Quarta-feira, 26 de novembro de 2025
Por Redação O Sul | 30 de setembro de 2017
Em gravações recuperadas pela PF (Polícia Federal), um dos donos da J&F, o empresário Joesley Batista, ao comentar as negociações para firmar acordo de colaboração premiada com o MPF (Ministério Público Federal) diz ao executivo do grupo Ricardo Saud que “ com essa história aqui [delação] nós não vamos fazer rolo nunca mais”. Na sequencia, Saude que também fechou acordo, responde. “Nós nunca mais vamos ganhar a vida fazendo rolo.”
No novo áudio, revelado pela revista Veja, o empresário faz pelo menos duas previsões que se mostraram certeiras sobre o desenrolar da crise: a de que a delação da JBS faria o doleiro Lucio Funaro “dar com a língua nos dentes” e acusar Temer em sua delação; e de que havia o risco para ele e seu irmão Wesley de que a delação fosse, no futuro, anulada.
A conversa revelada aconteceu entre Joesley Batista, o executivo Ricardo Saud, o diretor jurídico Francisco de Assis e Silva, e a advogada Fernanda Tórtima, que auxiliava os empresários na delação. Os quatro conversavam em um carro após um encontro de negociação da delação com procuradores da Procuradoria-Geral da República (PGR), em que mostraram as gravações contra Michel Temer e Aécio Neves.
No áudio, o dono da JBS mostrava ter a dimensão de que gravar e denunciar alguns dos políticos mais importantes do país seria um divisor de águas na sua vida. Mas Joesley manifestou no diálogo o receio de contar tudo e depois ver sua delação anulada.
“Vou te falar um negócio: se amanhã esses caras [procuradores] vierem falando que topam, que estão firmes, no prazo, com não denunciar nem eu nem Wesley? Vai tomar no cu, vamos pegar aquele outro assunto lá e vamos enfiar nisso. Eu não vou perder noite de sono”, disse.
“Ganhar imunidade…”, completa Assis e Silva.
“Porra! Virar essa página, nem lembrar disso mais nunca… E nós não vamos poder mais fazer rolo mesmo. Acabou. Com essa história aqui, acabou. Nós não vamos fazer rolo mais nunca.”
“ Até porque ninguém vai querer fazer com a gente mesmo”, completa o executivo Ricardo Saud.
E Joesley segue o raciocínio. “Lógico. Não tem maior governança do que isso. Primeiro: um negócio desse, você se autoprendeu, se autoisolou. Segundo: você “se autocompliance”, porque ninguém mais vai fazer rolo com você. Ninguém vai ter coragem de ter uma conversa meio assim com você… “rapaz, esses caras denunciaram presidente da República, tá louco? vai fazer rolo com esses caras?” Ou seja, nós nunca mais vamos ganhar a vida fazendo rolo. Pronto.”
E Ricardo Saud complementa. “Graças a Deus já não precisa mais mesmo, então pronto.”
Ensinando a corromper
Em trecho anterior da conversa, quando a advogada Fernanda Tórtima ainda estava no carro onde os empresários falavam, ela elogia a postura de Joesley na negociação com os procuradores. “Eles gostaram de você de cara. Quando falaram ‘porque as pessoas têm certa dificuldade de falar…” aí você “que propina é propina?’ Sérgio Machado levou 15 dias para falar a palavra propina”.
Neste momento, Joesley promete ensinar como se corrompe alguém.
“Viu, ô Francisco? Você quer aprender a corromper os outros? Tem uma técnica, sabia?”
Em seguida, ele interrompe o raciocínio porque procura o endereço onde deixaria a advogada. “Qual é a técnica? Não que eu queira fazer…”, diz Tórtima.
Mas o carro chega ao endereço procurado e Fernanda Tórtima se despede dos executivos sem ter a curiosidade saciada.
Em nota, a defesa dos delatores da JBS informa que “diferentemente do que foi publicado pela revista Veja, os áudios a que se refere o texto não foram entregues ‘acidentalmente’ à PGR pelos executivos da JBS, nem são mais recentes que os demais já divulgados”.
Ainda segundo a defesa, as gravações já haviam sido recuperadas dos aparelhos entregues há meses por Joesley Batista à Polícia Federal, e estavam com sigilo decretado pelo STF por se tratarem de diálogos entre advogados e clientes.