Sexta-feira, 25 de julho de 2025
Por Redação O Sul | 30 de junho de 2019
O assassinato do pastor Anderson do Carmo de Souza completou duas semanas neste domingo (30) envolto em mistérios. Embora logo nos primeiros dias a polícia tenha descoberto que a origem do crime é possivelmente uma trama familiar, ainda faltam muitas peças do quebra-cabeça. A investigação sobre a morte do marido da pastora e deputada federal Flordelis suscita uma série de dúvidas, que vão da motivação até o número de pessoas efetivamente envolvidas no homicídio. O casal criou 55 filhos, 51 deles adotivos. As informações são do jornal O Globo.
A DH (Delegacia de Homicídios) de Niterói e São Gonçalo (RJ), responsável pela investigação, já ouviu dezenas de depoimentos de filhos, netos, genros e noras, além de amigos do casal que frequentavam a casa da família, em Pendotiba, Niterói, onde o pastor foi assassinado.
Algumas das testemunhas, como André Luiz de Oliveira, de 40 anos, filho do casal, já foram ouvidas mais de uma vez na delegacia. Elas são chamadas principalmente para esclarecer informações novas que vão surgindo ao longo da investigação. André prestou depoimento pela segunda vez na última segunda-feira. A própria Flordelis já deu seu relato sobre o crime duas vezes.
A DH também já apreendeu inúmeros documentos, uma arma que pode ter sido usada no crime e mais de vinte celulares de parentes e pessoas da família ou próximas ao casal.
Dois telefones cruciais para a investigação, no entanto, permanecem desaparecidos: o da própria vítima e de Flávio Rodrigues dos Santos, filho biológico apenas de Flordelis, preso sob suspeita de ter matado o padrasto.
Testemunhas relataram à DH que viram o telefone de Anderson na cena do crime. O celular, inclusive, chegou a ser usado por um dos filhos do pastor que enviou mensagens para grupos de WhatsApp horas após o assassinato. A família, no entanto, alega que o aparelho desapareceu.
Em relação ao telefone de Flávio, a polícia acredita que o rapaz tenha conseguido entregar o aparelho para algum parente antes de ser preso. Abordado pelos policiais da DH no enterro de Anderson, o filho de Flordelis ainda conseguiu entrar no carro da família antes de ser levado pelos agentes para a unidade. A polícia investiga a informação de que uma neta de Flordelis jogou um celular no mar, na Praia de Piratininga. Ainda não se sabe de quem seria o aparelho.
Morto a tiros
O pastor Anderson do Carmo de Souza foi morto a tiros na madrugada do dia 16 deste mês, na casa da família, em Pendotiba, na Região Oceânica de Niterói. O crime aconteceu pouco depois das 3h, logo após o religioso ter chegado à residência com a esposa, Flordelis. Eles tinham saído sozinhos naquela noite.
A pastora relata que, ao chegarem, ela subiu para o terceiro andar da casa, enquanto o marido permaneceu na garagem. Ela conta que conversava com um dos filhos, quando ouviu o barulho de tiros.
Filho admitiu tiros
A dinâmica divulgada até agora é que o pastor foi atingido na garagem da casa. Câmeras de segurança não registraram a chegada de nenhuma pessoa estranha pela entrada principal do imóvel. As imagens revelaram que, pouco depois das 3h, Lucas Cézar dos Santos, filho adotado do casal, chegou à casa da família. Ele deixou o local sete minutos depois, carregando uma mochila. Lucas está preso, sob suspeita de ter participado do crime.
Às 3h25m, Anderson e Flordelis chegam em casa. Às 3h40m, Flávio sai da casa às pressas. Ele retorna doze minutos depois. O relato é de que teria ajudado a levar o pastor para o hospital. O religioso, no entanto, não resistiu aos ferimentos. À polícia, Flávio admitiu ter atirado seis vezes contra o padrasto. Agora, a versão é contestada pela defesa dele.
Flordelis e Anderson se conheceram em 1993, na favela do Jacarezinho, na Zona Norte do Rio, onde a pastora nasceu e foi criada. No ano seguinte, eles se casaram. Na época, Flordelis já tinha três filhos biológicos de um relacionamento anterior. Juntos, a pastora e Anderson tiveram apenas um filho, Daniel dos Santos de Souza.
O casal precisou fugir da favela, em 94, ao ter problemas com a Justiça. Nesse ano, eles acolheram 37 crianças que escaparam de uma chacina na Central do Brasil, no Centro do Rio. A Vara da Infância e Juventude queria recolhê-los já que não havia um processo formal de guarda ou adoção.