Domingo, 11 de maio de 2025
Por Redação O Sul | 14 de agosto de 2019
O Facebook disse que suspendeu a “análise humana” de mensagens de voz gravadas, tornando-se a mais recente plataforma tecnológica a evitar essa prática, depois da reação negativa de críticos sobre questões de privacidade. A rede social afirmou ter interrompido “a análise humana de áudio mais de uma semana atrás”.
A declaração foi feita pouco depois de a Bloomberg afirmar que a empresa vinha usando trabalhadores terceirizados para transcrever determinados áudios e que algumas equipes de funcionários dessas empresas tinham ouvido “conteúdo vulgar” e estavam pouco à vontade com essa prática.
O Facebook afirmou que sua prática de examinar áudios foi planejada apenas para ajudar a melhorar produtos, incluindo o sistema de inteligência artificial destinado a transcrever mensagens de pessoas que autorizaram a empresa a fazer isso com mensagens que compartilharam no aplicativo Messenger.
A empresa segue os passos da Apple e do Google, que afirmaram que suspenderiam a transcrição de gravações feitas com o uso de seus assistentes digitais Siri e Google Assistant, respectivamente.
O Facebook informou que os trechos de áudio foram disfarçados para que a identidade dos envolvidos não fosse revelada às pessoas que transcreviam as conversas. Acrescentou que nunca fez escuta de microfones sem a
concordância explícita do usuário.
Notificação
A Senacon (Secretaria Nacional do Consumidor), órgão do Ministério da Justiça e Segurança Pública, notificou o Facebook para que preste esclarecimentos sobre a transcrição áudios de usuários de seus serviços, como o Messenger. A Senacon quer que a empresa americana esclareça sobre se de fato essa escuta foi feita e ainda se ela atingiu usuários brasileiros da rede social.
A empresa tem dez dias para responder a notificação. De acordo com a resposta, esclarece Luciano Timm, titular da Senacon, seria decidido se será aberta uma investigação sobre o caso.
“De acordo com o retorno, poderemos abrir uma investigação e até um processo contra a empresa devido a violação de privacidade do consumidor”, explica Timm, informando que a multa pode ser de até R$ 9 milhões.
O Facebook já é investigado pela Senacon em outros casos envolvendo o tratamento de dados dos consumidores. Entre os casos sob investigação estão o de invasão de contas de usuários brasileiros por hackers para a coleta de dados pessoais; o compartilhamento irregular de dados de usuários, o que teria beneficiado a empresa Cambridge Analytica; a invasão de contas de usuários brasileiros no aplicativo WhatsApp, com exposição de conversas a terceiros sem autorização de acesso a seu conteúdo.
Nesta quarta-feira (14), o principal regulador do Facebook na União Europeia, a Comissão de Proteção de Dados da Irlanda, anunciou que vai investigar como a empresa manipulou dados na transcrição de gravações de áudios de usuários do Messenger.
O Facebook confirmou, na terça-feira (13) que vinha transcrevendo os áudios dos usuários e disse que não vai mais fazê-lo. “Pausamos a revisão de áudios por trabalhadores há mais de uma semana”, afirmou a empresa.
A rede social disse ainda que os usuários afetados haviam escolhido, no Messenger a opção de ter seus áudios transcritos. Segundo o Facebook, os funcionários terceirizados estavam verificando se a inteligência artificial da rede estava funcionando corretamente e interpretava direito as mensagens, cujos usuários não eram identificados.
Amazon e Apple também já foram questionadas por violar a privacidade de usuários ao coletar trechos de áudios de seus assistentes de voz e submetê-los a verificações por funcionários terceirizados. Segundo o Facebook, a transcrição dos áudios foi travada justamente após os questionamentos sobre as outras companhias tecnologia.