Domingo, 11 de maio de 2025
Por Ali Klemt | 11 de maio de 2025
Esta coluna reflete a opinião de quem a assina e não do Jornal O Sul. O Jornal O Sul adota os princípios editorias de pluralismo, apartidarismo, jornalismo crítico e independência.
Há quem julgue o Dia das Mães apenas mais uma data comercial – o que não deixa de ser verdade, se você não tiver mãe. Como ainda desconheço ser humano gerado a partir de Inteligência Artificial (ainda), precisamos encarar a verdade inabalável: esse é, sim, o dia mais aguardado do ano. Toda a população mundial tem mãe. Qual tipo de mãe, aí já fica difícil precisar. Porém, tenho para mim a convicção de que a esmagadora maioria das mulheres que geraram os bilhões de seres humanos deste mundo tentaram fazer o seu melhor.
Enquanto Natal e Páscoa são aguardados com ardor pelas crianças, comerciantes e por quem ama um feriadão, o dia das mães é esperado, ansiosamente, adivinhem por quem? Nós, mães, com a esperança de um dia de pleno reconhecimento pelo amor infinito e dedicação sem fim. É o único momento em que temos quase certeza (quase) de que seremos efetivamente lembradas pelos nossos esforços contínuos, pelo choro escondido, pela culpa constante e pelo orgulho desmesurado. Não há nada, absolutamente nada, que se compare ao sentimento da maternidade.
Desde o momento em que você ouve a primeira batida do coração, você sabe que sua vida jamais será a mesma. Você sabe que passou a viver por outra pessoa e, quem sabe, até mesmo a morrer por ela. Porque, por mais clichê que esta afirmação pareça, ela é a mais pura verdade. Um filho brotado de dentro de si é uma extensão, uma parte indissolúvel de nós mesmas – e não se trata de uma análise apenas romântica, mas científica: mães passam a carregar células fetais, em um processo que se chama microquimerismo. É científico: você levará um pouco do seu filho dentro de si para sempre. E isso até mesmo em caso de perda gestacional. As marcas da maternidade são indissolúveis para a mulher.
Eu compreendo, verdadeiramente, quem opta por não encarar a maternidade. Porque ser mãe exige abnegação, entrega, altruísmo e humildade para compreender que nada compreendemos. Para entender que viemos a esse mundo para gerar, nutrir, acalentar, agasalhar, proteger, educar, brigar, restringir, incentivar, fortalecer e, finalmente, abrir mão para deixar ir. Ser mãe é a mais fundamental função da mulher para a criação de um mundo melhor, mas, também, o esforço menos reconhecido neste mesmo mundo. Por que será? Será porque parece tão natural que deixamos de valorizar o que é essencialmente humano? Essa me parece uma reflexão urgente, profunda e necessária, em um dos momentos mais cruciais da humanidade: a inevitável travessia para o mundo da substituição de pessoas por inteligência artificial, nos mais variados setores. Porque, senhores, isso vai acontecer. Já está acontecendo, e só não ver quem não quer. Empregos e funções e conhecimento técnico especializado, tudo isso cairá em pouco tempo. E talvez assim, talvez somente agora, perceba-se que é o intangível que nos faz, enfim, humanos – e, portanto, insubstituíveis.
Onde entram as mães nessa história? Porque é nisso que somos graduadas. Mestras. Doutoradas. Mas sem títulos, sem carga horária comprovada, sem diploma comprobatório ao final. E tudo na medida da experiência vivida ao longo do crescimento dos filhos. É uma qualificação que leva tempo. Anos. Décadas. E que, ao final, talvez nem se saiba se está pronta ainda. Porque ser mãe não é apenas substantivo: é processo, aprendizado, função e responsabilidade.
Eu, por exemplo, estou apenas na pós-graduação da maternidade. Após a infância do meu primeiro filho, chegamos, agora, ao início da adolescência. Apenas o início, mas aquele momento em que você é jogada em uma dimensão após resetaram o jogo. Você havia evoluído para o personagem da mãe livre e bem resolvida, pronta para novos desafios. E eles vieram. Há uma nova “skin” a encarar: a da mãe chata, podadora e, inevitavelmente, perdida no bosque das emoções e dos hormônios alheios. E, como aquela pós-graduação que você decide fazer porque se deu conta que a todos aqueles anos de faculdade parecem não ter servido para nada quando você encara a realidade do mercado, a adolescência nos confronta com um mundo todo novo a enfrentar. Mas, calma: ainda vem todo o resto da adolescência, festas, bebidas, risco de drogas, de amizades indesejadas, escolhas erradas de amigos, términos de namoro. A direção perigosa. A escolha profissional. Sim, ainda tem o nosso Mestrado e Doutorado pela frente.
É preciso ser forte para ser mãe. Ou talvez seja a maternidade que nos torne fortes. Tão fortes a ponto de absorver uma responsabilidade gigantesca e demonstrá-la, diariamente, através de uma entrega tão grande, porém tão invisível, que nos faz aguardar, ansiosamente, pelo único dia do ano em que o mundo se vê praticamente obrigado a parar para nos celebrar. E é por isso que aguardamos ansiosamente por essas 24 horas de reconhecimento.
E é pouco. É muito pouco. Contudo, essa é a maternidade: uma jornada de crescimento pessoal que se desenrola enquanto aprendemos a ser mães para, enfim, criar filhos bem o suficiente para que possam viver os outros 364 dias do ano sem nós.
Ninguém disse que era fácil. Mas, só quem vive sabe: é a experiência mais incrivelmente humana, profunda e bonita que se pode vivenciar.
Ali Klemt
@ali.klemt
Esta coluna reflete a opinião de quem a assina e não do Jornal O Sul.
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