Passados quase seis meses dos Atos Antidemocráticos de 8 de janeiro, o Alto-Comando do Exército continua enredado numa trama da qual afirma, dia sim, outro também, não ter participado institucionalmente de um plano para dar um golpe, impedindo a posse do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
Em entrevista para o jornal O Estado de S.Paulo, o chefe do Estado-Maior da Força Terrestre, general Fernando José Sant’Ana Soares e Silva, segundo homem na linha de comando do Exército, reiterou que o Exército jamais pensou em dar um golpe de estado.
“Nós, o Exército, nunca quisemos dar nenhum golpe. Tanto não quisemos, que não demos. Não houve uma única unidade sublevada”, disse.
“As Forças Armadas não se envolveram em atos golpistas. Muitos militares da reserva podem ter atuado nesse ou naquele sentido. Entretanto, nós, não”, insistiu o general.
Conforme o Exército, O Estado-Maior é responsável por “estudar, planejar, orientar, coordenar e controlar, no nível de direção-geral, as atividades da Força”, em conformidade com as decisões e diretrizes do comandante. O chefe do Estado-Maior integra o Alto-Comando, que reúne o comandante e outros 15 generais da ativa de quatro estrelas – o topo da hierarquia.
A política tomou conta da Força nos últimos anos, admitem oficiais. “Fomos totalmente capturados pelos assuntos políticos. Tragados pela percepção do golpismo”, avaliou o chefe do Estado-Maior do Exército.
Sobre as redes sociais: “As redes sociais são muito atuantes e se perde uma energia infinita tentando desmentir ou separar o que é verdade das fake news”, disse ele.
Não que o Exército, prosseguiu o general, não tenha o que dizer e mostrar à sociedade.
A Polícia Federal encontrou possíveis planos de golpes nas trocas de mensagens entre tenente-coronel Mauro Cid, então ajudante de ordens de Jair Bolsonaro, e oficiais como o coronel Jean Lawand Junior.
“Não haverá como mudar a imagem da Força se nós, dentro, continuarmos a nos dividir. Se esses companheiros não entenderem que a única condição viável é a da democracia. Que nós não temos o direito de usar o Exército para atividades que contrariem nossa função precípua estabelecida na Constituição”, disse o chefe do Estado-Maior.
Na semana passada, o Exército barrou a transferência de Lawand Junior para um cargo nos Estados Unidos. O comandante da Força, general Tomás Paiva, determinou que ele ficasse no País para responder aos inquéritos do 8 de janeiro.
O tenente-coronel Cid está preso por suspeita de fraudar cartões de vacina contra a covid-19.
