Quinta-feira, 16 de outubro de 2025
Por Redação O Sul | 24 de junho de 2018
Parecem dois Brasis diferentes: De um lado, um que exige cautela após a greve nacional dos caminhoneiros e diante das incertezas do cenário político-eleitoral. No outro, uma economia com ativos que estão baratos e com perspectiva positiva para o lucro de empresas.
Essas diferentes leituras vêm de economistas e gestores que se debruçam sobre os mesmos dados para decidir o que fazer com os investimentos de seus clientes no País. “Longe de ser incomum”, a divergência é saudável, diz Axel Christensen, estrategista de investimento para América Latina e países ibéricos.
Quem tem a visão “copo cheio” olha para a inflação sob controle e para a expectativa de crescimento econômico no longo prazo. Para Tina Byles Williams, presidente do FIS Group (que faz gestão de investimento, as ações, o dólar e outros ativos brasileiros já apanharam muito e estariam com preço bem inferior ao justo.
A avaliação positiva ocorre principalmente quando se compara o Brasil com outros emergentes, como o México, que tem eleição em julho e é uma das economias afetadas pela mudança na política comercial americana.
Para Williams, o Brasil também pode se beneficiar do conflito entre Washington e Pequim, por ser um dos maiores produtores de soja: “Não sei se vai conseguir ocupar o espaço deixado pelos Estados Unidos no comércio com a China, mas claramente será um beneficiário se o Gigante Asiático impuser tarifas sobre a soja norte-americana”.
Williams vê potencial nas ações de empresas menos capitalizadas na Bolsa de Valores (as small caps). “É um dos melhores lugares para alocar recursos na América Latina, com Chile e Colômbia”, argumenta.
Patrick Jamin, responsável pela estratégia de investimentos da gestora NorthCoast Asset Management, também compartilha da postura otimista. A empresa de sua propriedade comparou os indicadores de vários emergentes. Os resultados mostram que o Brasil está barato.
Segundo ele, os investidores já anteciparam o risco de vitória de um candidato não reformista – o principal temor do mercado: “Há uma perspectiva positiva para o lucro das empresas”.
Na região intermediária, o time da Capital Economics decidiu não revisar seu cenário, ao menos por enquanto. William Jackson, economista para mercados emergentes da consultoria, acredita que riscos gerados pela paralisação dos caminhoneiros serão compensados por uma retomada em junho e julho.
O cenário eleitoral, porém, pode se tumultuar: “A questão principal é se o novo governo vai ser capaz de enfrentar o grande déficit fiscal, em particular reformando o sistema previdenciário, para evitar o aumento do endividamento.”
Pessimismo
Há também visões pessimistas, mais alinhadas à percepção de risco de analistas domésticos. Nesse grupo está, por exemplo, Claudio Irigoyen, chefe de estratégia para a América Latina do Bank of America Merrill Lynch.
Ele diz estar mais conservador em relação ao Brasil. O banco reduziu à metade a projeção para o crescimento do PIB (Produto Interno Bruto) em 2018, de 3% para 1,5%: “A greve dos caminhoneiros, o aumento do preço do petróleo, a desaceleração da economia global e a piora nas condições financeiras não ajudam, e a incerteza das eleições também não ajuda.”
Para Gabriela Santos, estrategista de mercado global da JPMorgan Asset Management, o País de hoje é diferente daquele do começo do ano, quando os investidores acreditavam que a aceleração do crescimento favoreceria a vitória de um reformista.
Esse cenário não se materializou e a gestora reduziu de 3% para 2% a perspectiva para o PIB em 2017. A greve de maio, afirma, teve um impacto na atividade que não vai ser recuperado. “O investidor pode voltar, mas com uma tese de investimento diferente. Tem um preço para tudo”, alerta.