Domingo, 11 de maio de 2025
Por Redação O Sul | 1 de janeiro de 2018
A recuperação da economia, em um cenário de juros mais baixos, deve levar a um movimento de concentração ainda maior no setor bancário brasileiro. Sem a eficiência dos grandes bancos para aumentar o volume de empréstimos e com menor nível de rentabilidade e eficiência, os bancos de pequeno e médio portes estão expostos a uma onda de fusões e aquisições, aponta estudo da empresa de classificação de risco Austin Rating, que espera uma intensificação desse movimento nos próximos cinco anos.
“Com a Selic a 7%, as operações de tesouraria com títulos públicos ficam menos rentáveis, e os bancos terão de emprestar mais para o varejo. As instituições pequenas e médias têm menos capilaridade, maiores custos operacionais e menor rentabilidade. Muitas devem se fundir ou ser compradas”, analisa Alex Agostini, economista da Austin Rating e responsável pelo estudo.
O levantamento mostra que a rentabilidade sobre o patrimônio, indicador que mede a capacidade da instituição de gerar valor com seus recursos e os de seus investidores, dos grandes bancos ficou em 13%, na média, no primeiro semestre do ano, enquanto nos pequenos o índice foi a metade: 6,3%. Já as despesas operacionais, com pessoal e tributárias dos pequenos foram, em média, de 16,9% no mesmo período, enquanto nos grandes chegou a 12,3%. A amostra analisada pela Austin incluiu dados de 115 pequenas e médias instituições e de oito grandes bancos.
“Os bancos pequenos e médios são menos competitivos porque atuam em diversas frentes de negócios. Aqueles que se especializaram em um nicho de mercado, como crédito consignado, têm mais chances de sucesso”, diz Agostini.
O cenário fica ainda mais complicado porque alguns desses pequenos e médios bancos apresentaram prejuízos com a crise que atingiu o país, lembra o especialista em bancos da consultoria Lopes Filho & Associados, João Augusto Salles. Ele observa que uma parte dessas instituições atua com empréstimos para pequenas e médias empresas, segmento que teve o caixa bastante afetado pela recessão: “Muitos elevaram suas provisões para devedores duvidosos, o que resultou em prejuízo”.
Provisões contra o calote
O aumento de provisões para devedores duvidosos teve impacto negativo no balanço do banco Indusval, focado em empréstimos a médias e grandes empresas. O banco registrou um prejuízo de R$ 74,9 milhões no terceiro trimestre deste ano, mais que o triplo da perda registrada no mesmo período do ano passado. O resultado, segundo analistas, foi influenciado pelo aumento de 130% nas despesas com provisão contra calotes, que somaram R$ 66,5 milhões no período. O Indusval tem mudado sua estratégia, concentrando os empréstimos em tíquetes menores e no setor do agronegócio, que sofreu menos com a crise.
Já o banco Pine, também especializado no atendimento a empresas, teve um prejuízo de R$ 244 milhões no terceiro trimestre, também influenciado pelo aumento de R$ 391 milhões em provisões no trimestre. O banco informou que decidiu fazer uma reavaliação do desempenho dos clientes.
Tanto o Indusval quanto o Pine estão trazendo um braço digital para aumentar sua captação. “Há uma mudança de estratégia nas operações de alguns bancos pequenos e médios, que começam a caminhar para se tornarem mais digitais. Aqueles que não se tornarem digitais têm mais chance de ser comprados”, diz Salles.