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Mundo “Nunca imaginaria se tratar de um terrorista”, disse o dono da pensão onde Cesare Battisti ficou na Bolívia

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Battisti foi sentenciado à prisão perpétua pelo assassinato de quatro pessoas. (Foto: Polizia di Stato/Redes Sociais)

“Seu descanso, nosso objetivo”, a mensagem de boas-vindas escrita na entrada de uma pensão onde Cesare Battisti se hospedou em sua fuga para a Bolívia, soa irônica agora que o italiano foi preso no país e devolvido à Itália para cumprir pena perpétua.

Ele chegou ao residencial La Casona Azul, em Santa Cruz de La Sierra, na noite de 16 de novembro, dia em que entrou ilegalmente no país pela fronteira com Mato Grosso, segundo as investigações da polícia boliviana. E até descansou por uns dias no quarto sem luxo e com cheiro de mofo pelo qual pagava diária de 140 bolivianos (cerca de R$ 75).

Mas deixou o local em 5 de dezembro, quando começou a perceber, de acordo com os investigadores, que ali não teria mais sossego: a Interpol estava na sua cola e poderia chegar a qualquer momento.
A polícia só descobriu a pensão cerca de dez dias depois, quando o italiano já não estava lá. Seu esconderijo até ser preso no sábado (12) ainda é um mistério. Pode ter ficado em mais de um lugar.

O casarão de paredes azuis, com fachada de sobrado e 26 quartos distribuídos em dois andares, foi também, de certa forma, decisivo para a detenção de Battisti, já que ali investigadores da Bolívia e da Itália, que estavam na cidade para tentar encontrá-lo, conseguiram informações que ajudaram na localização do foragido.

“Que posso falar sobre ‘Battista’? Era muito gente boa, correto, tranquilo”, disse o dono da pensão, Enrique Peralta. Um peruano do tipo bonachão, que vive em Santa Cruz há dez anos, ele disse não ter a menor ideia de que se tratava de alguém tão conhecido e tão perseguido.

“Nunca imaginaria que se tratava de um terrorista. Comprava picolés para meus três filhos, era muito carinhoso com eles, especialmente com a que tem mais ou menos a mesma idade do filho dele [de cinco anos]. Disse que tinha um filho no Brasil”, narrou Peralta, que mora na pensão com a mulher boliviana, as crianças, um cachorro e dois gatos.

Battisti chegou em uma caminhonete dirigida por um boliviano — descobrir a identidade do homem é um dos próximos passos da apuração policial, que tenta confirmar se mais pessoas da Bolívia e do Brasil foram cúmplices do italiano.

Foi esse acompanhante, segundo o dono da Casona Azul, quem se registrou na recepção, mas só o italiano ficou de fato hospedado. Depois ele se identificou aos funcionários com o nome verdadeiro e disse que era brasileiro.

Peralta repassou às autoridades os dados da ficha de entrada, mostrou imagens das câmeras de segurança da recepção e da calçada, descreveu a aparência do italiano.

Os registros ajudaram a ter uma ideia do veículo que o levou. Exibiram ainda um Battisti mais magro do que se esperava, com bigode e cavanhaque escuros (e não grisalhos, como se imaginava).

O proprietário tinha ainda em seu celular números discados pelo italiano. Quando chegou do Brasil, ele pediu ao anfitrião o aparelho emprestado uma vez para fazer telefonemas. “Depois ele comprou uma linha local, um celular de araque”, afirmou. “Ele me dizia que era um empresário brasileiro e estava aqui porque queria fornecer asfalto para o governo. Foi o que ele comentou.”

A polícia passou a considerar Peralta peça-chave. E, por ter contribuído na localização, ele tem agora receio de virar alvo de eventuais apoiadores de Battisti.

“Não sei quem pode tê-lo ajudado, na Bolívia ou no Brasil. Há muita gente perigosa por aqui”, disse o habitante da cidade conhecida pelo domínio do narcotráfico. “Mas, se quiser tirar fotos da fachada e fazer propaganda no Brasil, fique à vontade”, emendou, gargalhando.

Por ali o hóspede da suíte 7, no térreo, deixou impressão positiva. Passava boa parte do tempo no quarto com ar-condicionado, pouco maior do que a cama de casal no centro do cômodo. Uma mesinha de canto, uma cadeira de plástico, duas prateleiras e um espelho pendurado completam o mobiliário. As paredes claras precisam de retoque na pintura. O banheiro é sem box.

No segundo piso há uma cozinha coletiva. “Ele cozinhou massa uma vez. Ia ao mercado, comprava jornal, voltava, dava atenção às crianças”, relembrou o dono da hospedagem, que fica em uma avenida mais próxima do subúrbio do que da região central da cidade.

Na mesma via, a cerca de 100 m, Battisti também deixou lembranças na mercearia. “Era um fraquinho, né?”, indagou a vendedora Lucía Fernandez, 35, apertando os olhos para enxergar a foto mostrada pelo repórter. “Esteve aqui sim. Comprou cerveja duas vezes. Sentava aí e bebia”, disse ela, apontando um banquinho de madeira.

Ele preferia, segundo Lucía, a lata da marca Ducal, que custa 5 bolivianos (cerca de R$ 2,70). “Aí sentava e tomava, mas não falava nada. Depois ia para o quarto dele na Casona”, completou ela, atrás das grades que bloqueiam a porta da lojinha sem nome.

O italiano costumava usar óculos escuros, mas foi deixando pistas nas andanças pelas ruas. Era um tipo diferente dos que se veem comumente por ali, afirmam os moradores. Os descuidos foram fundamentais para a investigação, como contaram três integrantes da linha de frente da apuração.

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