Quinta-feira, 19 de junho de 2025
Por Redação O Sul | 27 de outubro de 2020
O marqueteiro João Santana afirmou na segunda-feira (26), em sua primeira entrevista após fechar acordo de delação premiada na Operação Lava-Jato, que o caixa dois sempre fez parte da “alma do sistema político brasileiro”. Ao participar do programa Roda Viva, Santana também defendeu a honestidade dos ex-presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff, apesar de os ter acusado nos depoimentos que prestou. Santana disse ainda que uma chapa com Ciro Gomes como candidato e Lula como vice seria imbatível.
“O caixa dois é uma coisa que domina. O caixa dois foi sempre a alma do sistema eleitoral brasileiro. E era uma coisa geral. E poucos foram punidos”, disse o ex-marqueteiro do PT. Santana também afirmou durante a entrevista que o caixa dois atinge “99,9% dos marqueteiros e dos políticos do país”.
Condenado na Lava-Jato, ele ainda cumpre pena em regime aberto pelo crime de lavagem de dinheiro e usa tornozeleira eletrônica. O marqueteiro exibiu no programa um visual diferente dos tempos em que fazia campanha para candidatos do PT, com cabelo comprido, barba e brinco.
Ao ser questionado sobre se ele, nas propagandas políticas que ajudou a fazer com a imagem de que Lula e Dilma eram honestos, não teria incorrido numa falha moral, respondeu: “Não via desonestidade no sentido do uso pessoal. Era um uso de fundo eleitoral. É uma discussão complicadíssima. Mas em nenhum momento eu falei de Lula e Dilma como pessoas que fossem desonestas.”
O marqueteiro rebateu as acusações da ex-presidenciável Marina Silva de que foi vítima de fake news em 2014 por parte da campanha petista. “Era uma peça de exagero retórico”, afirmou Santana, rebatendo comparações com as práticas adotadas na campanha de 2018 de ataques nas redes sociais contra adversários do presidente Jair Bolsonaro.
Em propaganda daquela campanha de 2014, a proposta de Marina de formalizar a autonomia do Banco Central era transformada em retirada de comida da mesa dos trabalhadores.
Santana ainda fez um “mea culpa” do comercial da campanha para a prefeitura de São Paulo em 2008 em que questionava se o então adversário de sua candidata Marta Suplicy, o então prefeito Gilberto Kassab, era casado e tinha filhos. “Esse comercial é o maior erro técnico da minha vida”, afirmou.
O marqueteiro também acusou Lula, às vésperas da eleição de 2014, de ter desestabilizado o governo Dilma. Santana afirma que era íntimo dos dois ex-presidentes. “Uma das coisas que ajudaram na desestabilização da Dilma foi o Lula.”
De acordo com Santana, Lula não era claro, mas insinuava que gostaria de disputar a eleição de 2014 e falava mal das medidas da então presidente. O marqueteiro avalia que Lula não poderia mais ser candidato a presidente da República.
“O Lula é um personagem que não perde nem ganha. Se perder, afunda mais a ele e o PT. Se ganhar, aprofunda essa polarização e não conseguiria governar. Lula seria o melhor perfil para vice.”
Santana acredita que uma chapa com Ciro Gomes como candidato e Lula como vice seria imbatível, embora considere inviável que isso se concretize. “Essa chapa seria imbatível, mas os egos, os venenos, é impossível acontecer. É imitar a solução eleitoral genial que a Cristina (Kirchner) fez na Argentina”, falou, citando a ex-presidente e atual vice-presidente da Argentina, Cristina Kirchner.
No final da entrevista, ao ser indagado se havia mentido quando negou, antes de ser pego pela Lava-Jato, as acusações de que recebia por meio de caixa dois, Santana desconversou, mas no meio da resposta afirmou: “Todo mundo mente. A mentira é um privilégio, é quase um prazer humano.” As informações são do jornal O Globo.