Pela internet as pessoas se encontram, fazem negócios, acessam serviços e empreendem, porém mais da metade da população mundial ainda está offline. E números que fazem parte de relatório da Web Foundation indicam uma desaceleração no avanço da rede. Impulsionadas pelos celulares e smartphones, as taxas de crescimento atingiram pico de 19,2% em 2007, se mantiveram por anos na casa dos dois dígitos, mas despencaram para apenas 5,7% no ano passado. Neste cenário, as metas dos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável para o setor, que eram ambiciosas, tornam-se praticamente impossíveis de serem alcançadas. As informações são do jornal O Globo.
Surfando no otimismo de anos atrás, a UIT (União Internacional de Telecomunicações) – agência da ONU especializada em tecnologias de informação e comunicação – previu em 2014 que mais da metade da população mundial estaria conectada em 2017. Mas a realidade mostrou que dos 7,6 bilhões de habitantes do planeta, apenas 3,6 bilhões estão na rede. Segundo Sonia Jorge, diretora-executiva da Alliance for Affordable Internet – iniciativa da Web Foundation, organização criada pelo inventor da World Wide Web, Tim Berners-Lee –, a estimativa atual é que apenas em maio de 2019 metade da população mundial estará on-line. Isso torna inviável o cumprimento da meta acordada pela Assembleia das Nações Unidas, de “oferecer acesso universal e a preços acessíveis à internet nos países menos desenvolvidos, até 2020”.
“A desaceleração se deve a vários fatores, sendo o custo um dos principais. Pelos preços atuais cobrados pelo acesso à rede, é muito difícil conectar os desconectados”, analisou Sonia. “As políticas públicas não estão criando as condições certas para que os custos baixem para os usuários na velocidade necessária.”
Em relatório, a Alliance for Affordable Internet destaca que a “incapacidade para pagar por uma conexão básica de internet continua uma das maiores – e solucionáveis – barreiras ao acesso”. No mundo, mais de dois bilhões de pessoas vivem em países onde pacotes básicos são inacessíveis para a maior parcela da população. Entre os 61 países de renda média ou baixa pesquisados, apenas 24 alcançaram a meta conhecida como “1 para 2”, de 1 GB de dados móveis custando até 2% da renda média, considerada o corte para acessibilidade. Na média geral, os pacotes de 1 GB de dados móveis custam 5,5% da renda mensal.
Brasil
O estudo avalia a acessibilidade à internet considerando a infraestrutura existente e os cronogramas dos projetos de expansão; e as taxas de adoção da banda larga e as políticas de ampliação do acesso. No ranking, o Brasil é apontado como um exemplo negativo na edição deste ano, ocupando apenas a 13ª posição, sendo que em 2016 estava na 2ª e, ano passado, na 6ª.
“Esta queda é resultado de uma série de fatores, incluindo a desaceleração nas taxas de adoção de smartphones e atrasos contínuos na implementação de novas regras para instalação de torres”, afirma o relatório, que coloca o país atrás de vizinhos da América Latina, como Argentina, Colômbia, Peru, Equador e México.
“O Brasil tem sido vítima da crise política e econômica”, comentou Sonia.
Em relação ao custo da conexão, o Brasil já superou a meta “1 para 2”. Entretanto, ressaltou Sonia, por causa da desigualdade social esse número mascara a exclusão das camadas mais populares. Enquanto para os 20% mais ricos o preço de 1 GB representa 0,6% da renda média mensal, entre os 20% mais pobres o mesmo pacote custa 9,4% da renda, quase cinco vezes o valor considerado acessível. Existe ainda o problema da falta de infraestrutura em regiões remotas, onde o investimento pela iniciativa privada é inviável pelo baixo retorno de assinantes.
“O Brasil precisa pensar em como criar parcerias para áreas não atraentes para o mercado, para que as operadoras possam chegar às regiões descobertas pela rede”, analisou Sonia. “A exclusão digital afeta exatamente a parcela da população que mais teria a ganhar com a internet, com acesso a serviços públicos e a ferramentas de geração de renda.”
O entregador Ojarçon Tenorio, de 40 anos, sofre para encaixar um acesso de qualidade no orçamento. Ele assina um plano semanal, pago a cada sete dias, mas assistir vídeos no YouTube, sua principal atividade na rede, muitas vezes é “impraticável”. “Para ter um serviço melhor, fica muito mais caro, não cabe no meu orçamento. Eu recebo numa faixa de R$ 1.500, não posso gastar muito com isso.”
Dados da pesquisa TIC Domicílios, elaborada pelo Centro Regional de Estudos para o Desenvolvimento da Sociedade da Informação (Cetic.br), mostram que no Brasil a curva do percentual da população conectada continua crescendo, avançando seis pontos percentuais entre 2016 e 2017. No início da série histórica, em 2008, 34% dos brasileiros estavam conectados, taxa que subiu para 67% ano passado.