Terça-feira, 04 de novembro de 2025
Por Redação O Sul | 26 de julho de 2020
				Em 24 de março, quando o Brasil registrava 46 mortos e 2.201 infectados pelo novo coronavírus, o então ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, anunciou a compra de 22,9 milhões de testes para Covid-19. Em meio a divergências com o presidente Jair Bolsonaro, Mandetta acabou exonerado em 16 de abril. O substituto, Nelson Teich, ampliou a meta. Disse que o governo compraria 40 milhões. Teich deixou o ministério em 15 de maio, por discordâncias com Bolsonaro sobre a cloroquina. Seu sucessor interino, general Eduardo Pazuello, foi além. Prometeu testar 24% da população — 50 milhões —, 12% pelo método mais preciso, o RT-PCR. No mundo real, as contas são outras. Segundo o último boletim epidemiológico da pasta, entre 5 de março e 21 de julho foram realizados 5 milhões de testes RT-PCR.
Neste domingo (26) fez cinco meses que a Covid-19 chegou ao Brasil. Nestes 150 dias, mais de 2,3 milhões de brasileiros foram infectados e para além de 85 mil morreram, números que levaram o país ao segundo lugar no ranking macabro da pandemia, atrás dos EUA. Na maioria dos estados, os casos estão em aceleração ou estáveis em altos patamares. Neste domingo, só cinco das 27 unidades da Federação registravam queda. Sem a testagem maciça, caminha-se às cegas, pois não se consegue rastrear a doença para isolar os infectados e monitorar seus contatos. Doentes ficam por aí nas ruas, no transporte público, espalhando o vírus e dificultando uma retomada sensata e racional das atividades.
O Brasil é um dos países que menos testam no mundo. Um termômetro disso é a taxa de resultados positivos no total de testes (quanto mais se testa, mais se previne, e maior a proporção de negativos). Para a OMS, o ideal é que os positivos fiquem abaixo de 5%. No Brasil são 66,3%, segundo a plataforma Our World in Data. Superamos em muito nações como Alemanha (0,5%), Itália (0,5%), Coreia do Sul (0,5%), EUA (8,6%) e Índia (11,1%). Países que têm mantido a epidemia sob controle, como Coreia do Sul ou Alemanha, promoveram testagem em larga escala, além de terem adotado medidas para frear o contágio, como distanciamento, uso de máscaras e higienização .
O governo precisa se empenhar para aumentar a testagem da população, como tantas vezes anunciado. Sem testes suficientes, todas as iniciativas caem no vazio. Há dez dias, ao comentar as mortes pela Covid-19, em transmissão ao vivo numa rede social, Bolsonaro alegou não haver como reduzir os óbitos. “Diminuir como?”, indagou. Um caminho possível é seguir o exemplo dos países que tiveram êxito no combate à doença, com testagem maciça, isolamento dos infectados e respeito à Ciência. O oposto do que o governo tem feito nestes cinco meses.
Notificação obrigatória
O Ministério da Saúde tornou obrigatória a notificação de todos os resultados de testes para detecção da Covid-19, sem eles positivos, negativos ou inconclusivos.
Laboratórios das redes pública e privada de todo o País deverão apresentar o resultado do exame no prazo de 24 horas, contado a partir da conclusão da análise, mediante registro e transmissão das informações na rede nacional de dados em saúde.
Os laboratórios têm 15 dias para fazerem as adequações necessárias. O descumprimento da determinação poderá ser enquadrado como crime de infração sanitária, que prevê penalidades como multas e até mesmo a interdição do estabelecimento.
Para a Sociedade Brasileira de Análises Clínicas, a medida é necessária para agilizar as notificações. “Quando começou a epidemia da Covid, saiu uma normativa exclusiva para Covid, onde os laboratórios deveriam informar ao município ou ao estado, e depois o estado faria o procedimento com o Ministério da Saúde. Talvez, o que seja bom nesse momento é que seja direto para o Ministério da Saúde, tenha um único caminho”, explica a vice-presidente da associação, Maria Elisabete Menezes.