Quinta-feira, 16 de outubro de 2025
Por Redação O Sul | 18 de outubro de 2017
O governo avalia mudar o comando do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social), atualmente presidido por Paulo Rabello de Castro, como uma forma de tentar agradar ao presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ). Nos dias que antecederam a votação da segunda denúncia contra Michel Temer na Casa, por obstrução da Justiça e organização criminosa, Maia demonstrou mal-estar com o Palácio do Planalto e buscou se descolar do governo, com foco na disputa eleitoral de 2018.
Ao mesmo tempo, o presidente da Câmara tem usado o discurso de que é preciso uma nova agenda para o País e, com isso, almeja maior protagonismo na condução das decisões econômicas. Esse é, de acordo com aliados do deputado, um dos motivos dos recentes atritos com o Planalto, que tiveram seu ápice no fim de semana, após a divulgação de vídeos da delação do operador financeiro Lúcio Funaro no site da Câmara. O episódio levou a um bate-boca público entre Maia e o advogado de Temer, Eduardo Carnelós.
Amigo de Temer, Rabello de Castro assumiu o BNDES em junho, após a saída de Maria Silvia Bastos Marques. À época, Maia tentou emplacar Luciano Snel, da Icatu Seguros, e ficou contrariado por não ter sido consultado sobre a escolha. Segundo auxiliares de Temer, a mudança no BNDES pode ser feita após a votação da denúncia, prevista para o fim deste mês no plenário da Câmara. Caso não haja acordo sobre o nome, a troca deve ser feita no início de 2018.
O presidente da Câmara nega que esteja pressionando o governo a trocar o presidente do BNDES. “Se o Palácio quiser trocar, que troque. Não queira colocar na minha conta”, afirmou Maia. “Se não fui consultado na primeira vez, não é agora que vou ser consultado”, disse. Em relação aos atritos com o Planalto, ele afirmou na terça-feira que “esse tema está superado”.
A assessoria do banco informou que não comenta o assunto. Oficialmente, o Planalto afirmou que não houve nenhuma negociação para a troca do presidente do BNDES. Em conversas reservadas, Rabello de Castro diz saber que não é unanimidade na equipe econômica e no Congresso, mas tem respaldo de funcionários da instituição. Aliados de Temer lembram, no entanto, que Rabello de Castro, filiado ao PSC, quer ser candidato em 2018 à Presidência da República.
De qualquer forma, interlocutores de Temer no Congresso afirmam que a ordem do governo é resolver todas as pendências de Maia a toque de caixa, principalmente em meio à tramitação da segunda denúncia. Nas palavras de um influente parlamentar ligado ao Palácio do Planalto, os pedidos de Maia devem ser atendidos.
Na semana passada, Maia também se incomodou com a manobra do governo para não votar a Medida Provisória 784 que, entre outros pontos, autoriza o Banco Central a firmar leniência dos bancos. Líderes orientaram a base a não dar presença na sessão em que a matéria seria votada no plenário da Câmara. O objetivo era deixar caminho aberto para acelerar a tramitação da segunda acusação contra Temer na Comissão de Constituição e Justiça.
Maia fez duras críticas ao governo e chegou a dizer que não aceitaria mais MPs (medidas provisórias). Na estratégia para acalmá-lo e atender a suas demandas, o Planalto deu aval para a substituição da MP por um projeto de lei.