Domingo, 19 de outubro de 2025
Por Redação O Sul | 17 de janeiro de 2019
Como quase toda economia emergente e jovem, o Brasil sempre se beneficiou do bônus demográfico – ou seja, da maior quantidade de brasileiros que entrava no mercado de trabalho em relação à que deixava.
Por anos, essa combinação garantiu uma contribuição ao ritmo de crescimento econômico e até ajudou a custear a aposentadoria dos mais velhos. Agora, o envelhecimento dos brasileiros pode impor restrições ao crescimento da economia no médio e longo prazo e pressionar ainda mais as contas públicas.
De forma geral, a entrada de novos trabalhadores no melhor momento do bônus demográfico contribuía anualmente com 0,5 ponto percentual para o crescimento do PIB (Produto Interno Bruto), segundo cálculos da FGV (Fundação Getulio Vargas). Em tese, o aumento de pessoas no mercado de trabalho ajuda a elevar a produção do País, o que colabora para melhorar o desempenho da atividade econômica.
Agora, com processo de encerramento do bônus demográfico, os analistas apontam que começa a ficar mais urgente a necessidade de o País investir em uma agenda de produtividade, se quiser colher um crescimento mais acelerado, e garantir bons salários para que os trabalhadores possam custear os futuros aposentados.
“De um lado, há o desafio da questão fiscal e previdenciária. E de outro, o aumento necessário da produtividade do trabalhador brasileiro. Tudo isso está relacionado com o fim do bônus demográfico”, afirmou o diretor da FGV Social, Marcelo Neri
Os primeiros sinais do encerramento do bônus demográfico já começaram a aparecer. Em 2018, de acordo com o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), a razão de dependência cresceu pela primeira vez, para 44,03. Ou seja, no ano passado, havia 44 pessoas dependentes para cada 100 pessoas em idade ativa. Em 2017, a razão era de 43,98.
O crescimento surpreendeu. O IBGE só esperava um aumento da razão de dependência em 2023. Para calcular o índice, o IBGE classifica como dependentes crianças e idosos, na sua maioria, enquanto a população em idade ativa engloba de forma geral a fatia de brasileiros com idade entre 15 e 65 anos. A previsão é de que a razão de dependência avance em todos os anos daqui em diante. Em 2060, deve chegar a 67,23.
Os movimentos demográficos costumam ser lentos, mas já era praticamente certo que o Brasil iria se deparar com esse tipo de questão. A expectativa de vida aos nascer do brasileiro cresce desde 1940, quando era de 45,5 anos. Em 2017, chegou a 76 anos.
“Nos últimos anos, houve uma diminuição da mortalidade e aumento da expectativa de vida. A chance de uma pessoa envelhecer é cada vez maior”, destacou o demógrafo do IBGE Marcio Minamiguchi. “Hoje, é quase certo que alguém vai se tornar um velhinho no futuro.”
A nova equipe econômica liderada por Paulo Guedes tem se valido do argumento de que o envelhecimento da população é uma das razões para que o País faça uma reforma da Previdência. Por ora, o governo já sinalizou que deve propor um regime de capitalização com a adoção de idade mínima para aposentadoria.
Desafio para o crescimento
Agora, sem o “motor” do bônus demográfico, o País se torna dependente de outros estímulos de crescimento, sobretudo do aumento da produtividade do trabalhador. E o desafio é grande porque o País está estagnado. Um trabalhador nos dias de hoje produz o mesmo que um profissional dos anos 1980, segundo os economistas.
A agenda para melhorar a produtividade é bastante grande. Nela, por exemplo, estão pautas que passam por melhora da educação, aprovação de reformas importantes para melhorar o ambiente de negócios do País, além de investimento em inovação e infraestrutura.
O avanço da produtividade também se torna fundamental para garantir a sustentabilidade do sistema de aposentadorias do Brasil. Trabalhadores mais produtivos recebem melhores salários e, consequentemente, contribuem mais com a Previdência. As projeções do governo indicam que o déficit da Previdência deverá ser crescente. Neste ano, o rombo estimado é de R$ 300 bilhões.