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Por Redação O Sul | 26 de abril de 2016
Com a chegada do frio, as doenças respiratórias aumentam. E uma em especial tem chamado a atenção de especialistas por causa do difícil diagnóstico e da gravidade do problema (um mal incapacitante e até fatal). Essa é a HPTEC (hipertensão pulmonar tromboembólica crônica). A patologia provoca a alteração da pressão do sangue nas artérias pulmonares, dando origem a coágulos sanguíneos, que, com o tempo, ficam fibrosos.
Apesar da complexidade e da gravidade da sua evolução, a HPTEC também apresenta os sintomas das doenças respiratórias mais comuns – falta de ar e fadiga – não sendo reconhecida por boa parte dos profissionais da saúde.

Penumologista Caio Fernandes. (Crédito: Divulgação)
“O paciente sente falta de ar, taquicardia, hemoptise [expectoração com sangue], síncope [desmaios], dor toráxica e tosse. Exame clínico pode acusar hiperfonese de segunda bulha [um barulho diferente no coração], edema periférico [paciente inchado], veia jugular saltada e o fígado é dilatado”, explicou o pneumologista Caio Julio Cesar dos Santos Fernandes.
Dentre os exames para confirmar o diagnóstico, destacou o especialista, estão o cateterismo cardíaco, que aponte qual a pressão da artéria pulmonar, o que pode identificar a hipertensão pulmonar, além de um exame de imagem que determine a embolia pulmonar, e para saber se ela é crônica, é necessário saber se o paciente não usou anticoagulantes por três meses.
“Essa é uma doença para ser tratada em centros de referência”, adiantou o Fernandes. E o tratamento básico é a cirurgia. “Sempre considere a cirurgia para o paciente”, defendeu o médico.
Novo tratamento já foi criado.
Entretanto, para os pacientes que não necessitam de uma intervenção invasiva a Bayer desenvolveu o Adempas. O novo medicamento resulta de 12 anos de pesquisas da empresa sobre a eficiência da droga sintética riociguate, e já está disponível no Brasil. Ele pode ser adquirido através de laboratórios especializados. O valor do tratamento, ainda alto para os padrões nacionais – o custo é de 13 mil reais ao mês – deverá, no futuro, ser subsidiado pelo Estado.

Cardiologista Gisela Martina Bohns Meyer. (Crédito: Divulgação)
Segundo a coordenadora do Serviço de Hipertensão Pulmonar da Santa Casa de Misericórdia de Porto Alegre, cardiologista Gisela Martina Bohns Meyer, já um protocolo no Ministério da Saúde para viabilizar o acesso às medicações da hipertensão pulmonar. A adição da HPTEC a esse protocolo é uma questão de tempo. “Esse protocolo ainda não atende às necessidades dos pacientes, mas o nosso Ministerio da Saúde prevê que ele vá atender a esse doentes. Esperamos que a HPTEC seja incluída nesse protocolo para que todos os pacientes, independente de serem ricos ou pobres, possam ter acesso à medicação”, projetou a médica.
Estudos clínicos.
Gisela esteve participou dos que estudos determinaram a eficácia do medicamento em seis pacientes no Rio Grande do Sul, na Santa Casa de Porto Alegre. Mais oito portadores da doença foram avaliados em centros de referência em São Paulo e no Rio de Janeiro, completando o total de 14 brasileiros entre as 261 pessoas analisadas em todo o mundo. Segundo a médica, foi concluído que o riociguate é o primeiro medicamento que teve eficácia clínica para a doença. “A medicação é segura para a população. É a primeira terapia com benefício prolongado”, registrou.
Conforme Gisela, os pacientes que usaram os compridos de Adempas desde o início do estudo, há 12 anos estão utilizando-o até hoje, diariamente. E usou como como exemplo de êxito da medicação seu paciente de cerca de 40 anos seu que atingiu a classe funcional (grau de limitação física causada pela doença) grau 3 regrediu ao grau 1 ao longo do tratamento.
“Ele foi sendo cada vez menos afetado pela doença, sem sintomas e sem a série de limitações que apresentava. Não sou mais oxigênio e foi reinserido no mercado de trabalho. Obter medicação e tratamento possibilitou a ele mais do que a melhoria da qualidade, ele foi devolvido à sociedade”, expôs.
Novo ânimo para pacientes.

