Sábado, 18 de outubro de 2025
Por Redação O Sul | 30 de março de 2018
O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) afirmou que processará a Netflix por causa do seriado “O Mecanismo”. A declaração foi feita no ato de encerramento de sua caravana pelo Sul do Brasil, na quarta-feira (28), em Curitiba (PR). Original do serviço de streaming, a série é inspirada em acontecimentos da Operação Lava-Jato, da qual Lula que é réu.
Em “O Mecanismo”, nem Lula nem Dilma Rousseff são nominalmente citados. No entanto, para quem acompanha o desenrolar da operação deflagrada há quatro anos, é fácil reconhecer os petistas nos personagens João Higino e Janete Ruscov. No Twitter, Dilma criticou a série, chamada por ela de “O Mecanismo de Fake News”. “A mentira tem perna curta. E, agora, a mentira ganha as telinhas da tevê: O mecanismo, na Netflix”, escreveu a petista.
A militância do partido também reagiu contra o seriado, alegando que ele deturpa os acontecimentos reais e convocando o cancelamento da assinatura da rede de streaming.
O presidente nacional do PTB, Roberto Jefferson, aproveitou a tensão para ironizar o protesto petista. “Com uma pessoa como Dilma fazendo campanha para boicote à série ‘O Mecanismo’, desconfio que a produção vai bater todos os recordes mundiais e planetários de audiência”, escreveu em sua conta no Twitter.
Polêmica
Em nota divulgada no último domingo (25), Dilma afirmou que o criador da série, José Padilha (diretor de Tropa de Elite) é um “criador de notícias falsas”. Ela diz que “a propósito de contar a história da Lava-Jato, numa série ‘baseada em fatos reais’, o cineasta José Padilha incorre na distorção da realidade e na propagação de mentiras de toda sorte para atacar” a ela mesma e ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
“O Mecanismo” altera todos os nomes de personagens, empresas e instituições que fazem parte da história real. Por exemplo: Higino é o ex-presidente Lula, Janete é Dilma e a Petrobras se torna PetroBrasil na série. Apesar das mudanças, fica claro a quem ou o que se refere cada uma dessas mudanças. Por outro lado, no início de cada episódio é exibido um alerta de que esta é uma obras de ficção baseada em fatos reais.
Um dos principais pontos da reclamação de Dilma é o fato de uma frase sobre “estancar a sangria” (expressão usada para falar sobre barrar as investigações da Lava-Jato) ter sido colocada na boca de Higino na série, sendo que na vida real quem teria dito isso foi o senador Romero Jucá (MDB-RR), um dos articuladores do impeachment de Dilma.
Padilha já se pronunciou e deixou claro que não dirigiu nem roteirizou especificamente o episódio em que a frase foi dita, embora tenha checado os diálogos. À Folha de S.Paulo, o produtor afirmou que “Jucá não é dono dessa expressão” e que, portanto, roteiristas estão livres para usá-la.
“‘O Mecanismo’ é uma obra-comentário. Na abertura de cada capítulo está escrito que os fatos estão dramatizados, se a Dilma soubesse ler, não estaríamos com esse problema”, afirmou o cineasta. Padilha diz que a série representa um problema sistêmico de corrupção, que não seria exclusivo do PT, mas de outros partidos e setores.
“Esse é um debate boboca, mas que revela algo: se a principal reclamação é o uso desta expressão, pode-se imaginar que o público petista está achando difícil negar todo o resto. Nada a dizer quanto aos roubos e desvios de verba públicas praticados por Higino e Tames com os empreiteiros…? Hummm… Interessante”, disse ele.