Por Redação O Sul | 18 de julho de 2016
A palavra “guinada” parece ter mais sentido depois de quatro décadas de vida, segundo apontam os especialistas atualmente. O aumento da expectativa de vida e as aposentadorias tardias estão permitindo que pessoas com mais de 40 anos mudem de carreira com sucesso. “Essa fase é uma espécie de ‘segunda adolescência’, já que, após os 40, muitos começam a colocar em xeque valores pessoais”, afirma a coach Ana Lisboa.
Nessa época da vida, o foco se desloca da conquista de altas posições nas empresas e boa remuneração para qualidade de vida e sensação de satisfação profissional. Muitas vezes, a inquietação com o trabalho causa até problemas de saúde. É o caso do executivo de finanças Carlos Eduardo Madeira, 55, que deixou a carreira consolidada como cirurgião geral.
“Fiquei hipertenso, comecei a ter alterações no nível de colesterol e de açúcar no sangue. Meus colegas, muitos com 45 anos de profissão, ainda tinham vigor. E eu comecei a pensar que precisava achar algo que me trouxesse essa alegria”, afirma.
A solução foi fazer um MBA em gestão financeira. Lá conheceu o atual sócio, com quem pretende abrir uma consultoria no ramo. A participação em cursos da área desejada, mesmo que curtos ou gratuitos, é essencial para que o profissional não crie falsas expectativas sobre a nova carreira.
Reserva financeira torna a mudança mais tranquila.
Especialistas indicam ainda uma reserva financeira de cerca de um ano, período médio gasto na transição. Além disso, o apoio de parentes e amigos pode ajudar nos momentos em que a escolha parece incerta. Para isso, vale deixar claro o motivo da mudança e explicar por que ela pode representar um ganho em longo prazo.
“Se a pessoa toma esse passo sem a estabilidade em outros aspectos da vida, a chance de dar errado é grande. A transição sempre vai gerar algum tipo de sofrimento”, afirma o doutor e professor de Economia e Administração Joel Souza Doutra.
A técnica em nutrição Iracema Garcia, 65, foi atrás de um novo caminho após a morte do marido, há 13 anos. Ela era dona de casa, mas decidiu prestar vestibular para nutrição e voltar ao mercado. “A mudança me ajudou a lidar com a perda”, explica. Hoje, ela trabalha no treinamento de enfermeiras na empresa da filha.
A demissão também pode impulsionar a mudança profissional. Foi o que aconteceu com a farmacêutica Eliana Correia, 39. Desligada em fevereiro deste ano de uma grande empresa, decidiu virar professora. Em um mês, achou vaga para ensinar em um curso técnico e não planeja voltar ao mundo corporativo. “Resolvi ir atrás do que tinha vontade. Sempre quis dar aulas.”
Ela afirma que o salário diminuiu no novo cargo, mas ressalta que ganhou em qualidade de vida, tendo mais tempo para o marido e o filho, de 5 anos. “Em todos esses anos, nunca consegui estar tão presente.”
O maior desafio dos mais velhos é convencer o empregador de que está disposto a receber um salário menor. “As empresas temem que quem ganhava 15 mil reais e aceita ganhar 4 mil reais vai sair assim que conseguir algo melhor”, afirma o professor de Liderança e Gestão de Pessoas João Baptista Brandão.
Uma pesquisa do Vagas.com confirma o que o professor diz: 62% das 426 empresas ouvidas dizem contratar profissionais com mais de 40 anos com pouca frequência. (Folhapress)
