magistratura, e não um ambiente de “espetáculo”.
Fachin assume no lugar do ministro Luis Roberto Barroso, cujo mandato de dois anos à frente da Corte terminou nesta segunda.
Na cerimônia de posse estavam presentes, além dos demais 10 ministros do STF, as mais altas autoridades da República: o presidente Lula, o presidente do Senado e do Congresso, Davi Alcolumbre (União-AP), o presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), e o procurador-geral da República, Paulo Gonet. Governadores de todo o país também assistiram à cerimônia.
O novo presidente toma posse em um cenário em que o STF ainda convive com ataques do governo do presidente Donald Trump, dos Estados Unidos. Alegando que o tribunal promoveu uma “caça às bruxas” ao julgar por golpe de Estado o ex-presidente Jair Bolsonaro (seu aliado), Trump impôs sanções econômicas ao Brasil e sanções individuais a ministros do STF.
“A independência judicial não é um privilégio, e sim uma condição republicana. Um Judiciário submisso, seja a quem for, mesmo que seja ao populismo, pede sua credibilidade. A prestação jurisdicional não é espetáculo. Exige contenção”, afirmou Fachin.
Em um momento em que o Congresso chegou a debater a anistia para os condenados pelos ataques golpistas do fim de 2022 e início de 2023, além de frequentemente se queixar de ativismo judicial, Fachin afirmou que deve haver equilíbrio entre os poderes da República.
Para ele, a Política deve cuidar de temas políticos. Os temas do Direito devem ficar com a Justiça.
“Impende ter consciência das condições históricas que o presente traduz. É tempo de realimentar os elementos fundantes da estrutura do Estado brasileiro, e com isso reforçar os princípios que informam a democracia na República. Nosso compromisso é com a Constituição. Repito: ao Direito, o que é do Direito. À Política, o que é da Política. A espacialidade da Política é delimitada pela Constituição. A separação dos poderes não autoriza nenhum deles a atuar segundo objetivos que se distanciem do bem comum”, defendeu Fachin.
Fachin afirmou que o STF terá como prioridade a defesa da ordem democrática e da Constituição. Ele destacou que não aceitará emendas constitucionais que afrontem direitos fundamentais ou a ordem democrática.
“Nosso compromisso é com a Constituição. Repito: ao Direito, o que é do Direito. À Política, o que é da Política. O genuíno Estado de Direito conduz à democracia. O governo de leis e não o governo da violência: eis o imperativo democrático capaz de zurzir o autoritarismo”, disse.
O novo presidente também citou o professor Dalmo Dallari para reforçar a ideia de que a fé nas instituições é condição para a autoridade verdadeira:
“A mensagem é simples: só há autoridade verdadeira quando há confiança coletiva no que é justo.”
O ministro afirmou que sua gestão terá como marca o respeito à diversidade e a defesa da liberdade de imprensa.
“Assegurar a igualdade e enfrentar a discriminação racial passa também pela proteção das terras e das expressões culturais e modos de vida. Realço, ainda, em nossa gestão, o compromisso com a plena liberdade de imprensa e a liberdade de pensamento e de expressão”, afirmou.
Segundo ele, a Constituição de 1988 nasceu da resistência cívica e segue sendo a referência:
“A chama da Constituição de 1988 continua acesa. E nós vamos mantê-la.”
Fachin também apontou a necessidade de resposta firme à corrupção, que chamou de “cupim da República”.
“Ninguém está acima das instituições. Elas são imprescindíveis e somos melhores com elas”, disse.
Ele ainda destacou que não há justiça sem compromisso ambiental:
“A natureza nos interpela e reclama seus direitos. A justiça socioambiental tem um grande débito a saldar com a crise climática.”