Paula Menezes, presidente da Abraf. (Crédito: Divulgação)
O novo ânimo trazido pelo Adempas às vidas dos doentes foi comemorado pela presidente da Abraf (Associação Brasileira de Amigos e Familiares de Portadores de Hipertensão Pulmonar), Paula Menezes, que teve a mãe acometida pela hipertensão pulmonar, no entanto a falta de um diagnóstico preciso fez com que a doença avançasse e a levasse à morte.
Após a perda, Paula decidiu investir na criação de uma entidade que hoje leva esclarecimento, esperança, união e incetiva a mobilização do pacientes.
“Conviver com a hipertensão pulmonar é sofrido. É uma doença em que se precisa dar qualidade de vida e dignidade ao paciente”, descreveu, destacando o quanto a liberação do riociguate no mercado foi aguardada pelos membros da Abraf.

Paciente Mariana Oliveira. (Crédito: Divulgação)
“Tem gente que está pensando na gente para ajudar”, destacou Mariana Oliveira, que há dois anos teve uma embolia pulmonar. Entretanto, esse era foi seu primeiro sinal da hipertensão pulmonar. “Hoje, eu sou muito limitada pela doença. No dia a dia as pequenas coisas, como tomar banho, pentear o cabelo ficam mais difíceis”, relatou. “A doença é muito pouco conhecida, mas o que ela causa é muito grave. Por isso é muito importante passar informação para as pessoas poderem nos ajudar. É muito bom saber que há um medicamento para eu não sentir essa falta de ar que tenho.” “Os pacientes que tem essa patologia sofrem muito”, reforçou.
Mal desconhecido.
A HPTEC é quase uma desconhecida para 76% dos brasileiros,, segundo uma pesquisa da Abraf em parceria com a Bayer, feita com 2,1 mil pessoas, em sete capitais do Brasil, entre elas Porto Alegre. Foi identificado no levantamento que 64% dos gaúchos também não sabem da existência dessa patologia grave, que afeta de 1,6 mil a 8 mil pacientes no Brasil e até 40 pessoas por milhão em todo o planeta, independente do sexo e da idade – é doença é mais recorrente em pacientes em torno de 63 anos, mas há casos em todas as faixas etárias.
“Muitos pacientes têm a doença e não têm o diagnóstico, e morrem antes de saber dessa patologia”, ressaltou Gisela. “Os médicos têm de pensar que entre as doenças que causam falta de ar uma delas pode ser a HPTEC. Com um ecocardiograma e uma cintilografia é possível identificar a patologia”, orientou.
O valor do ar.

Médica e alpinista Karina Oliani. (Crédito: Divulgação)
Mesmo que a manutenção da vida exija ainda água, alimento e calor, entre outros elementos, a falta do ar pode provocar morte cerebral em 4 minutos. Muito mais rápido do que ficar sem comer – há relatos de pessoas que ficaram até 30 dias sem alimento –, ou ficar sem líquido, o que, em casos extremos, já foi registrado que é possível aguentar até cinco dias.
Por essa razão, as limitações físicas para respirar restringem agressivamente a vida dos pacientes. “Ter ar é uma prioridade máxima para qualquer ser vivo. Quem já perdeu o ar sabe que é a pior sensação do mundo. É um desespero. Por isso qualquer auxílio que se possa dar o paciente já é um grande alívio”, concluiu a especialista em medicina de emergência em áreas remotas e a terceira alpinista brasileira a escalar o monte Everest, Karina Oliani.
Sobre a Bayer.
A Bayer é uma empresa global focada em Ciências da Vida nas áreas de cuidados com a saúde humana e animal e agricultura. Atualmente a empresa disponibiliza o Adempas (riociguate) em 42 países e no lançamento da medicação no Brasil reuniu especialistas, pacientes e familiares de vítimas da doença para anunciar que mais um alternativa ao tratamento já etá no mercado. (Karen Espinosa)