Terça-feira, 30 de setembro de 2025
Por Rogério Pons da Silva | 15 de julho de 2025
Esta coluna reflete a opinião de quem a assina e não do Jornal O Sul. O Jornal O Sul adota os princípios editorias de pluralismo, apartidarismo, jornalismo crítico e independência.
(Nunca desista dos seus sonhos)
Complemento do prof. Carlos Rey
A história de Zequinha é, sem dúvida, um dos exemplos mais emblemáticos de quando a vida e o destino tentam seguir por caminhos diferentes.
Filho do boticário e ex-militar José Alacrino, Zequinha enfrentou desde cedo a pressão para seguir a carreira de médico. Sua mãe, dona Justina, profundamente religiosa, sonhava em vê-lo padre. Mas o menino José Gomes de Abreu, nascido em 1880 na cidade de Santa Rita do Passa Quatro, interior de São Paulo, só queria saber de uma coisa: música.
Na tentativa de corrigir o que os pais viam como uma ilusão infantil, Zequinha foi enviado a um seminário com regime de internato. O destino, porém, começou a mostrar sua força: a instituição contava com uma estrutura musical sólida, com professores renomados, instrumentos variados e até uma banda marcial. Em pouco tempo, o jovem se destacou pelo talento e habilidade com os instrumentos. Após quatro anos, formou-se como regente musical, elogiado pelos mestres pela dedicação e sensibilidade artística.
De volta para casa, decidiu que não seria padre. Casou-se aos 18 anos com Durvalina Brasil, de apenas 14. Tão jovem e ingênua, Durvalina foi encontrada no alto de uma jabuticabeira no dia do casamento, comendo os frutos da árvore. O casal teve oito filhos, todos com nomes iniciados pela letra “D”: Dalva, Durval, Demetval, Dinorah, Dayse, Dorival, Diva e Dirce — uma referência do músico à nota “Dó”, o início de toda melodia.
Apesar de seu talento, Zequinha precisou trabalhar na botica do pai para sustentar a numerosa família. Mas nos fins de semana, era nas festas que ele encontrava sua verdadeira vocação. Tocava suas composições em salões de baile, recebendo elogios e gorjetas. Quando o ritmo da festa caía, os garçons pediam:
— Zequinha! Toca aquela que faz o pessoal dançar igual a tico-tico na quirera!
Era sua composição predileta. A música animava os casais, movimentava o salão, impulsionava pedidos no bar e aumentava as gorjetas dos garçons. Quando enfim decidiu registrar oficialmente a canção com o nome Tico-Tico na Quirera, teve uma decepção: o título já estava registrado por outra pessoa.
Desolado, encontrou-se com um amigo paraibano num bar e contou o ocorrido. Para animá-lo, o amigo disse:
— Zequinha, na minha terra, a gente chama quirera de fubá!
E foi assim que nasceu Tico-Tico no Fubá, uma das músicas brasileiras mais gravadas em todo o mundo. A composição alcançou fama internacional, integrando trilhas sonoras de diversos filmes hollywoodianos nos anos 1940, como Dance, Girl, Dance. Em 1947, foi eternizada na voz de Carmen Miranda no filme Copacabana.
Zequinha de Abreu venceu as imposições da vida e seguiu o caminho que seu destino havia traçado: o da música.
Obrigado, Zequinha, por esse presente eterno. E por mostrar que o sonho, quando é verdadeiro, pode ser mais forte que qualquer obstáculo.
Rogério Pons da Silva
Empresário industrial e jornalista
rogerio@sidermetal.com.br
Esta coluna reflete a opinião de quem a assina e não do Jornal O Sul.
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