Sexta-feira, 21 de novembro de 2025
Por Redação O Sul | 12 de maio de 2018
Primeiro oficial no comando do Ministério da Defesa desde a criação da pasta, há quase duas décadas, o general-de-exército Joaquim Silva e Luna relativiza o crescente protagonismo dos militares no atual momento político do Brasil. Ele afirma, entretanto, que os oficiais da reserva que lançaram pré-candidaturas foram chamados para participar desse processo.
“As pessoas que lançaram candidaturas na verdade foram buscadas, procuradas, estimuladas a participar”, diz sobre a participação mais expressiva de militares nestas eleições. “Não é mais o momento de se omitir”, avalia. Silva e Luna – que assumiu o comando do Ministério no dia 26 de fevereiro deste ano – cita o “elevado índice de credibilidade” das Forças Armadas e sua aceitação pela sociedade como razão para que a população comece a identificar nos militares os valores de que está carente.
Ele justifica nesse contexto a polêmica postagem do comandante do Exército, general Eduardo Villas Bôas, na véspera do julgamento do habeas corpus do ex-presidente Lula, que foi a público nas redes sociais expor como se posicionava a força terrestre nesse assunto. “Estamos inseridos na sociedade, e precisamos estar, ninguém veio de outro planeta, e esse tema da impunidade está deixando nossa gente vulnerável, com receio de que o crime compense”, afirma.
Primeiro escalão
Embora minimize qualquer protagonismo das Forças Armadas neste momento, os militares contam com dois representantes no primeiro escalão do governo Temer: o outro ministro é o general Sergio Etchegoyen, do GSI (Gabinete de Segurança Institucional), que integra o núcleo mais próximo do presidente da República. Silva e Luna foi empossado no comando da Defesa no fim de fevereiro, quando o então titular da pasta, Raul Jungmann, foi remanejado para o novo Ministério da Segurança Pública.
Há quase três meses no cargo, ele não foi efetivado no posto na esteira dos dez novos ministros nomeados por Temer há um mês. Mas o general afirma que não se incomoda com a interinidade, embora não diga o mesmo sobre as Forças Armadas. “A mim não incomoda, até porque a interinidade diz respeito a um espaço temporal, eu diria que todos os ministros em tese são interinos, porque a qualquer momento podem ser substituídos”, diz. Mas, complementa, “pode não soar bem para as três Forças Armadas, que talvez não fiquem confortáveis ao saber que o seu ministro não é um ministro, tem que ter um qualificativo de interino do lado dele”.
Do aval dos militares também depende a associação da Embraer à Boeing, uma transação sigilosa que segundo Silva e Luna, avançou nas últimas semanas em meio às negociações para garantir assento a um brasileiro no conselho de administração da terceira empresa a ser constituída, e os percentuais de 80% para a companhia americana e 20% para a fatia brasileira. “Os grupos de trabalho têm se reunido, há propostas mais diferenciadas, o que se busca logicamente é que tem que ser uma operação de ganha-ganha”.
Também cabe aos militares o comando da intervenção na segurança pública no Rio de Janeiro, delegada ao general interventor Walter Braga Netto, enquanto as tropas brasileiras executam decretos de GLO (Garantia da Lei e da Ordem) na capital fluminense e garantem ajuda humanitária aos refugiados venezuelanos em Roraima. O general que tem no currículo cursos de guerra na selva e de combate básico em Israel, que comandou uma brigada de infantaria na Amazônia e o batalhão de engenharia e construção em Roraima, tem uma percepção peculiar sobre o reconhecido desempenho das forças brasileiras em missões de paz das Nações Unidas no exterior.