Domingo, 12 de outubro de 2025
Por Redação O Sul | 7 de maio de 2020
Embora pesquisadores tenham encontrado material genético do Sars-CoV-2 em amostras de esgoto, o contágio por água contaminada ou esgoto é pouco provável. A transmissão do coronavírus pelas fezes já foi apontada, embora a via principal seja respiratória.
José Paulo Leite, diretor do Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz), afirma que uma via de contaminação pela água ou pelo esgoto, se existir, é muito baixa. Segundo o bioquímico, o fato de que o vírus seja detectável no esgoto não equivale a dizer que ele se encontre em estágio infeccioso.
É importante lembrar que durante o período de isolamento social a prática de atividades recreativas, como nadar em represas ou visitar pontos turísticos, é vetada, sendo monitorada de acordo com a vigilância de cada município.
Doação de órgãos
Tanto o Ministério da Saúde quanto a ABTO (Associação Brasileiras de Transplante de Órgãos) informam que pessoas infectadas por Sars-Cov-2, causador da Covid-19, não devem ter órgãos doados para transplante.
Dados do ministério mostram que houve uma redução de 14% no número de transplantes realizados no período de 17 a 31 de março deste ano, quando foram realizados 1.514 transplantes, em comparação com o mesmo período de 2019, que somou 1.759. As maiores quedas foram nos transplantes de coração, que diminuíram 87%, e de pulmão, queda de 86%.
O Ministério da Saúde disse que a redução nas doações e nos transplantes ocorre em todo o mundo, o que torna a manutenção dos programas “extremamente desafiadora”. Afirma ainda que tem sido observado o adiamento de transplantes em pacientes mais estáveis.
Há também o medo do paciente de realizar o transplante neste período, e a cautela das equipes, que avaliam o risco e benefício em cada caso, levando em conta a possibilidade de contaminação durante o período de internação e o fato de o transplantado ser imunossuprimido, sem condições de combater de forma eficaz uma eventual infecção.
Coordenadora da comissão de infecção em transplantes da ABTO, a infectologista Raquel Stucchi afirma que, além da redução do número de acidentes de trânsito no período da quarentena – causa da morte da maioria dos doadores –, os maiores centros de transplante do país estão impactados pelo novo coronavírus.
A redução também foi registrada em São Paulo. O coordenador médico do programa de transplante de órgãos sólidos do Hospital Israelita Albert Einstein, José Eduardo Afonso Júnior, diz que os números da Central Estadual de Transplantes mostram que, em abril deste ano, houve uma redução de 29% no número de doadores, caindo de 97 para 79, na comparação com o mesmo período em 2019.
O médico lembra que nem toda morte encefálica registrada é convertida em doação de órgãos, pois é precisa a aprovação da família. O doador não pode ter tido tenha nenhuma infecção grave ou câncer, por exemplo.
Num cenário de pandemia, a recomendação da ABTO é que para que todos os doadores e receptores, mesmo os assintomáticos, sejam considerados de risco. “Uma pessoa com Covid-19 não será doadora de órgão. No caso de quem recebe, em caso positivo da doença, o transplante é postergado por 28 dias”, diz Stucchi.
A equipe médica deve verificar se houve contato com casos suspeitos, verificar a existência de sintomas e realizar testes do tipo RT-PCR (reação em cadeia de polimerase em tempo real).
Afonso Júnior diz que, além do teste, para dar segurança à decisão, os médicos também realizam uma tomografia, para assim eliminar o risco de um falso negativo. Entretanto, caso haja divergência nos resultados, prevalece a indicação feita pelo teste.
O ministério e a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) emitiram recomendações sobre os cuidados que devem ser tomados no período de pandemia, desde a triagem de doadores e receptores ao acompanhamento do transplantado e uso de equipamentos de proteção usados pelos profissionais.
O médico do Einstein afirma que a testagem de doadores e pacientes tem sido a regra em São Paulo e que houve a mudanças na realização da triagem de pacientes, para não colocá-los no mesmo espaço de quem tem sintomas respiratórias. O acompanhamento de quem já fez o transplante tem sido feito por telemedicina.
Afonso Júnior diz que quem for chamado a receber um transplante durante este período não deve ter medo, pois todas as equipes estão trabalhando com cuidado para garantir a segurança do procedimento. “Se a gente convoca um paciente para fazer um transplante, significa que avaliamos o caso do doador e do receptor e consideramos que é seguro e indicado fazer o transplante naquele momento”, diz.
O Ministério da Saúde afirma que trabalha para aumentar o número de testes para garantir a segurança às doações e transplantes e disponibilizar um formulário online para a notificação de doadores e ou receptores com Covid-19.