Segunda-feira, 05 de maio de 2025
Por Redação O Sul | 15 de junho de 2017
A instabilidade política e a grave crise econômica que afetam a Venezuela tem feito com que um crescente número de pessoas venha para o Brasil pela fronteira com Roraima. Só nos primeiros seis meses deste ano a Polícia Federal no estado já recebeu 5.787 pedidos de venezuelanos querendo refúgio, cerca de 3,5 mil a mais do que em todo o ano de 2016.
Ao passo que avança a tentativa de Nicolás Maduro em promover uma reforma jurídica no país, o número de pedidos de refúgio na sede da Polícia Federal em Boa Vista cresce.
Dados mostram que a quantidade de solicitações de refúgio feitas em 2017 em Roraima já é consideravelmente maior do que a registrada em todo o ano passado, quando pouco mais de dois mil venezuelanos fizeram o pedido, representando um aumento de 159%.
Até março eram mil pedidos de venezuelanos e 5 mil agendamentos para solicitações, enquanto que nos meses de abril e maio foram formalizados 3.773 pedidos. Agora os agendamentos foram suspensos e todos convocados a formalizar a solicitação. Para dar conta da demanda, a sede da PF trabalha com efetivo reforçado.
O aumento no número de pedidos não é novidade. Desde 2015 tem aumentado sucessivamente o número de solicitações de refúgio recebidos pela PF por parte de venezuelanos que deixaram o país natal e cruzaram a fronteira com o Brasil por Roraima.
Em 2014 foram apenas nove solicitações de refúgio feitas por venezuelanos no estado. Já em 2015 esse número cresceu para 230 e chegou a exatos 2.230 em 2016.
O Ministério da Justiça também aponta um aumento sensível no número de pedidos de refúgio de venezuelanos em todo o Brasil. Só até maio deste ano, a quantidade de solicitações já tinha dobrado, totalizando 8.231 solicitações. Durante os 12 meses de 2016 foram 3.375 pedidos.
O pedido de refúgio é o caminho mais rápido e seguro para legalizar a situação no Brasil, mas depende de análise do Conare, o que costuma levar algum tempo. Prova disso é que até agora, apenas cinco solicitações de refúgio de cidadãos venezuelanos feitas em Roraima já receberam algum tipo de resposta.
Pedidos de residência temporária
De acordo com a Polícia Federal em Roraima, em três meses também foram recebidas 124 solicitações de venezuelanos que desejam obter residência temporária no Brasil.
Muitos dos que vem para Boa Vista buscam moradia em um abrigo provisório instalado desde 27 de dezembro na periferia da capital. A permanência no local, administrado pela Defesa Civil estadual e Federação Humanitária Internacional, deve ser de no máximo 15 dias.
O abrigo improvisado funciona em um ginásio poliesportivo com problemas estruturais, mas oferece comida e atrai muitos venezuelanos, entre eles dezenas de índios da etnia Warao. Recentemente, o governo do estado recebeu R$ 480 mil do Ministério do Desenvolvimento Social e Agrário e diz que fará reparos no local.
Um levantamento realizado no dia 5 deste mês apontou que há 289 venezuelanos morando no abrigo. Desse total, 205 são índigenas da etnia Warao e 84 não-índios.
Outros venezuelanos decidem ficar na fronteira com o país natal e buscam moradia na cidade de Pacaraima, distante 190 km de Boa Vista e a 17 km de Santa Elena de Uiarén, primeira cidade venezuelana após a fronteira com o Brasil.
A cidade com pouco mais de 10 mil habitantes recebe diariamente centenas de venezuelanos. Alguns só estão interessados em comprar comida e voltar para o país de origem, provocando uma verdadeira corrida por alimentos na cidade.
Outros decidem se tornar moradores de Pacaraima e ficam em situação de rua, chegando até mesmo a viver dentro de banheiros públicos junto com dezenas de conterrâneos.
Devido ao crescente número de imigrantes na cidade, o governo federal planeja ofertar 200 vagas a venezuelanos em um centro provisório de acolhimento em Pacaraima, segundo a Casa Civil da Presidência da República informou no mês de maio, em visita ao estado. (AG)