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Economia O Brasil tem muita energia de dia e pouca energia à noite

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Tecnicamente, o sistema elétrico funciona de forma equilibrada. (Foto: Helena Pontes/Agência IBGE Notícias)

No Brasil, o setor elétrico vive um paradoxo diário. Durante o dia, quando o sol está a pino, sobra eletricidade, e usinas solares e eólicas precisam até ser desligadas porque o sistema não consegue aproveitar tudo. Horas depois, ao anoitecer, quando os brasileiros chegam em casa e ligam a TV ou o chuveiro, o consumo dispara e a operação do sistema entra em alerta.

Tecnicamente, o sistema elétrico funciona de forma equilibrada. Geração e consumo de energia devem corresponder ao mesmo volume. Gerar mais ou menos do que o país consome significa que a rede elétrica será desestabilizada, sob risco de blecautes. O cenário é diferente do vivido há quase 25 anos, quando foi necessário decretar racionamento, porque a geração não era suficiente para atender ao consumo nacional.

Para evitar apagões, o Operador Nacional do Sistema (ONS) recorre a hidrelétricas e térmicas no fim do dia, para substituir a energia solar, até o momento das eólicas alcançarem o momento de maior vento, no meio da noite. É nessa transição que ocorrem os maiores riscos. O resultado é o desperdício de energia no meio do dia e risco de falta de potência à noite, com possibilidade real de apagão e impacto na conta de luz.

O problema não é apenas teórico: por duas vezes em 2025 o Brasil quase vivenciou blecaute nacional. A primeira vez foi em abril e a segunda, no Dia dos Pais, 10 de agosto.

Naquele domingo, o país quase enfrentou um apagão justamente por excesso de energia. Com baixo consumo durante o dia, a geração solar em telhados e pequenos terrenos bateu recorde, e o ONS precisou desligar parques eólicos e solares de grande porte, num processo conhecido como “curtailment”.

O “curtailment” ocorre quando a rede de transmissão não consegue escoar toda a geração, por falta de infraestrutura de transmissão ou quando a oferta de energia é maior do que a demanda.

Além disso, os cortes de geração têm causado perda de receita das eólicas e solares, que não contavam com essa limitação quando estavam nas pranchetas. O problema se agravou a partir de agosto de 2023, quando um blecaute afetou quase todos os Estados e deixou a operação mais conservadora.

O dilema tende a crescer porque nos últimos 20 anos a expansão das eólicas e solares transformou a matriz elétrica brasileira. Hoje, são cerca de 60 GW de potência solar e 35 GW de eólica conectados à rede.

Essa revolução, porém, trouxe novos desafios. A expansão descontrolada da geração distribuída impulsionada por subsídios se transformou em um problema para a operação do abastecimento de energia no país. Há mais de 43 GW dessa modalidade em operação, e 95% é solar.

No fim da tarde, essa produção de energia desaparece com o pôr do sol, obrigando o país a se apoiar em fontes mais caras. A preocupação com um blecaute provocado por excesso de energia solar é tão grande que a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) convocou reunião extraordinária com distribuidoras e ONS para debater soluções.

“O mix de suprimento do sistema mudou muito nos últimos anos com o forte crescimento das fontes não despacháveis, como a eólica e a solar”, disse Luiz Augusto Barroso, presidente da PSR Consultoria.

Este novo perfil de consumo da energia ao longo do dia ganhou de especialistas o apelido de “curva do pato”, para descrever o sobe e desce da demanda ao longo do dia. O problema é mais complexo porque só parte da energia solar, que soma cerca de 18 GW, está conectada em linhas de transmissão e é gerenciada pelo ONS.

A maior parte da geração solar no Brasil está conectada diretamente nas redes de distribuição, ou seja, fora do controle do operador. A projeção do órgão é assustadora: até 2029 menos da metade da capacidade instalada do país estará sob seu controle direto. Com milhares de pequenos geradores solares atuando de forma descentralizada, a previsibilidade do sistema elétrico torna-se cada vez menor.

O que tira o sono da professora de economia da FGV e diretora do Ceri (Centro de Estudos em Regulação e Infraestrutura) Joísa Dutra é que o Brasil está demorando a adaptar o arcabouço legal e regulatório para dar os incentivos corretos. O sistema tem se expandindo de maneira descentralizada, o que deixa desafios na operação.

“Em um primeiro momento o mundo achou que atenderia aos compromissos firmados na agenda climática implantando eólica e solar, que ficaram baratas. Hoje sabemos que não é só isso. O desafio é de integração, que é cara e depende de outros componentes”, afirma. “Enquanto isso, essa falta de sincronia causa sobrecustos ao consumidor.” As informações são do jornal Valor Econômico.

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