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Por Redação O Sul | 23 de julho de 2018
Atribuindo a decisão à paralisação dos caminhoneiros e à piora das condições econômicas globais, o FMI (Fundo Monetário Internacional) revisou para baixo a previsão de crescimento do Brasil em 2018. A estimativa, agora, é que o país cresça 1,8% neste ano – antes, esse número era de 2,3%.
O anúncio, realizado nesta segunda-feira, interrompe uma melhora nas perspectivas da economia brasileira, segundo o Fundo: desde o ano passado, o órgão vinha revisando suas previsões para o país para cima, saindo de uma expectativa inicial de 1,5% e chegando a 2,3% três meses atrás.
O diretor do Departamento de Hemisfério Ocidental do FMI, Alejandro Werner, afirmou que a paralisação dos caminhoneiros, em maio, que durou cerca de dez dias, foi um fator “muito importante” nessa revisão. Também pesou a incerteza das eleições presidenciais – cujo resultado ainda pode alterar as previsões de crescimento para baixo.
O FMI voltou a destacar a necessidade de uma reforma da Previdência no Brasil, considerada “uma medida fundamental” rumo ao equilíbrio fiscal. Werner afirmou, entretanto, que o País deve manter seu ritmo de crescimento moderado, puxado pelo consumo e pelo investimento privados. Para 2019, o fundo manteve a previsão de 2,5% de crescimento.
Na última semana, a equipe econômica do governo Temer confirmou que a projeção para o PIB foi revisada de uma alta de 2,5% para 1,6% neste ano, por causa da paralisação dos caminhoneiros.
A deterioração de expectativas também fez o Ministério da Fazenda cortar a previsão para a expansão da atividade em 2019 de 3,3% para 2,5%.
América Latina
Em termos regionais, o FMI avalia que a atividade na América Latina continua a se recuperar, porém ainda em um quadro de dificuldades. De acordo com o fundo, após um crescimento de 1,3% na região em 2017, deve haver avanço de 1,6% em 2018 e de 2,6% em 2019.
Esse resultado é mais modesto que as projeções de abril, que eram de +2,0% e +2,8%. As projeções repetem as divulgadas na semana passada pelo fundo.
“Embora o crescimento tenha acelerado em alguns países, a recuperação tornou-se mais dura para algumas das principais economias, por causa de pressões do mercado em um nível global, amplificadas por vulnerabilidades específicas dos países”, declarou Werner.
Em sua análise, o dirigente considerou que as condições para a demanda global e as finanças tornaram-se mais frágeis, com riscos de baixa maiores e em um quadro de aperto gradual das condições financeiras pelo mundo.
“Uma escalada nas tensões e conflitos comerciais aumenta os riscos de baixa para a perspectiva atual, inclusive por meio de seu impacto potencial sobre a incerteza e o investimento”, argumentou.
A Argentina, por sua vez, deve sofrer contração econômica no segundo e no terceiro trimestres deste ano. “O crescimento neste ano deve desacelerar para 0,4%, com recuperação gradual em 2019 e 2020, apoiada pela volta da confiança no âmbito do programa de estabilização apoiado pelo fundo”, argumentou Werner, citando que isso deve gerar um custo mais baixo de capital, inflação menor e demanda maior de exportações dos parceiros.
Já o Chile, na contramão, deve crescer 3,8% neste ano, acima da projeção anterior de 3,4%, diz o FMI, que cita a força da confiança das empresas e dos consumidores no país.
Caso mais grave é o da Venezuela, que enfrenta “profunda crise econômica e social”. O PIB real do país deve encolher 18% neste ano e 5% em 2019, com queda forte na produção de petróleo e muitas distorções microeconômicas, em um quadro de “grandes desequilíbrios macroeconômicos”, diz o FMI.
Além disso, o Fundo projeta inflação e 1.000.000% no fim deste ano, comparando o quadro no país à Alemanha de 1923 ou ao Zimbábue do fim da década passada. A entidade prevê, ainda, a disseminação de efeitos negativos do quadro venezuelano em países vizinhos, sem entrar em detalhes.
Em relação ao México, o fundo diz que o quadro é de dúvidas por causa do futuro do Tratado Norte-Americano de Livre Comércio (Nafta, na sigla em inglês), que os EUA renegociam com o país e o Canadá. O PIB mexicano deve acelerar e avançar 2,3% em 2018 (de +2,0% em 2017), disse Werner, porém há incertezas para os investimentos e, em menor medida, para o consumo privado.
“Um compromisso claro com a responsabilidade fiscal e a contínua redução do nível da dívida pública pelo governo recém-eleito serão cruciais para preservar a estabilidade macroeconômica e financeira”, afirmou o FMI, ao fazer uma menção ao presidente eleito, Andrés Manuel López Obrador.